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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Oposição apática alivia problemas de Dilma, avalia analista

Deveria ter sido um cenário de sonho para qualquer partido de oposição ¿um governo abalado por escândalos, ministros se demitindo semanalmente, uma economia em declínio e uma presidente parecendo às vezes estar sem contato com a realidade. Mas ao invés de aproveitar a ocasião, a oposição brasileira pareceu ter murchado diante de uma crise que assolou o governo Dilma Rousseff por vários meses e que resultou na demissão de cinco ministros. Isso tem ajudado o governo a escapar relativamente incólume e renovou uma crise de confiança na aliança de oposição centrista, fora do poder há quase uma década, e que parece mais longe de voltar ao governo do que nunca.


"A oposição tem sido incompetente, na melhor das hipóteses. Está dividida e completamente divorciada do grosso da população", Gustavo Fruet, outrora parlamentar do PSDB recém-migrado para o partido da coalizão governista PDT para concorrer a prefeito de Curitiba no ano que vem. Dilma e a coalizão governista venceram com facilidade as eleições de outubro passado, ajudados por uma economia em ascensão e a enorme popularidade de seu mentor Lula. Os partidos da oposição conquistaram menos de 30 por cento das cadeiras do Congresso e desde então só decaíram, perdendo liderança, unidade e mais assentos no Congresso à medida que um número crescente de legisladores deserta.

Como resultado, Dilma tem sido capaz de fechar feridas em sua dividida coalizão e se concentrar em uma economia que sente o rescaldo da turbulência financeira global. Também pode significar uma ameaça ainda menor da oposição ao PT e seus aliados em pleitos locais no ano que vem e na corrida presidencial de 2014. O PSDB é amplamente visto como merecedor do crédito por ter iniciado a recuperação econômica brasileira nos anos 1990 sob Fernando Henrique Cardoso, que estabilizou a inflação e introduziu reformas que agradaram aos mercados.

Desde que perdeu a presidência para Lula em 2002, entretanto, a agremiação sofre para se conectar a classes em rápida expansão que se beneficiaram do crescimento econômico e dos generosos programas sociais de Lula, que teve sucesso em apresentar seus antagonistas como elitistas que privatizariam estatais e apoiariam grandes corporações.

Falta de líderes
Isso deveria mudar com Aécio Neves, visto como candidato natural por muitos após a última derrota de José Serra, mas seu desempenho até agora decepcionou ¿ele quase desapareceu da arena pública, limitando-se a discursos ocasionais de seu assento no Senado e uma coluna semanal em um grande jornal. "Aécio provavelmente é a maior decepção da oposição. A ideia de que o PSDB, com sua experiência de governo, iria liderar a oposição foi totalmente estilhaçada, ela está atormentada por disputas internas", disse André Pereira César, analista de política da consultoria CAC em Brasília. A dependência de fundos do governo, a possibilidade de que o ainda enormemente popular Lula possa retornar para concorrer em 2014 e a falta de líderes carismáticos são algumas das razões da hemorragia da oposição.

O DEM, segundo maior partido de oposição do país e vocalizador dos interesses do empresariado, na prática foi cindido pela decisão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, de fundar sua própria agremiação, o PSD, atraindo mais de 50 deputados na Câmara e 600 prefeitos, muitos deles da oposição a Dilma. O PSD já mostrou sinais de que apóia a coalizão governista, dizem analistas. O pequeno mas articulado Partido Verde, que emplacou a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva em terceiro lugar na disputa presidencial do ano passado, também desertou as fileiras opositoras e busca estreitar os laços com o governo de Dilma.

Embora Dilma não possua o carisma de Lula, manteve sua reputação de competência e parece ter ganho algum crédito entre os eleitores pela sua postura rígida contra a corrupção, motivo das demissões em seu gabinete. Como Lula em 2003, ela se recuperou de uma queda de popularidade no início do mandato, e a aprovação de 71 por cento em uma pesquisa de opinião de setembro caiu como um golpe na moral da oposição.

Os escândalos dos últimos meses adiaram a agenda de reformas de Dilma no Congresso, incluindo uma série de medidas pró-crescimento nas indústrias de petróleo e mineração e um aumento nos impostos. Mas o destino destes projetos de lei está muito mais ligado à sua habilidade de sanar relações com sua coalizão do que com a capacidade da oposição de bloqueá-los.

Várias tentativas opositoras para deslanchar uma CPI da corrupção fracassaram. As duas únicas derrotas do governo ¿o código florestal e a taxação sobre transações financeiras¿ foram devidas menos à oposição e mais aos parlamentares vira-casaca de sua coalizão. "Muitos legisladores da oposição estão resignados com o fato de que não têm votos para fazer nada significativo no Congresso", disse Cristiano Noronha, analista da consultoria política Arko Advice em Brasília.
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