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Sábado, 03 de agosto de 2024

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Joel Santana defende o 'inglês boleiro'

Joel Santana é uma daquelas figuras inconfundíveis do futebol. Aos 60 anos e há 13 meses treinando a seleção da África do Sul, o treinador voltou aos holofotes não apenas pelo trabalho que começa a dar sinais de sucesso com a classificação do país para a semifinal da Copa das Confederações . Mas também por começar a dar entrevistas em inglês. As imagens chegaram ao Brasil e logo viraram moda por causa da pronúncia peculiar.


- A própria imprensa daqui me pediu. Eles me falaram: ‘professor, a gente não se importa se você vai falar certo ou errado. O que a gente quer é ouvir o seu sentimento’. Achei isso muito bacana.

Joel Santana diz que seus jogadores não se importam com seus erros no inglês
A primeira vez que Joel Santana deu entrevistas em inglês sem a ajuda de um intérprete foi logo após o amistoso contra a Polônia, o último antes do início da Copa das Confederações, em que a África do Sul venceu por 1 a 0. O treinador surpreendeu a todos ao decidir responder as perguntas dos jornalistas locais no idioma do país. Até o capitão do time, Aaron Mokoena, que estava ao lado de Joel, brincou com o "coach". 

- Não sabia que você falava inglês tão bem - disse.

Com os meus jogadores eu não tenho nenhum tipo de problema porque o futebol é mundial. A gente conversa, eu entendo eles, eles me entendem e a gente bate o maior papo"
Joel Santana foi elogiado no dia seguinte pela imprensa local, que chegou a escrever que "torcia para o treinador se animar com o bom rendimento do time para aprender novas palavras" e destacava "o esforço do brasileiro de tentar agradar".

- Deram muita ênfase nesta minha história de eu não falar inglês. O técnico da Inglaterra (Fabio Capello), que é italiano, não fala inglês. Vim para cá e começaram com isso. Que eu não falo inglês, que não falo isso. Besteira. Trabalhei quatro anos nos Emirados Árabes, seis anos na Arábia Saudita, um ano no Japão. Acham que eu ganhei a vida como? Nada me aborrece, mas tem certas coisas que não dá mais para aturar. Com os meus jogadores eu não tenho nenhum tipo de problema porque o futebol é mundial. A gente conversa, eu entendo eles, eles me entendem e a gente bate o maior papo.

Bem antes das entrevistas, o carioca Joel Santana já falava algumas palavras em inglês com os jogadores nos treinos. O treinador usava o básico para passar instruções e explicar a parte tática. A linguagem não era um problema. Certa vez, quando viu uma jogada violenta no trabalho com bola, Natalino correu para o marcador e falou com firmeza:

- Never more (nunca mais) - disse.

Joel critica o 'deboche vagabundo'

Mas se na África do Sul os erros na pronúncia do treinador são aceitos e perdoados pela maioria da população, no Brasil eles viraram motivo de brincadeira. Aos 60 anos e com um currículo vencedor, Joel Santana tenta conviver com as ironias.

- Hoje em dia no futebol você tem mais inimigo do que amigo. Eles pegam uma centelha e tentam fazer sempre um incêndio. Mas está tudo bem. Temos que mudar a nossa linha. A imprensa séria é maravilhosa. Agora quando vai para o deboche vagabundo, eu não tenho mais idade para isso. Tenho dois filhos, tenho a minha vida feita, pronta. Não vou ficar aturando palhaçada dentro da minha escola. Tenho o maior respeito por quem me trata bem. Eu tenho uma história, um currículo, uma vida. Não sou aventureiro. Não sou um cigano, não comecei ontem. Meu ciclo é muito grande.

Nunca tive essa preocupação (de ser demitido). Mas futebol é futebol. Você vê o Muricy. Tricampeão brasileiro, eleito o melhor técnico do país por três, quatro anos. E aí perdeu uma Libertadores..."

O início de Joel Santana no comando da África do Sul foi difícil. Chamado de "Sr. Ninguém" pela imprensa local, ele foi aos poucos conquistando o respeito de todos. Mesmo assim, ainda convive com treinadores se oferecendo para o cargo.

- É ridículo treinador ficar cavando. Não tem cabimento. Os meus primeiros três, quatro meses aqui eu fiquei preocupado. Porque é um cargo cobiçado. E todo cargo cobiçado recebe críticas, algumas verdadeiras, outras que tumultuam o ambiente. Mas estou tranquilo. As pessoas com quem trabalho aqui são sérias. Se não estivesse feliz pegava o avião e ia embora. Nunca tive essa preocupação (de ser demitido). Mas futebol é futebol. Você vê o Muricy. Tricampeão brasileiro, eleito o melhor técnico do país por três, quatro anos. E aí perdeu uma Libertadores... Já estou carimbado com essas coisas. Isso não me incomoda mais.

Morando na área mais rica de Joanesburgo, em cima de um enorme shopping frequentado pela elite do país, Joel Santana continua com o jeito simples. A solidão é um problema. A esposa está no Brasil. A filha estuda em Londres. Natalino sai pouco do apartamento, vai quase sempre aos mesmos restaurantes. Um dos preferidos é o Trumps, que tem como especialidade a comida italiana. Um motorista o leva todos os dias para a sede da federação, onde fica das 10h às 15h.

- Se colocar uma venda em mim, andar dez minutos e me soltar na rua eu estou perdido. Não sei voltar. Jornal aqui eu não leio. Televisão, eu assisto. Tem uns canais de esporte muito bons. Futebol brasileiro eu vejo todos os jogos. Acordo de madrugada só para ver.

Apesar disso, o treinador se apaixonou pelo país. E garante ter mudado um pouco a forma de ver o mundo.

- No Brasil, quem quer trabalhar um pouquinho não passa fome não. Agora aqui na África os caras não têm o que comer. Não têm mesmo.

Atualmente, Joel Santana é querido até pelo presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Supersticioso, o treinador torce pela presença dele no estádio Ellis Park na próxima quinta-feira para assistir à partida contra o Brasil, pela semifinal da Copa das Confederações.

- Ele é pé quente. Toda vez que ele vai a gente ganha. Ele foi uma vez quando o time estava mal e disse para os jogadores: "Perder é uma coisa, mas perder a honra é diferente". Outra vez quando ganhamos ele foi lá cantar com a gente no vestiário. Gostei dele. Ele é um cara animado, um cara legal.

Joel já admitiu que vai se emocionar na hora do hino brasileiro. O treinador sabe que a missão contra a seleção será muito difícil. Ele ainda vê problemas na África do Sul. Precisa mais tempo para acertar o time. Para não perder o grupo, resolveu não convocar o principal do país: Benni McCarthy, de 31 anos.

- O que eu preciso melhorar é a minha frente. Ainda não tive como colocar o time dos meus sonhos. Tive problemas com jogadores se machucando. Por isso, treinei o time com uma muralha da China, com três homens fortes de marcação. Eles foram bem e pensei, não posso arriscar muito não. Estou jogando contra campeões de continente. Não é contra um time da esquina.

Uma seleção ainda em formação. Mas que Joel Santana promete estar pronta para daqui um ano. Para o objetivo principal: a Copa do Mundo.

- Uso aqui um sistema que vem dando certo comigo. Desde quando conquistei a Mercosul (com o Vasco em 2000). Depois com o Flamengo. É um sistema que vem colocando o arroz e o feijão lá em casa. Ele é danado de bom. Quando encaixa mesmo e os caras confiam, ele é danado. Mas os jogadores precisam treinar.
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