Apenas um passo para a conquista. Em jogo, sete títulos mundiais: quatro brasileiros e três germânicos. Após as semifinais, Brasil e Alemanha se enfrentaram na decisão da Copa do Mundo de 2002. O corte ‘cascão’ vingou e Ronaldo fez os dois gols da vitória, em Yokohama, garantindo o pentacampeonato da Seleção.

- Muito frio na barriga, uma final de Copa, lembranças de 98. Eu estava vivendo tudo isso ali na hora. Então era uma obrigação total. Eu lembro que tive medo de dormir depois do almoço, temendo outra convulsão como na última Copa – conta Ronaldo.

Por parte da torcida, muita reza, vibração e esperança. Até mesmo mexicanos e japoneses estavam rendidos e confiavam na superioridade do futebol verde e amarelo. Mas, para uma pessoa, também era preciso contar com a sorte.

- Já estamos aqui com o pé de coelho guardadinho – disse Dona Sônia, mãe de Ronaldo, em entrevista a João Pedro Paes Leme no dia da partida.

Se nas ruas do Japão já havia muita alegria, a descontração também marcava o ambiente pré-jogo nos vestiários antes dos jogos.

- Eu lembro que a preleção era muito demorada. O Felipão narrava os nomes dos jogadores, peso e altura. No primeiro jogo, ele começou a falar em turco e ninguém prestava atenção, só dava risada – lembra o atacante.

O início de jogo foi violento. Em uma disputa no alto, Klose deu uma cotovelada em Edmílson que lhe rendeu o cartão amarelo. O atacante já havia sido alertado pelo árbitro Pierluigi Colina por uma joelhada em Cafu, momentos antes. Posteriormente, em lance pela direita, Roberto Carlos revidou e entrou forte em Schneider.

- Um deu lá e outro cá para mostrar que os dois times estavam quentes – comenta Fátima Bernardes.

Os comandados de Felipão atacaram primeiro. Ronaldo recebeu uma enfiada de bola de Ronaldinho Gaúcho, aos 18 minutos, e chutou de primeira para fora. Dez minutos depois, novamente Gaúcho, agora pelo alto, tocou para o centroavante que, desequilibrado, parou em Kahn.

Aos 44, após uma troca de passes na intermediária, Kléberson chutou para carimbar o travessão do goleiro alemão. O meia já havia tido um bom desempenho contra a Bélgica, nas oitavas de final, e quase tirou o zero do placar.

- Ele substituiu o Juninho Paulista, vestiu a camisa e parece que não sentiu a pressão – avalia Galvão Bueno.
Ser campeão fui uma das minhas maiores alegrias no futebol"
Ronaldo

A primeira etapa caminhava para o fim com um empate sem gols. Mas isto quase muda quando, aos 46, Roberto Carlos experimenta de fora, a bola sobra para Ronaldo, na marca do pênalti, e Kahn defende o chute com as pernas.

Escolhido às vésperas da final, o goleiro alemão era considerado o melhor jogador da Copa até o momento. Graças a ele, a adversária havia levado apenas um gol em toda a competição e o arqueiro estava disposto a frustrar os ataques de Fenômeno e companhia.

- Demonstrou ao longo da carreira ser um goleiro completo, com bom posicionamento. Só que eu aproveitei as chances que tive. Aquele foi meu presente para ele – orgulha-se o artilheiro da Copa.

No começo de segundo tempo, um susto. Após um escanteio, Jeremies, sozinho, escorou de cabeça para o gol. A bola bateu na perna de Edmílson, que tirou o perigo da pequena área.

A segunda oportunidade veio de uma falta cobrada por Neuville. Um chute forte, com efeito, fez Marcos apenas tocar com a ponta dos dedos na bola, antes de bater na trave. Os germânicos estavam destinados a abrir o placar nos 45 minutos finais.

O momento era difícil para a Seleção. Especialmente para Edmílson que se envolveu em uma cena inusitada. Aos quinze, o volante saiu do gramado e se atrapalhou ao tentar trocar de camisa.

- Foi aflitivo, além de engraçado. Deu vontade de ir lá e ajudar, porque ele não estava conseguindo pôr a camisa. Olha só, ele colocou as costas para frente – brinca Fátima, ao rever o ‘drama’ do jogador.


Vinte e dois minutos. Ronaldo briga pela bola no meio e toca para Rivaldo que chuta de longe. Oliver Kahn não segura e a bola sobra nos pés do Fenômeno que marca e abre o caminho para o Penta. O primeiro gol do Brasil e o sétimo do craque em sete jogos.

- Não foi frango, foi uma falha. A bola tomou uma trajetória diferente. O curioso, ainda, é que o Felipão proibia a gente de treinar rebote. Ele temia que alguém pudesse se machucar. Tive que falar para ele depois: ‘olha o que decide uma Copa do Mundo’ – lembra o artilheiro.

Aos 34, a confirmação. Kleberson arranca pela direita e toca para a entrada da área. Rivaldo faz o corta-luz e deixa para Ronaldo que bate no canto esquerdo de Kahn. Dois a zero. A Seleção estava próxima do quinto título mundial.

- Sempre quando eu vejo ele eu falo: 'Ronaldo, você está me devendo alguma coisa, cara. Eu te dei dois lances para você ser artilheiro da Copa do Mundo - diverte-se o volante.

- Eu gritei para o Rivaldo abrir as pernas. Ser campeão foi uma das minhas maiores alegrias no futebol – complementa Ronaldo.

A Alemanha ainda teve uma chance com Bierhoff dentro da área, aos 37. Mas Marcos estava lá novamente para fechar o gol, espalmando o chute para fora. Oito minutos depois, Ronaldo foi substituído para a entrada de Denílson e, ovacionado pela torcida, chorou com o assessor Rodrigo Paiva no banco de reservas. Ao ouvir o último apito de Colina, os reservas correm para dentro de campo e a felicidade toma conta de toda a equipe.

Cafu ergue a taça. A Seleção Brasileira se consolida como a maior detentora de conquistas mundiais e abre espaço, ainda, para Ronaldo desbancar Kahn e se tornar o melhor jogador da Copa. O Brasil é pentacampeão do mundo.

- Uma imagem que eu tenho guardada é levantando o troféu. Tem uma cena que o Lúcio me pega no ombro e eu ergo a taça. O Felipão me colocou nos cinco minutos finais, só que Alemanha já tinha largado o jogo. Todo mundo ali com bandeira e eu doido para ir no banco também, porque tava com tudo pronto lá. O juiz apita o final de jogo, eu corro, pego a bandeira e volto para o campo comemorar - recorda Kaká.