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Quinta-feira, 25 de julho de 2024

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Augusto Nunes, sobre Rio-2016: 'Se opinião pública pressionar, será ótimo'

Ganhador de quatro prêmios Esso, o mais importante do jornalismo brasileiro, considerado pela Fundação Getúlio Vargas um dos jornalistas mais influentes no Brasil, diretor de redação de várias publicações, como "Jornal do Brasil", "Zero Hora", "Estado de S.Paulo" e revista "Época". Um parágrafo é pouco para resumir a trajetória profissional de Augusto Nunes, que deixou a política um pouco de lado para tecer comentários sobre esporte no “Redação SporTV”.


Na bancada do programa, o colunista da revista "Veja" contou histórias deliciosas sobre a rivalidade entre Grêmio e Internacional, criticou a forma como Pelé é tratado pelos brasileiros e, claro, falou sobre a relação entre o governo brasileiro e a Fifa: "O Brasil está se portando como moleque em relação à Copa".

Um de seus quatro prêmios Esso deste palmeirense foi conquistado na cobertura das Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, ao lado da jornalista Dorrit Harazim e do fotógrafo Orlando Brito. Nas quadras americanas presenciou o surgimento do gênio Michael Jordan e da internet. Augusto Nunes lamenta escrever pouco sobre futebol. A atribulada vida política do Brasil não permite. Depois do programa, ele teve a oportunidade de falar mais sobre o assunto com o SporTV.com.

Como foi a cobertura das Olimpíadas de 1984? O que mais chamou a sua atenção?

- Foi uma Olimpíada interessante por diversos motivos. Primeiro: lá que começaram a usar a internet intensivamente. Lá que nós descobrimos o e-mail. Mas transmitíamos as matérias por telex. E por causa do fuso horário, tínhamos que escrever o texto direto no telex. O que mais me impressionou foi ter visto o time americano (de basquete). Eles adiaram o draft daquela geração para que eles representassem os Estados Unidos. Você tinha, entre outros, Pat Ewing, tremendo pivô do New York Knicks, e o Michael Jordan. Eu jogava basquete e quando eu vi o Michael Jordan batendo a bola, eu percebi que as passadas tinham outro compasso. As passadas geralmente acompanham a batida da bola. Ele parecia um violão do João Gilberto na bossa nova. E quando chegou no garrafão ele voou, deu uma enterrada. Era o Air Jordan. Eu escrevi, não como profeta, que tinha visto o surgimento do Pelé do basquete. Sempre gostei muito de esportes.

Que tal a cobertura da imprensa na preparação para a Copa do Mundo?

- Eu fico muito mal impressionado quando eu vejo, por exemplo, que o "Painel da Folha" (coluna da Folha de S.Paulo) só fala de cartola. É muito espaço para cartola. E pouco para a roubalheira da Copa do Mundo. Todos os contratos de todos os governos são irregulares, sem exceção. O que eles estão ganhando dinheiro nessa Copa é uma grandeza. Fala-se do Ricardo Teixeira. Tem muitos outros. José Maria Marin, que rouba até medalha. A Copa tem que ter claramente uma editoria temática, ela não é de uma editoria só. É de várias editorias: esporte, política, cidades. É mais falha dos jornais. E acho que a gente aceita tudo como fato consumado. O estádio do Corinthians: R$ 1 bilhão! Devolve o problema para a Fifa! O Morumbi poderia atender a todas as exigências do contrato inicial. Foi político. Quiseram sacanear o São Paulo. O Brasil não tem dinheiro. São Paulo vai ter o Itaqueirão, Morumbi, o estádio novo do Palmeiras, Pacaembu e vai acabar tendo aquele de Pirituba. É muita coisa!

Você foi a favor da realização da Copa no Brasil?

- Não, eu fui contra. O Brasil não está preparado para fazer o que fizeram os espanhóis na Olimpíada, em outros países, obras de infraestrutura. Isso ficou claro no Pan de 2007. Estão repetindo as promessas. Enquanto político brasileiro agir assim eu não confio neles. O país não tem tanto dinheiro para perder. Se eu fosse espanhol seria outra coisa. Eu fui ver a preparação da Olimpíada em Barcelona e na Coreia, em Seul. Claro que tem uma roubalheira aqui e ali. Mas Barcelona mudou, foi reconstruída. E Seul melhorou muito. E no Brasil, o que estão fazendo? Esse metrô da Barra não precisa de Olimpíada para construir.

Mas teve que ter uma Olimpíada para começarem a construir...

- Mas já não o construíram no Pan. Tomara que construam agora. Eu fui contra pelo ceticismo. Mas se a opinião pública souber pressionar vai ser ótimo para o Rio. O Rio é uma cidade que precisa disso. É uma cidade mal amada, castigada. Eu morei aqui três vezes. Me considero carioca adotivo porque vim para cá pela primeira vez aos 18 anos para estudar direito. O carioca gostava mais do Rio. Na segunda vez que eu voltei me disseram que São Paulo era melhor. Fiquei besta com um carioca me dizendo isso. É uma cidade que, apesar disso, tem praia urbana. Para um estrangeiro é espetacular. Eu sabia que o governo ia nomear um Pedro Novaes para dirigir o turismo. Você tem uma Copa e uma Olimpíada. Aí vem um sujeito de 81 anos, corrupto, que o Sarney pediu. É nesse pais que eu não confio.

Como admirador do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, você acha que haveria menos problema na organização da Copa e da Olimpíada no governo dele?

- Acredito que sim, mas eu também acredito que não seria favorável. Por que eu sou fã do Fernando Henrique? Por que eu sou radicalmente democrata. O Brasil está muito polarizado. Quem não é de esquerda é acusado de ser reacionário e conservador. Eu não, eu sou democrata. Quero que se cumpra a lei, não quero prender ninguém. E o governo do Fernando Henrique mostrou ser mais moderno, tolerante. Acho que ficamos de novo parecido com o que o Brasil era em 89. Acho também que ele não fez um governo perfeito. Teve aquela bobagem da reeleição. Mas acho que ele faria uma Copa menos venal. Ele não faria o Itaquerão. Não é um cara que falaria com a (construtora) Odebrecht. Você nem sabe o time que ele torce. Fernando Henrique nem capitalizou a vitória da Seleção Brasileira. Ele não está nem aí.
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