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Sábado, 20 de julho de 2024

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Nobel de Medicina premia cientistas por trabalhos com células-tronco

O prêmio Nobel de Medicina de 2012 foi oferecido nesta segunda-feira (8) pelo Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, a dois pesquisadores de...

O prêmio Nobel de Medicina de 2012 foi oferecido nesta segunda-feira (8) pelo Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, a dois pesquisadores de células-tronco, o britânico John B. Gurdon, de 79 anos, e o japonês Shinya Yamanaka, de 50.


Os dois cientistas descobriram, em trabalhos separados por 44 anos de distância, que células adultas podem ser "reprogramadas" para se tornar imaturas e pluripotentes, ou seja, capazes de se especializar em qualquer órgão ou tecido corporal – como nervos, músculos e pele.

Cada vencedor levará 8 milhões de coroas, equivalentes a R$ 2,4 milhões.

Em entrevista por telefone a uma rádio sueca, Gurdon, cuja descoberta é de 1962, disse que está extremamente agradecido e surpreso pelo Nobel. O cientista também revelou estar feliz por ser reconhecido junto com Yamanaka, que segundo ele tem feito um "trabalho maravilhoso".

Já Yamanaka, em entrevista coletiva na Universidade de Kyoto, no oeste do Japão, onde é professor, disse que pretende continuar as pesquisas para contribuir realmente com a medicina e a sociedade, em aplicações clínicas de células-tronco.

"A única palavra que vem à mente é gratidão. Quero expressar minha sincera gratidão a todos os jovens pesquisadores, aos meus amigos e familiares que sempre me apoiaram", disse o cientista, que em 2006 conseguiu gerar células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), com recursos que, até então, os pesquisadores acreditavam que estavam disponíveis apenas em células-tronco embrionárias.

Enquanto falava aos jornalistas, Yamanaka recebeu uma ligação do primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, que o parabenizou pela conquista. O cientista, que dirige o Centro de Pesquisa e Aplicação de células iPS na universidade, também contou a novidade à mãe, de 80 anos.

As pesquisas
Os resultados das pesquisas de Gurdon e Yamanaka revolucionaram o entendimento sobre como as células e os organismos se desenvolvem e segmentam. Isso tornou possíveis estudos mais aprofundados sobre doenças e novos métodos de diagnóstico e tratamento. Além disso, livros didáticos foram reescritos e surgiram novas áreas de estudo.

Os dois trabalhos também trouxeram grandes avanços à área da medicina regenerativa, ao estabelecer as bases para a reprogramação de células adultas em células-tronco.

Até então, os cientistas acreditavam que esse caminho não poderia ser revertido, ou seja, passar de uma célula madura para uma imatura. Com a descoberta, células-tronco agora podem ser cultivadas em grande quantidade em laboratório.

O assunto tem sido motivo de amplas discussões sobre segurança e ética. Segundo o Comitê do Nobel, durante a apresentação nesta segunda, é a sociedade que precisa discutir se isso deve ou não ser aplicado em pacientes.

Em 2007, outro trabalho envolvendo células-tronco, para manipulação genética em animais, foi premiado com um Nobel.

Os premiados
Gurdon é professor na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e fez seu estudo com sapos. Na época, o britânico substituiu o núcleo de uma célula imatura no óvulo de fêmeas de sapo pelo núcleo de uma célula madura do intestino de um girino.

Esse óvulo modificado acabou se desenvolvendo em um girino normal, apesar de o DNA dessa célula madura conter toda a informação necessária para desenvolver cada uma das células do indivíduo.

A descoberta de Gurdon foi recebida inicialmente com desconfiança pela comunidade científica, mas se tornou aceita após ser confirmada por outros pesquisadores, que conduziram experimentos com clonagem de vacas, porcos e a famosa ovelha Dolly.

Mais de 40 anos depois, Yamanaka coordenou as pesquisas com roedores. Ele percebeu que quatro genes, quando ativados, podem induzir essa capacidade de pluripotência nas células, que podem virar qualquer célula do corpo.

O desenvolvimento da vida
Todos os animais se desenvolvem a partir de óvulos fertilizados. Nos primeiros dias após a concepção, o embrião é formado por células imaturas, que acabam virando todo tipo de célula durante a formação e o amadurecimento do feto.

Essa transformação era considerada unidirecional, sem possibilidade de volta. Mas os dois cientistas mudaram o destino delas.

Nobel de Medicina
O Nobel de Medicina é oferecido desde 1901 e já reconheceu o trabalho de 199 pessoas – 189 homens e 10 mulheres. Ao todo, 78 pesquisadores eram britânicos e 16, japoneses. A média de idade dos cientistas na data do anúncio era de 57 anos, e não há premiações póstumas – embora, no ano passado, um dos cientistas agraciados havia morrido três dias antes da divulgação.

O pesquisador mais novo a receber esse Nobel foi Frederick G. Banting, que tinha 32 anos em 1923, pela descoberta da insulina.

Por nove vezes, o prêmio – em homenagem ao inventor da dinamite, Alfred Nobel – não foi anunciado: em 1915, 1916, 1917, 1918, 1921, 1925, 1940, 1941 e 1942.

Medicina é sempre a primeira área valorizada com o Nobel a cada ano. Nesta terça-feira (9), será anunciado o Nobel de Física, na quarta (10) o de Química, na quinta (11) o da Paz, e na sexta (12) o de Economia. O de Literatura ainda não tem data definida.

Os vencedores são geralmente informados pelo júri pouco antes do anúncio e não há uma lista de concorrentes disponível previamente, o que torna a divulgação sempre uma surpresa.

Veja os últimos dez ganhadores do Nobel de Medicina

2012: Shinya Yamanaka (Japão) e John B. Gurdon (Grã-Bretanha), por trabalhos com células-tronco

2011: Bruce Beutler (EUA), Jules Hoffmann (França) e Ralph Steinman (Canadá), por descobertas sobre o sistema de defesa do corpo humano

2010: Robert Edwards (Grã-Bretanha), pelo desenvolvimento da fertilização in vitro

2009: Elizabeth Blackburn (Austrália-EUA), Carol Greider e Jack Szostak (EUA), pela descoberta de uma enzima que protege as extremidades dos cromossomos

2008: Harald zur Hausen (Alemanha), pela descoberta do vírus do papiloma humano (HPV), causador do câncer de colo do útero; Françoise Barré-Sinoussi e Luc Montagnier (França), por descobertas sobre o vírus da imunodeficiência humana (HIV), que causa a Aids

2007: Mario Capecchi (EUA), Oliver Smithies (EUA) e Martin Evans (Grã-Bretanha), por trabalhos com células-tronco e manipulação genética em modelos animais

2006: Andrew Z. Fire (EUA) e Craig C. Mello (EUA), pela descoberta da ribointerferência, um mecanismo exercido por moléculas de RNA

2005: Barry J. Marshall (Austrália) e J. Robin Warren (Austrália), pela dascoberta da bactéria Helicobacter pylori e seu papel na gastrite e úlcera estomacal

2004: Richard Axel (EUA) e Linda B. Buck (EUA), por descobrir os receptores de cheiro e a organização do sistema olfativo

2003: Paul C. Lauterbur (EUA) e Peter Mansfield (Grã-Bretanha), pela invenção da ressonância magnética nuclear
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