Olhar Direto

Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Notícias | Esportes

Brasil em San Juan: duas semanas de pressão e adeus melancológico

De mera formalidade, a primeira fase do Sul-Americano Sub-20 se transformou em um pesadelo para a seleção brasileira. De forma melancólica, o Brasil foi derrotado na sexta-feira por 2 a 0 pelo Peru, no Estádio Bicentenário, em San Juan, na Argentina (veja os melhores momentos da partida ao lado). Foi a segunda vez apenas que o time canarinho ficou fora da fase final do torneio. Assim, os brasileiros deixaram escapar a vaga no Mundial da categoria, o que não acontecia desde 1979.


Sem conseguir apresentar um bom futebol em nenhuma das quatro vezes que esteve em campo, a Seleção deixa o torneio cheia de frustrações e incertezas quanto ao futuro de alguns jogadores e da comissão técnica. O próprio técnico Émerson Ávila admitiu que a campanha brasileira foi vergonhosa.

Apontado como favorito do Grupo B, o Brasil nunca se impôs na competição. Desde a estreia, no empate por 1 a 1 com o Equador, no dia 10, a garotada sentiu o peso da má atuação, e o clima nunca mais foi o mesmo na delegação.

Antes da eliminação, o pior momento da campanha na primeira fase certamente ocorreu após a derrota por 3 a 2 para o Uruguai, no último sábado. Àquela altura, a Seleção amargava a lanterna do Grupo B, somava apenas um ponto em dois jogos e tinha seu pior início na história do torneio. Após a partida, o clima era de total abatimento em toda a delegação brasileira, já que uma precoce eliminação na primeira fase já era uma realidade.

- Vem pressão em cima dos jogadores. É normal. Desde o começo eles sabem que na seleção brasileira a cobrança é muito grande - disse o técnico Émerson Ávila, logo após a partida.

Entre os jogadores, havia o clima de desconfiança. Durante todo o período de preparação na Granja Comary, em Teresópolis, a Seleção treinou com uma formação ofensiva, com apenas Misael como volante, dois armadores e três atacantes. Na Argentina, o esquema, no entanto, durou apenas um jogo, e o Brasil passou a atuar no tradicional 4-4-2 já na segunda partida. De fato, a equipe canarinho nunca repetiu a mesma formação durante todo o torneio.

Outro questionamento interno ocorreu quanto ao aproveitamento do meia Rafinha Alcântara. Destaque da Espanha sub-19, o jogador do Barcelona optpu por jogar pela Seleção e, antes da competição, era tratado como uma conquista pela CBF. Rafinha não atuou na estreia e entrou no segundo tempo da partida contra o Uruguai, quando não saiu mais do time.

Pressão e visita de Marin

No dia seguinte ao jogo contra o Uruguai, o clima na concentração do Brasil em San Juan era de tristeza, apesar do discurso de confiança adotado pelos jogadores. Era o momento de agir. O primeiro passo da comissão técnica foi uma conversa com os jogadores. No papo com os atletas, Émerson Ávila reconheceu que a antiga formação - treinada exaustivamente na Granja Comary - não estava funcionado e avisou que o novo esquema seria mantido. O tom de confiança se deu a partir do momento em que o treinador assegurou que o time cresceria dentro do Sul-Americano atuando de uma nova maneira. A garotada comprou a ideia, e o treinador ganhou pontos com o grupo.

O trabalho em campo também foi feito. Suspenso, Wallace deu lugar a Igor Julião para a partida contra a Venezuela. Outras três mudanças ocorreram. De uma só vez o treinador trocou Mattheus, Fred e Adryan por Rafinha, Felipe Anderson e Bruno Mendes.
O clima, no entanto, ainda era de apreensão. Percebendo os jogadores tensos, na terça-feira, após dois dias de pressão e abatimento, a comissão técnica decidiu que era o momento de relaxar. Pela primeira vez, os jogadores puderam aproveitar a piscina do hotel onde estão concentrados e tiveram uma refeição especial, preparada pelo cozinheiro Jaime Maciel.

O resultado da manhã de lazer já foi percebido no treino de terça à tarde, véspera da partida contra a Venezuela. Os sorrisos voltaram e o clima de confiança contagiou o grupo. Algumas crianças no treino no Estádio do San Martin também ajudaram a alegrar o ambiente. Em um breve contato com o grupo, ganharam chuteiras de alguns jogadores.

O momento de tranquilidade, porém, foi rápido. Na quarta-feira, dia do jogo contra a Venezuela, o presidente da CBF, José Maria Marin, e o ex-jogador Bebeto - pai do meia Mattheus, barrado na véspera - desembarcaram em San Juan, em uma viagem que não estava planejada, pelo menos na primeira fase. Os dois foram à Argentina prometendo apoio. Mesmo assim, a presença aumentou a pressão sobre a comissão técnica. Logo na chegada ao hotel da Seleção, em San Juan, Marin admitiu temer uma eliminação precoce.

- Pelo trabalho realizado, pelo papel que o Brasil tem no cenário mundial nas categorias de base, pelas conquistas do passado, confesso que seria uma grande decepção para todos nós. Não escondo isso.

Ávila ganha o grupo, mas futebol não aparece

Os jogadores, porém, estavam fechados com a comissão técnica, principalmente após a preleção do técnico Émerson Ávila, antes do jogo contra a Venezuela, vista como decisiva para a vitória naquele dia na visão de muitos jogadores. Em alguns minutos, um vídeo com um gol de cada jogador do grupo e uma defesa, no caso dos goleiros, foi exibido. A ideia partiu do analista Lucas Oliveira e impressionou a garotada, já que alguns atletas ainda não jogam como profissionais e não deve ter sido fácil achar jogadas de todos eles. Rafinha Alcântara, por exemplo, teve um gol pelo Barcelona B exibido na gravação.

No vídeo, a trilha sonora foi a música "Tá escrito", do grupo carioca "Revelação", que acabou se tornando o tema da Seleção sub-20. O Brasil derrotou a Venezula por 1 a 0, e a confiança voltou. A Seleção dependia apenas de uma vitória simples contra o Peru para avançar.

Foram dois dias mais tranquilos, apesar de o peso de uma possível eliminação ainda pairar pelo ar. Nesta sexta-feira, antes da partida contra o Peru, os jogadores deixaram a concentração para seguir para o Estádio Bicentenário ouvindo e cantando a canção do Revelação. O ambiente era bom, mas o resultado não aconteceu, em mais uma péssima atuação da Seleção. Na saída de campo e no vestiário, muito choro. A impressão deixada pelos brasileiros é a de que, se não faltou comprometimento, o futebol do Brasil que conhecemos não chegou nem perto de San Juan.

Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
Sitevip Internet