As guitarras Gibson, cultuadas por músicos mundo afora, estão na mira dos ambientalistas por levar em sua fabricação madeiras de árvores em extinção.
O caso poderá, literalmente, dar novo tom à música escutada em Nashville, berço da música country americana, caso madeiras raras sejam substituídas por outros materiais.
Mr. Jack, um veterano guitarrista da cidade do Alabama diz que o celebrado modelo Les Paul, um ícone da marca, tem um som incomparável.
"Você pode sentir em seu ouvido. É como se (o som) rapidamente ultrapassasse suas costeletas. É o tom", diz Jack.
Mas o tom está ameaçado. No último dia 28 de agosto, carregamentos de madeira vindos da Índia foram lacrados por agentes armados nas dependências da Gibson em Nashville e em Memphis.
Segundo as autoridades, a Gibson violou o chamado Lacey Act, que determina que as importações americanas sigam as leis ambientais do país de origem dos produtos.
Tea Party
O embargo à Gibson acabou virando uma causa do grupo conservador Tea Party, ligado à oposição republicana.
O movimento acusa o governo federal, em Washington, comandando pelo americano Barack Obama, de extrapolar o papel do Estado.
Sob investigação, o presidente da Gibson, Henry Juszkiewicz, foi ovacionado em um encontro do Tea Party ao protestar contra o que considera "injustiça".
Henry Juszkiewicz.
Juszkiewicz acabou se aliando ao Tea Party contra o que considera uma "injustiça" do governo
A carga interceptada, no valor de US$ 500 mil, é suficiente para produzir dez mil braços de guitarra. Apesar das restrições cada vez maiores, a Gibson produz, a cada dia, 700 guitarras.
'Santo Graal'
Com leis regulatórias cada vez mais estritas, a Gibson e outras fabricantes agora buscam madeiras alternativas.
A dalbergia nigra, do Brasil, considerada o "santo graal" dos músicos, já não pode mais ser usada, porque entrou na lista de espécies em extinção.
O ébano, de Madagascar, deixou há alguns anos de ser uma opção, após pressão de grupos ambientalistas.
"Você pode sentir em seu ouvido. É como se (o som) rapidamente ultrapassasse suas costeletas. É o tom."
Mr. Jack, guitarrista de Nashville
Em junho deste ano, foi interceptado um outro carregamento da Índia. No caso indiano, Juszkiewicz alega ser um problema tarifário, e não ambiental.
Em qualquer caso, ele insiste, uma abordagem armada da polícia "não deveria ser a primeira resposta para um assunto de importação-exportação".
Desconfiança mútua
Para o movimento Tea Party e para a deputada republicana Marsha Blackburn, a inspeção de agentes federais simboliza que tudo está errado hoje em dia em Washington.
A presença de policiais armados na fábrica da Gibson esquentou ainda mais o debate.
Para o ativista do Greenpeace, Scott Paul, "todos são inocentes até que se prove o contrário".
Ele alerta, no entanto, que a indústria como um todo terá que oferecer respostas a uma série de perguntas.
"Sempre houve uma pequena sensação de que uma porção significativa da madeira usada em instrumentos musicais vinha de fontes ou ilegais ou muito duvidosas", diz.
Preservar o som
Guitarras Gibson.
Fabricantes terão de substituir madeiras raras, pondo em risco a qualidade acústica da guitarra
Ao invés de ameaçar o futuro dos instrumentos musicais, o guitarrista veterano Laurence Juber diz acreditar que a polêmica fomente a discussão sobre uma indústria mais sustentável.
"A madeira usada nas guitarras é crucial para o tom do instrumento", diz Juber, que já tocou com Paul McCartney.
"Eu posso te mostrar a diferença no som entre uma madeira rosa da Índia e uma madeira rosa do Brasil."
O fracasso na preservação das florestas pode levar a mudanças no jeito em que as guitarras são desenhadas e construídas, diz Juber. Não há garantia de que a experiência musical proporcionada pelas guitarras de hoje será preservada, diz.
"Espero que eu possa ajudar a manter a indústria viva e que em 300 anos as pessoas ainda possam tocar suas guitarras e sentir prazer por isso", diz.