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Terça-feira, 03 de setembro de 2024

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Irmão de Eloá diz que Lindemberg era um 'monstro, louco e vingativo'

Foto: Diogo Moreira / Futura Press / Agência Estado

Irmão de Eloá diz que Lindemberg era um 'monstro, louco e vingativo'
Ronickson Pimentel dos Santos, irmão da estudante Eloá Pimentel, definiu Lindemberg Alves, acusado de matar a jovem em 2008, como "louco", "vingativo" e "extremamente agressivo". Nas palavras de Ronickson, ouvido durante o julgamento do caso na manhã desta terça-feira (14), o réu é um "monstro". Ronickson foi o primeiro a ser interrogado nesta manhã, segundo dia de julgamento.


Os trabalhos do Tribunal do Júri foram retomados por volta das 9h30. Lindemberg passou a noite desta segunda-feira (13) no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo.

O júri, presidido pela juíza Milena Dias, ocorre mais de três anos após um dos sequestros mais longos do país - cerca de cem horas - acompanhado ao vivo pela TV, que terminou com a morte da estudante, com 15 anos à época.

"Ele é um monstro, um louco, agressivo", reforçou Ronickson em seu depoimento. Após dizer isso, o irmão de Eloá encarou Lindemberg, que abaixou a cabeça.

Ronickson falou por cerca de uma hora ao Tribunal do Júri - ele chorou três vezes. O irmão de Eloá se emocionou ao lembrar da doação de órgãos da irmã - que ele definiu como uma "atitude muita linda" de sua mãe -, ao dizer que sua família está se reconstruindo e ao relatar que o irmão caçula, Everton Douglas, se sente culpado por ter apresentado Eloá a Lindemberg, de quem era amigo à epoca.

Por diversas vezes ao longo de sua fala, Ronickson encarou o réu, que abaixava a cabeça sem esboçar reação. O irmão de Eloá disse ainda que ela chegou a reclamar uma vez que havia apanhado de Lindemberg. Ronickson questionou o namorado da irmã na época, que negou tudo. Segundo ele, a irmã vivia triste. "Ele era agressivo, sempre arrumava brigas por futebol", disse.

Ronickson classificou a morte de Eloá como uma "traição" de Lindemberg em relação à família da vítima, que sempre o tratava como um filho. "O que ele fez foi uma traição". “Lindemberg tirou todos os sonhos da Eloá. E o que ela mais queria era ser veterinária”, completou.

O advogado Thiago Pinheiro, que defende o pai de Eloá, Everaldo Pereira dos Santos, disse durante o depoimento de Ronickson que seu cliente afirmou que o tiro na virilha da vítima era um disparo simbólico. "O tiro eu não sei se foi simbólico, mas foi para matar”, respondeu Ronickson.

Assistente da acusação, José Beraldo também interveio durante o depoimento do irmão de Eloá. "Olha para os olhos dele e diga se Lindemberg se mataria”. “Não. Ele não se mataria”, respondeu Ronickson.

Após o depoimento de Ronickson, o Tribunal do Júri começou a ouvir as testemunhas de defesa. A primeira a falar é o advogado Marcos Assumpção Cabello, o primeiro a ser contratado pela família do réu para acompanhar as negociações com a Polícia Militar durante o sequestro de Eloá, em outubro de 2008.

Primeiro dia de depoimento
O primeiro dia de julgamento de Lindemberg começou por volta 10h50 desta segunda-feira. Durante a manhã, houve a exibição de vídeos tanto do Ministério Público quanto da defesa do réu aos jurados. Seis homens e uma mulher compõem o conselho de sentença, definido no início do julgamento.

Durante uma hora e meia, a defesa de Lindemberg exibiu cerca de 15 vídeos jornalísticos que retratam a cobertura da imprensa e também a invasão da Polícia Militar ao apartamento onde a Eloá foi mantida refém por cinco dias, entre 13 e 17 de outubro de 2008.

Entre as reportagens apresentadas pela advogada Ana Lúcia Assad, que representa Lindemberg, há entrevistas do réu logo após a prisão, em imagens divulgadas por uma emissora de TV, na qual ele diz que “gostaria de voltar o tempo”. Há também entrevistas com Nayara Rodrigues da Silva, mantida refém e baleada por Lindemberg, na qual diz que só efetuou os disparos após a entrada da PM no apartamento.

A promotora Daniela Hashimoto também exibiu um vídeo retratando o comportamento agressivo de Lindemberg Alves.

Depoimentos

Após a apresentação dos vídeos, três amigos de Eloá que também foram mantidos reféns por Lindemberg em 2008 e um policial militar depuseram. Nayara Rodrigues, que foi baleada pelo acusado, disse que o namoro de Lindemberg e Eloá tinha "idas e vindas". Segundo ela, os dois terminaram "várias vezes".

A garota acrescentou que o acusado passou a odiá-la depois que Eloá terminou definitivamente o relacionamento. "Ele achava que eu influenciava negativamente a Eloá. Ele achava que ela tinha terminado o namoro por minha causa. Ele me odiava e odiava minha mãe", disse. A pedido da jovem, Lindemberg foi retirado do plenário.

Nayara começou a chorar ao lembrar da amiga. "Ele batia nela o tempo todo dentro da casa, não largava a arma", disse, emocionada. A advogada de defesa de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, porém, afirmou que Nayara "simulou choro". “Teve dramatização demais, ela estava bem orientada”, disse. Para o advogado de Nayara, Marcelo Oliveira, a defesa está "desesperada".

Iago Vilera
Já Iago Vilera, um dos adolescentes também feitos reféns, prestou depoimento por mais de 30 minutos. O acusado voltou à sala do júri sem algemas e escoltado por dois PMs para assistir ao depoimento, já que o jovem não se opôs à presença dele. "Eu vi o Lindemberg perseguindo a Eloá, passando de moto e encarando os amigos de forma ameaçadora", disse Vilera. "Fiz tratamento psicológico para me curar do trauma."

Victor Campos
Antes dele, o estudante Victor de Campos, que também foi mantido refém, contou que Lindemberg, durante o cárcere privado, falou que "não estava para brincadeira". "Ele dizia que ia fazer uma besteira. Me deu uma coronhada porque achou que eu tinha algo com a Eloá."

Segundo ele, o acusado dizia aos reféns: "Vou atirar em um de vocês para botarem fé em mim". "O que me dava mais medo era ver meus amigos tomarem um tiro, acontecer alguma tragédia", disse.

Atos Valeriano
Além dos três jovens, prestou depoimento nesta segunda o sargento da Polícia Militar Atos Antonio Valeriano, que escapou de um tiro durante o sequestro. Ele foi o último a falar no primeiro dia do júri. Segundo o PM, Lindemberg Alves atirou para matá-lo. "O tiro passou a 30 centímetros da minha cabeça." Valeriano disse que o acusado repetia várias vezes que ia "matar todo mundo" e depois se matar.

Lindemberg responde por 12 crimes. Além da morte de Eloá, são duas tentativas de homicídio (contra Nayara e o sargento Atos Antonio Valeriano, que escapou do tiro); cárcere privado (de Eloá, Victor, Iago e duas vezes de Nayara) e disparo de arma de fogo (foram quatro).

Segundo o Ministério Público, se Lindemberg for condenado por todos os crimes atribuídos a ele, a pena mínima poderá ser de 50 anos e a máxima, de 100 anos de reclusão. Pela legislação do país, no entanto, ninguém pode ficar preso por mais de 30 anos. O julgamento de Lindemberg deve durar três dias, segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

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