Em algumas escolas públicas estaduais de Mato Grosso, quando os pais participam de reuniões de avaliação de desempenho dos filhos, as conversas ainda giram em torno das notas dos educandos (popularmente, vermelhas ou azuis). 2010 será o último ano que o tema estará presente nestas reuniões, pelo menos nas escolas que oferecem o Ensino Fundamental.
Em 2011, todas as escolas do Ensino Fundamental da Rede Pública Estadual estarão organizadas por “Ciclos de Formação Humana”, em que a avaliação do educando não é baseada em notas, que são a base do Sistema Seriado. O modelo de funcionamento do processo de ensino por ciclos completa 10 anos no estado, em 2010.
Em 2006, o Governo Federal ampliou o funcionamento do Ensino Fundamental para nove anos. Em Mato Grosso, isso já estava garantido pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc) desde 2000, quando foi implantada a Organização por Ciclos. Nesta, os educandos passam por três ciclos, cada um com a duração de três anos. O primeiro vai dos 6 aos 8 anos (em que é garantida a alfabetização); o segundo, dos 9 aos 11 anos e, o terceiro, dos 12 aos 14 anos.
Quanto ao Sistema Seriado, em que a avaliação depende da nota, o mesmo ainda é oferecido para 321 turmas de 148 escolas, em 61 municípios. A maioria em Cuiabá, com 30 unidades escolares. Destas 321 turmas, 104 cursam a sétima série e, portanto, serão as últimas a encerrar o sistema no ano que vem.
Para Alvarina de Fátima Campos, gerente de Currículo, da Coordenadoria de Ensino Fundamental, da Superintendência de Educação Básica (Sueb) da Seduc, a Organização por Ciclos representa um avanço em relação ao Sistema Seriado. Este é centrado no conteúdo. Verifica-se se o educando aprendeu o conteúdo esperado ou não. Se avaliação é negativa, este é reprovado e não segue adiante. Algumas reprovações seguidas desestimulam os educandos, que acabam abandonando a escola.
Na Organização por Ciclos procura-se romper com esse processo. Nos ciclos, o foco é a aprendizagem. Se o educando não aprendeu o conteúdo esperado, ele não é punido por isso. Procura-se respeitar o tempo e os limites que cada um tem para dominar os conteúdos. A partir da constatação que o educando não aprendeu, inicia-se um conjunto de estratégias. Investiga-se qual a é dificuldade enfrentada e, em função deste diagnóstico, o educando recebe apoio pedagógico específico para seguir adiante.
Este trabalho é feito nas escolas pelo professor articulador ou pelo coordenador pedagógico. Quando estes têm dificuldades, entra em campo o apoio dos Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (Cefapros). Na prática, funcionam dois processos para dar garantia à aprendizagem dos educandos. A Progressão Simples (PS) e o Plano de Apoio Pedagógico (PAP). No Sistema Seriado, o educando com dificuldades receberia notas “vermelhas” ao final de um período. Na Organização por Ciclos, a escola procura empreender todo seu esforço para que o educando possa continuar seu desenvolvimento cognitivo, pela ação do PAP. Assim, nos ciclos, a avaliação é contínua e diagnóstica.
Nas reuniões com os pais, na organização por ciclos, a estes não é apresentado um número (nota) como avaliação do desempenho dos filhos. Pais e mães recebem um mapa sobre o acompanhamento da aprendizagem. Este apresenta as anotações feitas pelo professor, retratando o que o educando já sabia, quais conhecimentos foram construídos em sala de aula e como ocorreu esse processo. Portanto, não é um sistema que classifica os alunos como “piores” ou “melhores”.
Desde 2005, a Seduc incorporou a Organização por Ciclos como Política de Ensino. No decorrer do ano, a Sueb programou Encontros Regionais Formativos, com coordenadores e professores articuladores, para tratar das diretrizes organizadoras das unidades escolares que trabalham com os ciclos.
