"Faz algum tempo que eu não me apresento em Londres. A última vez foi há 14 ou 15 anos, quando eu tinha uns 60 anos. Eu era apenas um garoto com sonhos malucos."

Ironias autodepreciativas temperam o humor de Leonard Cohen, como se vê nas frases acimas, que estão em "Live in London", obrigatório CD duplo que registra um show de três horas de duração, realizado em julho do ano passado e que ganha lançamento no Brasil.

Nascido no Canadá, Cohen pode até não ser mais um garoto movido a sonhos malucos, mas criou um repertório de qualidade e extensão ímpares na música pop.

Antes de lançar discos ou de fazer shows profissionais, Cohen publicou alguns livros de poesia que o levaram a ganhar reconhecimento no Canadá.

O cantor mudou-se para os EUA nos anos 60. Conheceu Andy Warhol e impressionou-se com Nico (do Velvet Underground), com Janis Joplin (para quem escreveu "Chelsea Hotel nº 2") e, em 1967, lançou o primeiro álbum, "Songs of Leonard Cohen".

Daquele álbum saiu um de seus hits, "Suzanne". Este e mais "Sisters of Mercy", "Hey, That's No Way to Say Goodbye" e "So Long, Marianne" estão ainda mais pungentes neste "Live in London".

Solidão, desapontamentos, desilusões amorosas. Temas que aparecem com elegante frequência no repertório de Leonard Cohen.

Aos 74 anos, um garoto que ainda conserva sonhos malucos, Cohen consegue imprimir ainda mais emoção em canções como a épica "Hallelujah".

Aqui, em meio a redenção e religiosidade, ele coloca sutis referências sexuais: "She tied you to a kitchen chair/ She broke your throne and she cut your hair/ And from your lips she drew the Hallelujah" (Ela te amarrou em uma cadeira de cozinha/ Ela quebrou seu trono e cortou seu cabelo/ E dos seu lábios ela extraiu o Aleluia).

Mais rouca com o passar dos anos, a voz de Cohen caminha com desenvoltura sobre letras elegantes e melodias apuradas.

É o registro ao vivo definitivo de um cantor imbatível.