Olhar Direto

Sexta-feira, 10 de maio de 2024

Notícias | Cidades

papo espaço-tempo-cósmico-interplanetário

Leia a entrevista concedida por "Universo" antes do reencontro com a família

Foto: Reprodução

Leia a entrevista concedida por
Era um domingo de Sol, o dia estava bonito em Chapada dos Guimarães. Naquele 30 de junho, quase um mês atrás, tinha a missão de me encontrar com um dos mais notáveis e simpáticos moradores da cidade: o mendigo Bruno Adalberto, popularmente conhecido como Universo.


Morador de rua mais querido de Chapada é cabo da Marinha que perdeu a memória andou pelo país

Já sabia que ele iria embora para se encontrar com a família. Precisava, contudo, saber um pouco mais de sua história, sua trajetória, sua vida.

Humilde, bem humorado, inteligente e educado, Bruno, ao longo dos anos, mesmo sem querer, tornou-se um ser folclórico de Chapada, uma espécie de patrimônio, para alguns.

Apesar de, em determinados momentos, não articular as ideias com nexo - fruto de um problema de memória de tempos atrás -, Bruno sempre se mostrou receptivo.

Ele gostava de declamar poesias, de prosas filosóficas sobre o espaço-tempo-cósmico-interplanetário, de dar risada, de fazer um som. Não raras às vezes, dava uma palhinha no violão, mais frequentemente na praça Dom Wunibaldo - a principal da cidade -, para alegria de todos.

Cenas de turistas parando para tirar foto com ele, de pessoas que acenavam ou buzinavam para cumprimentá-lo eram comuns ser presenciadas. De tão popular, ganhou fan page na rede social Facebook.

Não foi difícil encontrá-lo naquela ocasião. Bastou uma volta pela praça central de Chapada para localizá-lo sentado em uma mesa de boteco, sozinho, como de costume, apreciando uma cerveja. Me aproximei e fui logo saudado com um sorriso.

Bruno estava de camiseta e bermuda, um tanto maltrapilho.

"E aí, cara? Como é que tá? Dia bonito, diz aí?", disse a mim, estendendo a mão para me cumprimentar. Já havíamos nos esbarrado pelas bandas de Chapada. Falei que gostaria de entrevistá-lo e ele topou. "Senta aí então e toma uma cerveja comigo. Pode deixar, é por minha conta". E assim foi.

Ao longo da conversa, entre momentos esclarecedores e outros demasiadamente abstratos, Bruno - que completa 33 anos em dezembro - falou da família, da profissão que exercia como cabo da Marinha antes de decidir cair na estrada, das andanças, de como foi parar em Chapada e como ganhou o famoso apelido.

"A vida é uma erupção sentimental. É preciso manter o equilíbrio, buscando o auto-conhecimento. É como se fosse uma ampulheta. Como se nós não pudéssemos aproximar, ou reaproximar o destino..", disse, como que pensando alto, antes de mais um gole de cerveja.

Bruno foi localizado pelo irmão Carlos Alexandre Martins Pereira, por meio da ajuda de uma assistente social de Chapada, depois de mais de uma década. Nesta semana, Carlos veio a Chapada e retornou com o irmão para o Rio de Janeiro. O mais querido morador de rua de Chapada vai deixar saudade para muitas pessoas, mas afirma: um dia, deve voltar.


Foto: Portalchapadense

Confira a entrevista:

CuiabáMais - O seu nome é Bruno mesmo? Como que você veio parar aqui em Chapada dos Guimarães?

Universo - Sim, meu nome de batismo, de prática e vontade civilizacional é Bruno Adalberto Martins Pereira, em dezembro faço 33 anos. Como eu vim parar aqui, cara..tem a ver com a busca, com a busca emancipatória da mente, entende? Eu saí de casa, do emprego. Trabalhava na Marinha, como soldador. Eu era cabo. Mas, cara, algo me inquietava, eu precisava achar o significado da existência. E aí fui vagar. Aqui (Chapada dos Guimarães) é um polo eco-turístico e místico, mas também é um polo judicial interplanetário. É aqui que viemos equilibrar nossas energias. O lugar onde funciona nosso eixo umbilical. Não tem essa luz branca aqui? (aponta). É como se eu dissesse: "Todo lugar que eu vou essa luz branca está no mesmo lugar". Quando você tiver a encontrado no mesmo lugar, você encontrou o seu polo umbilical de existência.

CM - E você encontrou aqui?

Universo - Sim, encontrei. Aqui eu sou feliz, apesar que sou metaleiro! Mas tenho muitos amigos do reggae, do samba também. Mas, cara, meu irmão me achou, tenho que voltar para a família. Estou com muita saudade. Devo voltar um dia para cá. Aqui encontrei minha luz, minha paz interior.

CM - Como foi que seu irmão te encontrou?

Universo - Por meio de uma assistente social. Ela perguntou o nome de meus familiares, foi atrás e conseguiu o contato de meu irmão. Daí depois, ficou fácil.

CM - Como foi falar com alguém da família depois de tanto tempo?

Universo - Cara, foi um barato! As memórias começaram a vir, fui me lembrando das coisas..estou com muita vontade de ver meu irmão, meu pai. É uma nova etapa da vida que começa.

CM - O que você pretende fazer nessa nova etapa da vida?

Universo - Ah, não sei ainda. Quem sabe retomar a profissão de soldador de profundidade. Eu era da Marinha, cabo. Quero ver meu pai. Ele se chama Antônio Carlos Pereira, é um usineiro aposentado, trabalhou de forma exemplar na hidrelétrica de Furnas. A minha mãe, morreu, quando tinha 42 anos.

CM - E o apelido, como surgiu?

Universo - Foi o Gordo William que me deu! Ele é um artesão hippie muito talentoso. Foi num dia de muita festividade e comemoração. A gente estava em Campo Grande (MS), num posto tomando umas. Tudo tinha ocorrido bem na noite anterior, aí eu "salvei" ele. Na hora que passei um fumo para ele, ele virou e exclamou: "Universo! A partir de agora você vai se chamar assim". Eu tinha uns 23 ou 27 anos, aí surgiu a presença do Universo na minha vida. O Universo é uma coisa que quero atribuir a expansão da consciência. Foi a mensagem mais clara até no meu próprio amadurecimento que eu esperava, de reconhecimento público. E deu certo. Eu espero existir por aqui. Bruno, outrora Universo.

CM - Como você se classificaria?

Universo - Acho que um forasteiro, um viajante em busca da emancipação da consciência-cósmica, pela verdade das coisas, que sempre gostou de ler. Ah, cara, sei lá, vamos fazer um som depois? Tenho um cavaquinho, um banjo e um violão.

CM - E onde estão eles?

Universo - Estão todos no meu navio, no meu navio de corveta.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 

Comentários no Facebook

xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet