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Sábado, 20 de julho de 2024

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Caso de transplantada que teve bebê pode ajudar pacientes, dizem médicos

Um tratamento de fertilização in vitro feito na Argentina com uma mulher que passou por um transplante cardíaco pode ajudar e dar nova esperança a pacientes que passaram por este tipo de cirurgia e têm baixa fertilidade, apontaram pesquisadores do Centro de Educação Médica e Pesquisas Clínicas (Cemic), em Buenos Aires, para agências internacionais nesta terça-feira (29).


Juliana Finondo, de 39 anos, passou por um transplante de coração há 13. Após dois anos tentando engravidar por meios naturais, sem sucesso, ela obteve uma filha, concebida por fertilização in vitro. A menina recebeu o nome de Emilia.
A paciente transplantada Juliana Finondo, de 39 anos, segura sua filha Emília junto com o marido, Gerardo Tuya, em

A fertilidade de Juliana havia sido afetada pelos remédios que ela tem que tomar pelo resto da vida devido à cirurgia, segundo os especialistas. "Não existem muitos antecedentes no mundo de uma paciente trasplantada que tenha conseguido ficar grávida por fertilização in vitro", disse Gustavo Leguizamón, chefe da Unidade de Gravidez de Alto Risco do Cemic para agências internacionais.

Mulheres que passaram por transplante podem ter sua fertilidade diminuída e a reserva de óvulos afetada, apontou Sergio Papier, diretor médico do Centro de Estudos em Ginecologia e Reprodução da Argentina (Cegyr, na sigla em espanhol).

"É novo que uma paciente trasplantada cardíaca possa encarar um tratamento in vitro", disse o diretor do Cegyr, que não participou do procedimento médico.
Houve também um pouco de sorte, na primeira tentativa aconteceu a gravidez"
Sérgio Perrone,
médico da paciente transplantada

Coquetel de remédios
Os imunossupressores, coquetel de até dez medicamentos que as trasplantadas devem tomar para garantir a convivência com seu novo órgão, impedem o desenvolvimento de novas células de rápido crescimento, entre elas as que são necessárias para obter a gravidez, dizem os médicos.

Juliana teve que se submeter a exaustivos exames para assegurar que seu organismo não apresentava nenhum sintoma de rejeição ao novo coração, enquanto fazia a fertilização in vitro.

"Houve também um pouco de sorte, na primeira tentativa aconteceu a gravidez, e após um tratamento com controle muito estrito a cada 15 dias, durante nove meses, Emilia nasceu sem complicações no dia 15 de janeiro", disse Sergio Perrone, chefe da Unidade de Trasplante Pulmonar e Cardiopulmonar do hospital da Trinidad Mitre, na Argentina, e cardiologista da paciente.

O tratamento poderia trazer riscos para a paciente e o feto, reconheceu o médico. "Os efeitos dos imunossupressores no feto não são conhecidos." Por este motivo, a equipe montou um plano especial de medicação que, por um lado, evitava a rejeição do coração, e por outro permitia a gravidez.

"Tivermos que retirar as drogas que interferem no desenvolvimento celular, mas uma mudança brusca implicava em riscos para a vida, assim foi necessário ajustar os medicamentos meses antes da concepção e incluir remédios para estimular a produção de óvulos, algo arriscado por si só", disse Perrone.

Ricardo Jamdes, especialista em medicina reprodutiva do Cemic, que fez o processo de fertilização, também se referiu às dificuldades do processo. "A estimulação do ovário pode produzir uma elevação dos níveis de estradiol plasmático, e isto poderia trazer mudanças hemodinâmicas, cujo impacto desconhecíamos em uma paciente trasplantada."

Um processo de fertilização similar pode ajudar, no futuro, pacientes que tenham feito transplante, de acordo com os médicos.

Novas complicações
Superados os desafios da gravidez de Juliana, a gestação trouxe novas complicações. "Nas pacientes [com problemas] cardíacos, ainda mais as transplantadas, uma das coisas que devem ser controladas é o crescimento normal do bebê no útero", explicou Leguizamón, a cargo da assistência à gestação.

Na gravidez, o volume de sangue "aumenta 40% e isso é muita sobrecarga para o coração. Esta situação faz com que não chegue sangue suficiente ao útero e o bebê se adapta crescendo menos, portanto a ameaça é de prematuridade", disse Leguizamón.

"Nunca tive medo, sou muito otimista, confiei", disse Juliana, que trabalha como design gráfica da província de Entre Ríos, no leste da Argentina, e mora na capital argentina.

A maternidade foi o motivo que a fez decidir se submeter a um transplante em 1999, "porque os médicos disseram que não poderia encarar uma gravidez se não fizesse o transplante", explicou Juliana.

Desafio
O nascimento de Emilia no período correto e de maneira saudável é o ponto mais alto do trabalho da equipe médica, mas o desafio continua, dizem os especialistas. Perrone explica que o parto ocorreu com "equilíbrio", alcançado ao longo dos nove meses de gestação, e que "agora é necessário começar outra vez" o trabalho de acompanhamento médico.

"A mensagem é incentivar a doação de órgãos, porque doar não só salva uma vida, mas a multiplica por muitas mais. Emilia será mãe alguma vez", disse Perrone. O cardiologista lembrou que "os avanços em transplantes foram radicais nos últimos 30 anos" e o caso da paciente argentina faz cair por terra o mito de uma vida cheia de limitações.

"Hoje em dia, um transplantado tem uma qualidade de vida excelente, muito melhor do que imaginamos", ressaltou o médico.

Em 2012, 630 doadores na Argentina permitiram realizar 1.458 transplantes, um recorde que eleva a taxa de doadores para 15,7 por milhão de habitantes, mas ainda existem 7.290 pacientes na lista de espera, segundo estatísticas do Instituto Nacional Central Único Coordenador de Ablação e Implante (Incucai, na sigla em espanhol).
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