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Domingo, 28 de julho de 2024

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Campo de golfe futurista nos EUA ensina astrofísica para crianças

No verão anterior à Feira Mundial de 1964, os líderes da cidade de Nova York começaram a agir em Flushing Meadows, no Queens, para o Hall of Science do evento. Paul R. Screvane, prefeito e presidente do Conselho da Cidade, previu que o pavilhão e suas “maravilhas da ciência” continuariam sendo uma inspiração por muito tempo. “A grandeza de Roma e da Grécia pode ser a grandeza de nosso próprio mundo”, disse, “se simplesmente aprendermos a usar as ciências em nosso benefício”.


Meio século depois, seu sonho está prestes de se concretizar ao lado daquele mesmo prédio, hoje um novo museu de ciência. No sábado, será inaugurada uma exposição permanente ao ar livre: Rocket Park Mini Golf.

O campo de golfe em miniatura do Hall of Science pode não ter a grandeza arquitetônica do Parthenon, mas conta com foguetes reais da Nasa três vezes maiores que as colunas gregas e, sob alguns aspectos, suas aspirações são mais heróicas do que qualquer coisa no Fórum. Acredita-se que este seja o primeiro campo de minigolfe projetado para ensinar astrofísica. Possivelmente até mesmo a pré-adolescentes.

Aprender ciência através de minigolfe pode não soar imediatamente como um avanço educacional, mas há alguns motivos para otimismo. Primeiro, há o gênio nativo para esse esporte. Enquanto os estudantes americanos são continuadamente vencidos em testes internacionais de ciência, projetistas americanos de minigolfe, há tempos, lideram este âmbito no mundo – criando tecnologias como obstáculos em formato de moinho de vento, pistas curvas, piratas que riem e vulcões entrando em erupção.

Experimento

Em segundo lugar, há os resultados de um experimento, realizado com jogadores de minigolfe da quarta série, que conduzi junto a um astrofísico, Michael Shara, do Museu Americano de História Natural. Quando não está preparando exposições ou usando o telescópio Hubble para estudar explosões estelares, Shara é um golfista de 30 buracos.

Com sua ajuda, preparei um questionário para testar o conhecimento psicológico dos estudantes da quarta série, antes e depois de jogar no campo. Essa comparação de avaliações “formativas” contra “cumulativas” é uma técnica padrão para curadores de museus medirem o impacto de uma exposição – embora eu deva apontar que o nosso não era um experimento rigorosamente duplo-cego. O tamanho de nossa amostra era de dois participantes, e eu tinha uma boa ideia sobre quem eram: meu filho, Luke, e seu amigo Satya Varadarajan.

No questionário antes do golfe, ambos erraram a maioria das respostas. Quando questionados sobre a ausência de peso de astronautas em órbita, eles disseram erroneamente que os astronautas estavam longe demais da Terra para serem afetados pela gravidade. Quando questionados sobre por que a gravidade da Terra não fazia com que uma espaçonave caísse ao solo, Luke disse que não sabia, e Satya ofereceu uma hipótese nada ortodoxa. “A gravidade”, explicou, “não quer que a nave caia, então ela não deixa".

Eles pareceram ótimos candidatos para o curso do Rocket Park. O nome é baseado nos foguetes de dez andares, Atlas e Titan, expostos do lado de fora do Hall of Science desde a feira de 1964. Guiados por docentes do museu (outro pioneirismo no minigolfe), você inicia sua missão de nove buracos acertando a bola através de uma “janela de lançamento” (uma versão do antigo obstáculo de moinho) e atingindo a “velocidade de escape” apropriada. Então você envia a bola por um looping e aprende tudo sobre astronautas sem peso, para depois aprender a evitar detritos no espaço e encontrar o ângulo correto para a órbita geossíncrona – ou pelo menos você aprende tudo isso se estiver lendo as placas e ouvindo o docente, como Shara e eu fazíamos junto ao diretor do museu, Eric Siegel.

Impacientes

Nossos participantes experimentais, porém, já estavam cinco buracos à frente e pareciam muito mais interessados em golfe do que em física. Fiquei gritando para que fossem mais devagar e prestassem atenção, mas Siegel os observava com os olhos tolerantes de um curador veterano.

“Em nosso museu, há sempre esse desafio de acomodar o desejo de jogar das pessoas enquanto transmitimos mudanças cognitivas”, disse ele, explicando que ele não esperava, de verdade, que alunos da quarta série lessem as placas. “As placas são mais para os pais, francamente, quando eles têm algo que querem passar às crianças. Se você consegue embutir a verdadeira física da balística no jogo, então eles estão aprendendo enquanto jogam."

No buraco da órbita geossíncrona, onde a bola gira em torno de um grande vaso antes de cair por uma abertura, Shara mostrou às crianças como a bola estava seguindo arcos parabólicos que ficavam abruptamente mudando, ou precedendo.
“Isso também acontece no espaço tempo real,” disse Shara, explicando como os objetos seguiriam rotas similares num buraco negro, e como a órbita parabólica de Mercúrio muda de direção. “A gravidade do Sol está distorcendo o espaço ao seu redor, então Mercúrio faz o mesmo movimento louco que a bola de golfe acabou de fazer."

A demonstração do buraco negro conseguiu brevemente a atenção dos meninos, assim como a chave de fenda no buraco de lixo espacial, mas fora isso eles pareciam interessados basicamente em suas pontuações no golfe. Eu estava prestes a julgar o campo de golfe como um fracasso pedagógico, até que apliquei o teste de astrofísica novamente depois da visita.

Estimativa correta
 
Satya, aparentemente educado pela placa no buraco da chave de fenda, deu a estimativa correta para a quantidade de detritos espaciais em órbita (um milhão). Ele ainda insistiu que a gravidade não queria que as naves caíssem, mas acho que estava apenas brincando com minha incredulidade.

Luke havia lido o bastante no buraco do looping para perceber que naves em órbita ainda são afetadas pela gravidade, e que elas e seus habitantes sem peso estão, na verdade, caindo continuamente, mas se movendo com velocidade suficiente para permanecer num arco orbital, da mesma maneira que a bola de golfe dava voltas no looping.

No geral, a pontuação de ambos melhorou depois da partida de golfe, levando-me a pensar se os projetistas de minigolfe deveriam começar a trabalhar em mais campos educacionais. Poderiam os estudantes de biologia aprender a dar tacadas num vírus através das muitas armadilhas do sistema imunológico? Poderia uma partida de golfe, simulando uma jornada pelo sistema digestivo, ser instrutiva sem enojar jogadores demais? Você poderia ensinar mecânica quântica ao desenhar um campo de golfe com resultados aleatórios em cada buraco – e então fazer alunos de psicologia analisarem as reações dos jogadores frente a pontuações irritantemente arbitrárias.

Claramente, são necessárias mais pesquisas. Todavia, por enquanto, parece seguro chamar o Rocket Park de sucesso de curadoria, como Shara concluiu. “O golfe está cumprindo a missão do museu”, disse. “As crianças aprenderão um pouco. Os adultos também. O golfe é uma boa diversão. E os foguetes são legais." Nesse último ponto, os alunos da quarta série estão totalmente de acordo.
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