No desembarque da seleção feminina de vôlei, uma surpresa. O técnico José Roberto Guimarães chegou a São Paulo com a cabeça raspada em promessa pelo bicampeonato olímpico. Segundo ele, essa é apenas a primeira de uma série que precisará pagar.
- É a primeira de muitas que eu fiz. Tive que começar a pagar ontem - revelou o técnico.
A medalha de ouro nos Jogos de Londres foi a terceira da carreira do comandante da seleção feminina de vôlei, que também ganhou em Pequim 2008 e com o masculino em Barcelona 1992. E o sorriso por mais essa conquista ficou evidente na entrevista coletiva desta segunda-feira, em um hotel próximo ao aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Ao lado das atletas, ele destacou o desempenho da equipe nas Olimpíadas, citou o começo difícil e as vitórias sobre a Rússia e os Estados Unidos. À vontade, o treinador só parou de falar quando recebeu a visita surpresa do seu neto Felipe.
Confira abaixo os trechos da entrevista do técnico:
Pressão pelo título de 2008
Aquele time passou, mas carrega por quatro anos o titulo. Até conseguirem suportar essa carga leva tempo. Perdeu algumas jogadoras importantes (Natalia com tumor na canela, fez um Mundial excepcional), ganhamos outras jogadoras importantes. Contávamos muito com a Natália, pesou, mas tudo foi importante. Ela mereceu, pela energia que nos passou. Fizemos a seleção B já visando os Jogos do Rio 2016. Foi muito bom. Em Pequim, atropelamos todo mundo. Foi o melhor ano das nossas vidas, assim como 2012 está sendo também. Vi essas meninas de uma maneira que nunca tinha visto, estavam muito mal, porque treinavam bem e não conseguíamos traduzir isso no jogo. O time de 2008 estava voando. Este teve de fazer ainda mais força, mas também foi maravilhoso e vamos carregar para o resto das nossas vidas.
Futuro na seleção
Ainda não conversei com o Ary (Graça, presidente da Confederação Brasileira de Vôlei). Só festejamos, temos de ponderar muita coisa, porque é um sacrifício muito grande. Tudo valeu a pena, mas vamos deixar isso para depois.
Final contra as americanas
Sabíamos que os Estados Unidos eram os favoritos, que ganharam as últimas competições, mas sabíamos que se chegássemos à final contra elas, tudo poderia acontecer. Procuramos monitorar o time americano até o jogo final. Gostaria de dizer que foi uma final perfeita, mas tomamos um vareio no primeiro set. Nosso time se perguntava o que estava acontecendo, até que os nervos se colocaram no lugar. Conseguimos virar as bolas, defender e bloquear mais do que os Estados Unidos. Foi uma vitória merecida.
Dificuldades no caminho
Começamos as Olimpíadas em um momento muito ruim, desde o jogo com a Turquia em que só conseguimos a vitória no quinto set. Mas esses momentos de dificuldade foram muito importantes lá na frente. Agradeço às jogadoras pela concentração e superação nas dificuldades que enfrentamos.
Drama para se classificar
O maior problema foi que perdemos o controle da situação porque nós não dependíamos apenas da gente. Temos de agradecer muito a postura da comissão técnica e das jogadoras dos Estados Unidos. Tivemos a mesma postura com eles em 2003. Nós vencemos a Itália e classificamos as americanas.
Vitória sobre as russas
O jogo contra a Rússia foi um desespero, porque estávamos sempre atrás e o potencial de ataque da Rússia é incrível. Duas meias que têm atribuições mais de bloqueio. Quando tem de acontecer, acontece, porque o sistema defensivo estava todo tempo trocado. Foi a força que precisávamos para saber que podíamos chegar à final e vencer os Estados Unidos. Mas foi tudo um desespero.
Tricampeão olímpico
Me sinto muito lisonjeado, mas espero que muitos brasileiros e outras modalidades se juntem a mim. Precisamos nos tornar uma potência olímpica, vimos a situação desses brasileiros que competem. Ganhar uma medalha olímpica é realmente um feito extraordinário.
Reação nos Jogos
Não entedíamos o porquê de o time jogar mal, treinando muito bem. Cada uma delas estava sentindo uma pressão enorme de resolver o problema e paramos de jogar como time. A partir do momento que dividimos essa responsabilidade, o fardo foi mas fácil de ser carregado. Não tínhamos para onde correr. Precisávamos sentir esse amor e carinho pelo grupo.
Elogios a Dani Lins
A Fernandinha e a Dani (levantadoras) têm estilos parecidos. Dani entrou muito bem sempre. Deu uma segurança. Elas se alternaram e dividiram a responsabilidade. No momento, a Dani estava se apresentando melhor. Parecia que estava disputando um campeonato qualquer. Será que ela tem consciência de que está jogando as Olimpíadas? Não a vi em nenhum momento para baixo. A força e a confiança que a Dani precisava foram dadas pelas atacantes. Nunca a vi cometer tão poucos erros.
Pressão por ouro no Rio
O Brasil adora esporte. Em Londres, a maiora dos torcedores era brasileira. Sabemos que a pressão será muito grande. Elas carregam o ônus de serem bicampeãs e ainda têm que amadurecer. Também precisa aproveitar o momento, mas com os pés no chão. Vão ter de treinar ainda mais, suar ainda mais. Quem quiser continuar tem de se dedicar ainda mais.