Desde os primórdios, quando não existia tecnologia, o homem já buscava formas de combater os males que acometem o organismo, mesmo que os métodos fossem os mais inusitados. Um exemplo é a ventosaterapia, uma técnica com registros de mais de 6 mil anos, mas que hoje ainda tem adeptos.
Para quem não faz idéia do que é, assista ao divertido filme A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampire Killers), de 1967, dirigido por Roman Polanski, que também faz o papel do fiel discípulo Alfred. Ele acompanha o professor universitário Abronsius (Jack MacGowran), especialista em vampiros, até a Transilvânia, na Europa Central, para ambos aprenderem sobre vampiros e, se possível, combatê-los. No meio do caminho, há uma cena em que o professor se submete a ventosaterapia.
Segundo Vanessa de Souza Sacomano, biomédica especialista em acupuntura, de São Paulo, a ventosaterapia é uma modalidade complementar de tratamento por congestão local por meio do vácuo parcialmente fabricado em áreas ou pontos da acupuntura. "Isso estimula o sistema imune e promove a circulação sanguínea", explica.
Portanto, ao estimular os mesmos pontos usados na acupuntura, pode-se aliviar uma série de sintomas de doenças, como resfriados, tosse, gripe, bronquite, pneumonia, cólica, soluços, indigestão, enxaqueca, insônia, artrite, reumatismo, tensão muscular, lombalgia, torcicolo e bursite. Também é usada para tratar doenças como derrame cerebral, prisão de ventre, amidalite, laringite, faringite, gastrite, asma e tendinite, entre outras.
Ventosas
No início, sanguessugas e vários tipos de materiais cortantes eram usados para provocar sangrias, enquanto gomos de bambu e até chifres de boi serviam para puxar ou forçar a saída do sangue impuro e ativar a circulação local. Aprimorada pelos conhecimentos da medicina oriental, a técnica é hoje realizada por meio da pressão com copos de vidro ou de acrílico em áreas do corpo.
A especialista explica que os copos são aplicados nas costas e áreas do corpo com o auxílio de uma bomba de sucção ou válvula pneumática, que se acopla a esses copos por um bico de vedação e, ao puxar o êmbolo, ela se abre deixando o ar ser evacuado para fora do copo. Ao parar de puxar, há sucção imediata, vedando o vácuo no interior da ventosa.
Ao aplicar ventosas, começam as reações homeostáticas do corpo buscando compensar os seus desequilíbrios. À medida que a sucção produz o seu estímulo, há o aparecimento de dilatações capilares e vasculares, incluindo o extravasamento de fluidos do tecido profundo para a superfície da pele, onde o vácuo da ventosa está agindo.
Após alguns segundos, esta concentração de fluidos pode ser vista através da transparência do copo da ventosa como uma forte mancha avermelhada ou arroxeada. Dependendo do caso, podem aparecer manchas de diferentes tons. "Essa resposta pigmentar desaparece após três a quatro dias, e não há necessidade de parar o tratamento", diz Vanessa.
O horário ideal para a aplicação da ventosa é antes de dormir, pois nessa fase do dia a circulação sanguínea se torna mais superficial e a pele e o corpo entram em estado natural de repouso. Pode, inclusive, haver uma leve sonolência momentânea, chamada "fenômeno de fadiga". As ventosas podem ser aplicadas no corpo até uma vez por dia, mas geralmente a especialista indica uma vez por semana, dependendo do caso.
Resistência
Com esse sistema de tratamento, as ventosas atuam no interior do corpo e incentivam o organismo a separar do sangue os resíduos metabólicos e as toxinas residuais assimilados no dia-a-dia. "A pele, livre de resíduos, consegue uma boa resposta microcirculatória, o que resulta em melhor resistência às doenças", completa.
Contraindicação
O tratamento na gravidez, especificamente depois do primeiro trimestre, é contraindicado, principalmente a aplicação de ventosas no baixo ventre. Também deve ser evitado em casos de pacientes com doenças que causam sangramento ou hemorragias.
