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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Pep Guardiola

Guardiola volta a descartar Seleção e se diz incomodado com especulações

O site oficial da Fifa publicou nesta quinta-feira uma entrevista com Pep Guardiola feita antes...

O site oficial da Fifa publicou nesta quinta-feira uma entrevista com Pep Guardiola feita antes de o espanhol ter sido anunciado oficialmente pelo Bayern de Munique como técnico na temporada 2013/2014, quarta. Em suas declarações, o treinador deixou claro que voltaria a trabalhar neste ano, exaltou o trabalho do amigo Tito Vilanova, mostrou-se chateado com as várias especulações sobre o seu futuro e voltou a descartar a possibilidade de assumir a seleção brasileira.


A Fifa explicou que fez a entrevista com Guardiola pouco depois da Festa de Gala em Zurique, dia 7, quando o técnico perdeu a eleição de melhor treinador do mundo em 2012 para Vicente del Bosque, comandante da Espanha.

Segundo a imprensa espanhola, Guardiola acertou com o Bayern antes mesmo do evento da Fifa, no Natal. Na entrevista, o ex-técnico do Barcelona não dá pistas sobre o futuro, mas avisou: o ano sabático iria acabar em breve.

Confira abaixo a entrevista completa de Guardiola ao site da Fifa:

Já virou tradição vê-lo na Gala da Bola de Ouro Fifa. Você marcou presença inclusive este ano, ainda que esteja há mais de seis meses afastado do futebol profissional. Já se acostumou a este tipo de cerimônia?
Pep Guardiola: Bom, ninguém vira treinador só para vir a esses eventos. É claro que é um orgulho e uma honra estar aqui pela terceira vez consecutiva, mas de maneira alguma isso lhe dá o direito de pensar que merece tanto ou que é melhor do que os outros. Simplesmente tive a sorte de dirigir um time muito bom, e isso me deu a possibilidade de estar aqui.

Quando você deixou o Barcelona, disse sentir um vazio. Como se sente hoje?
Estou bem. Chegou um momento em que decidi dar um basta. Minha família também merecia muito mais do que lhe tinha dado nos últimos anos. E agora estamos curtindo uma aventura, vivendo de uma maneira muito diferente. Mas, ainda que não pareça, tenho apenas 41 anos, o que é pouco para um técnico, e este ano voltarei a trabalhar.

A decisão de viver em Nova York, uma cidade não tão familiarizada com o futebol, lhe deu um pouco de tranquilidade, não é mesmo?
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Quando você é jogador, sempre pensa em futebol. E quando é treinador, pior ainda, o futebol está sempre presente. Mas é verdade que, social e culturalmente, os Estados Unidos não são um país do soccer. Há outros esportes que estão mais integrados à cidade. Lá vivem 14 milhões de pessoas e cada um faz o que bem entende. Bom, nós fazemos o que bem entendemos (risos): estamos vivendo, conhecendo esta nova vida e curtindo as milhões de coisas que ela tem para oferecer.

Então o Guardiola pode caminhar tranquilo por lá...
E em Barcelona também! Sempre saio para caminhar tranquilamente, mas é verdade que lá passo completamente despercebido.

De que aspectos do futebol você sentiu mais falta durante esse tempo?
Do futebol em si. De tudo o que cerca o futebol, nem tanto. (Entender) como um time joga, como você pode derrotá-lo, aquelas peculiaridades específicas sobre os jogadores que você tem e pode utilizar para ganhar uma partida. Ao menos para mim, é isso que me faz estar neste esporte. Se não fosse por isso... (pensa) Todo o resto não é uma coisa da qual você precise constantemente. Posso viver perfeitamente sem as outras coisas. E digo mais: vive-se muito melhor sem elas. Mas o futebol em si é uma delícia.

O que um projeto precisa ter para seduzi-lo?
Como para todos os treinadores, que alguém queira você. É simples assim. Suas ambições, por melhor que você tenha ido antes, não mudam. Sentir-se querido é a coisa mais importante na vida. Querido pelas pessoas ou por um clube, tanto faz. O que conta é eles mostrarem que o querem e você imaginar que pode se divertir. Como disse quando cheguei ao Barcelona: meu objetivo não é ganhar títulos no final da temporada, mas conseguir que todos se divirtam e que os jogadores tentem fazer o que você acredita ser o melhor para ganhar os jogos. A ideia é sentir prazer com o futebol.

Após tantas conquistas, você estabeleceu um padrão bastante alto para seu retorno. É uma pressão extra?
Não mudaria nada! Prefiro continuar assim, tendo feito o que fiz, do que o contrário, ter que começar em um lugar onde você precisa conquistar seu espaço. É um pouco diferente: quando comecei no Barcelona, uns 86% ou 87% das pessoas não me queriam lá. Agora, como as coisas deram certo, surgirão clubes mais interessados em mim. Essas coisas acontecem e você não pode controlar. Fizemos o que fizemos todos juntos, graças a várias pessoas, e guardo todas as lembranças de tudo que vivi nestes anos. Podem falar o que quiserem, o que vivi é meu e ninguém pode tirar de mim.
Pep Guardiola e Jupp heynckes no treino (Foto: Reprodução)Guardiola será o substituto de Heynckes, que deixará de trabalhar no fim da temporada (Foto: Reprodução)

Durante estes últimos meses, não faltaram rumores sobre um eventual retorno. Além de muitos clubes, falou-se das seleções de Brasil e Argentina. Esses boatos chegavam até você em Nova York?
Há alguns anos teria sido impossível, mas hoje em dia existe uma máquina chamada computador, com internet, à qual você está constantemente conectado. No meu caso, é só para falar com a família e saber o que está acontecendo. E não falo de querer saber o que estão dizendo de você, mas do que está acontecendo no mundo. No final, as notícias sempre acabam chegando.

E como você se sentia diante dessa especulação?
Ficava incomodado pelos treinadores que estavam trabalhando nas equipes. Eu não gostaria de estar treinando num lugar e que o próprio clube ficasse divulgando informações enquanto eu estivesse ali. Mas sempre estive alheio a tudo, continuo alheio e assim estarei por respeito às pessoas que estão fazendo seu trabalho. Apesar de tudo, isso faz você pensar que não está recebendo propostas por ser um bom treinador, mas por ter conquistado vários títulos. Ganhamos muita coisa e, por isso, agora me querem um pouco mais do que na época em que comecei, quando apenas três ou quatro pessoas no Barcelona acreditavam em mim. Os outros pensavam diferentemente.

E quanto às seleções? Comandaria alguma?
Acho que uma seleção deve ser dirigida por alguém do próprio país. Não acredito que minha contribuição possa ser diferente da contribuição de alguém de lá. Em termos de mídia, a imprensa é mais receptiva. O trabalho de seleção se dá em um período muito curto e é extremamente importante que a relação entre o técnico e os meios de comunicação seja boa, para que haja um clima de tranquilidade. A seleção é muito ligada à identidade nacional, que é uma coisa que as pessoas levam no sangue. A partir do momento em que houvesse qualquer dificuldade, relacionariam uma coisa à outra (ao fato de ser estrangeiro). É muito melhor ter alguém que ame seu país, que conheça suas idiossincrasias e peculiaridades, assim como as da seleção. É sempre muito melhor.

Em uma entrevista passada, você nos disse que "a tática são os jogadores". Levando em conta esse princípio, é possível transmitir o futebol do Barcelona para outra equipe?
É que o princípio do Barcelona era muito simples: jogar com a bola nos pés, fazer tudo com ela. Todos os jogadores do mundo um dia decidiram jogar futebol porque, em algum lugar de seu vilarejo ou de sua cidade, onde quer que fosse, eles chutaram uma bola e gostaram. A filosofia do Barcelona, embora as pessoas digam que é muito complicada, é simples assim: controlamos a bola e vemos se alguém consegue tirá-la de nós; trocamos o máximo de passes possível e vemos se conseguimos fazer o gol. Foi isso que meus antecessores transmitiram para mim e que tentei repassar enquanto estive lá. Não sei o que estão fazendo agora, mas imagino que seja algo parecido, pela forma que estou vendo o time jogar. Portanto, fica claro o seguinte: quando você for treinar qualquer equipe, tem que transmitir aquilo no qual você acredita. E o que tentarei fazer no futuro é aquilo que fazia quando jogava, o que eu acreditava, e o que fiz nos cinco anos em que fui treinador: atacar o máximo possível, tomar a bola e fazê-la passar a quem estiver usando a mesma camisa.

Nesse contexto, é possível imaginar o orgulho e o prazer que você deve sentir ao ver o Barcelona de Tito Vilanova...
Guardiola técnico (Foto: Getty Images)Guardiola não trabalha desde a saída do Barça,
no final da última temporada (Foto: Getty Images)

Sim, claro. É o melhor presente, o melhor prêmio que eu poderia receber: ver que tudo continua bem. Quando você faz as coisas da maneira certa, elas podem continuar dando certo. É uma grande honra para mim. Depois da mensagem que foi transmitida a mim, poder passá-la para frente e ver que as coisas continuam funcionando bem é muito gratificante.

Por falar em Tito Vilanova, foi muito difícil vê-lo às voltas com problemas de saúde?
Muito. Mas sei que ele é forte e que está em ótimas mãos, com um clube que o protegerá e sobretudo com uma família que está a seu lado e que certamente está disposta a lutar para que ele melhore.

Encerrado o primeiro turno do Campeonato Espanhol, o Barcelona está muito à frente do Real Madrid. O torneio já está decidido?
Teriam que acontecer muitas, mas muitas coisas para que o Barcelona perdesse este campeonato. Não acredito, a distância é quase inalcançável. Não porque o Real não possa ganhar todas as partidas, mas porque não acredito que o Barcelona possa perder tantos jogos. É muito difícil. São jogadores acostumados a ganhar e que têm muitas qualidades. Acho que o campeonato está mais do que decidido.

Já que estamos falando do Campeonato Espanhol, sabemos que você é um grande admirador de Marcelo Bielsa, a quem uma vez chamou de "melhor do mundo". O que você diria dele agora que o Athletic Bilbao passa por um momento ruim?
É difícil fazer uma análise quando você não está devidamente inteirado do assunto, mas acho que ele deixará um legado enorme. O que aquele time fez no ano passado foi incrível, a partida que jogamos contra eles foi uma das melhores que já fizemos. O clube perdeu jogadores muito importantes e tem dificuldades para fazer contratações, porque precisa atuar num mercado muito restrito. Se quiserem saber minha opinião sobre ele, digo que não é mais a mesma, e sim ainda melhor. Minha admiração por ele continua intata. Admiro como enfrenta os obstáculos, sua valentia, e como dá a cara a tapa quando as coisas vão mal, assim como a maneira que tem de buscar soluções por meio de sua metodologia e de seu trabalho. Tento aprender o máximo possível, porque sei que no esporte nem sempre é possível estar por cima. E admiro a força que ele demonstra nos momentos difíceis. Acho que o fato de Marcelo continuar exibindo toda essa energia é um privilégio para o futebol espanhol e o futebol em geral.
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