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Sexta-feira, 17 de maio de 2024

Notícias | Ciência & Saúde

Adeus cigarro

O adeus às tragadas

Sem fórmulas mágicas, largar o cigarro é tarefa que exige determinação. Conheça a história de pessoas que venceram a dependência e as recomendações de profissionais da saúde para se ter sucesso na luta contra a nicotina

Sem fórmulas mágicas, largar o cigarro é tarefa que exige determinação. Conheça a história de pessoas que venceram a dependência e as recomendações de profissionais da saúde para se ter sucesso na luta contra a nicotina


Restrição ao fumo em locais públicos, redução das propagandas de cigarro e aumento dos impostos para esse tipo de produto. Não há dúvida de que o Brasil começa a abraçar de vez a política antitabagista, bandeira levantada com veemência pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e ecoada em diversos outros países. Porém, reduzir o número de fumantes avança sobre um campo que nem sempre leis e tratados podem alcançar: o primeiro passo, que deve vir da pessoa que fuma.

Se o cigarro é prejudicial, e isso já faz parte de consenso geral, parar nem sempre é tarefa fácil. Segundo pesquisa da conceituada revista britânica New Scientist, 85% das pessoas que param de fumar recaem na armadilha em menos de um ano. Apenas 3% conseguem de fato deixar as tragadas de lado. Resultado de uma dependência química à nicotina. Para vencê-la, especialistas apontam apenas uma fórmula: a determinação. 

Para largar o cigarro, Maurício Ramos optou por um tratamento médico, à base de medicamentos e de acompanhamento psicológico

Depois de 20 anos de dependência do cigarro, Gercilaine Brum de Figueiredo trocou o vício pelos exercícios físicos e hábitos de vida mais saudáveis

A chef de cozinha Débora Bassoli contou com o apoio de um grupo de ajuda para fumantes para largar o cigarro

Um mal além do próprio organismo
Um projeto de lei encaminhado pelo governador Roberto Requião à Assembleia Legislativa do Paraná causou polêmica no início do mês passado. Pelo texto, a intenção é proibir o fumo em locais públicos fechados com circulação de pessoas – como bares, restaurantes e casas de espetáculo – em todo o estado. Apesar das discussões, essa não é uma medida inédita. Em São Paulo, lei semelhante foi aprovada no início de abril.

As iniciativas brasileiras en­­grossam o coro de ações já tomadas em diversos outros países e apoiadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O objetivo principal é abolir os males aos chamados fumantes passivos – pessoas que não fumam, mas que estão expostas à fumaça.

Membro do comitê antitabagista do Hospital das Clínicas e professor da UFPR, o médico Jayme Zlotnik aponta que o fumante passivo sofre as mesmas consequências, embora em menor grau, que o ativo. “Imagine os garçons de um restaurantes em que é permitido fumar, por exemplo. Ele está sujeito o tempo todo as 4,7 mil substâncias maléficas do cigarro, 60 delas cancerígenas”, diz.

Mesmo em ambientes menores, como em casa, os riscos para as pessoas expostas à fumaça são grandes. “Elas estarão mais suscetíveis a doenças, a maioria pulmonar, como irritação das vias aéreas, bronquites e rinites. Esse problema é ainda maior com as crianças”, diz Zlotinik. “No caso dos fetos de gestantes que fumam, o caso é gravíssimo. É provável que a criança tenha um nascimento prematuro, com menos peso e menor desenvolvimento intelectual”, explica.

E os dados são alarmantes. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o tabagismo passivo é a terceira maior causa evitável de morte no mundo. Perde apenas para o tabagismo ativo e o alcoolismo. Em um ano, morrem no Brasil mais de 2,5 mil fumantes passivos.

Foi justamente para preservar a saúde de sua filha recém-nascida que o funcionário público Laertes Gonçalves Beirigo, 58 anos, abandonou o vício que o acompanhava desde os 10 anos. “Morava na zona rural e desde muito jovem era acostumado a fumar. Mas quando minha primeira filha nasceu (há 9 anos), o médico pediatra me aconselhou a deixar o cigarro, para o bem de toda a família. Foi aí que percebi a seriedade disso e decidi parar”, diz. Hoje, cigarro não entra mais na casa da família Beirigo. “A melhora na qualidade da minha vida foi de 100%”, afirma.

Medos
Segundo especialistas, três temores são as grandes barreiras para que a maioria dos fumantes largue a dependência. Saiba como vencê-los:

Ganho de peso

Apesar de os estudos comprovarem um aumento em pessoas que abandonam o cigarro, o ganho não é superior a dois quilos. Valor que pode ser facilmente contornado com uma pequena reeducação alimentar.

Ansiedade

Ao contrário do que se imagina, o cigarro não é um redutor da ansiedade, mas sim um causador. Isso porque a nicotina é um substância psicoativa, que provoca estímulos nervosos de agitação. Deixar o cigarro ajuda no combate à ansiedade e ao estresse.

Síndrome da abstinência

É a vontade de fumar, que pode levar a pequenas alucinações e sintomas físicos como dores de cabeça. Embora possam acontecer, no caso da nicotina costuma ser branda e durar apenas segundos. A dica para dribá-la é respirar profundamente e tomar água nos períodos mais críticos.

Com o desejo em mente, é hora de colocá-lo em prática. E muitas estratégias podem ser aliadas no caminho da vitória. Hábitos saudáveis de vida, como a prática de esportes, podem ser uma solução, pois reduzem a necessidade da nicotina no organismo. Assim também funciona com as atividades que se gosta de fazer, sejam de lazer ou trabalho.

Para quem não consegue parar sozinho, os grupos de apoio são os caminhos mais comuns. Dos postos de saúde (que oferecem esses programas gratuitamente) aos grupos pagos de ajuda, eles são eficientes. “O fumante se insere em um contexto, troca experiências com outros dependentes e recebe acompanhamento profissional”, diz o coordenador do Programa de Controle do Tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde, João Alberto Lopes Rodrigues. A Gazeta do Povo conversou com três vitoriosos na batalha contra a nicotina. Após anos fumando e diversas tentativas de parar, encontraram o seu segredo para o sucesso. Conheça algumas dicas:

AJUDA EXTRA

Mais do que motivação

Para o publicitário Maurício Ramos, de 44 anos, largar o cigarro foi tarefa árdua. Fumante há 20 anos, ele perdeu as contas de quantas tentativas frustradas fez até obter sucesso. “Devo ter deixado e voltado umas 40 vezes”, estima. “Como sou publicitário, achava que para criar precisava do cigarro. Tinha medo de perder a minha capacidade se abandonasse o vício, por isso acabava voltando.”

Já desanimado, Ramos desistiu de tentar largar a dependência por conta própria. Optou por um tratamento médico, à base de medicamentos e de acompanhamento psicológico, que custou R$ 1,8 mil. “No meu caso, deixar de fumar não era só uma questão de força de vontade. A equipe médica me acolheu com carinho e tornou esse processo possível”, diz.

Em muitos casos, livrar-se da dependência implica necessariamente em apelar aos medicamentos, avalia Ana Luiza Souza, coordenadora do Viva Livre – programa antitabagista do hospital Santa Cruz, do qual Ramos participou. “Existem diferentes medicamentos que são eficientes no combate ao vício, sobretudo os de reposição de nicotina. Porém, tão importante é o acompanhamento. É ele que ajuda o fumante a superar a falta da substância no organismo”, diz.

Há dez meses sem fumar, o publicitário aprova a decisão que tomou. “Deixar o fumo melhorou minha respiração e minha disposição. Além disso, minha produtividade triplicou. Não preciso interromper o trabalho para acender um cigarro.

EXERCÍCIOS

Corrida contra a nicotina

Aos 37 anos, a empresária Gercilaine Brum de Figueiredo resolveu fazer uma troca que, garante ela, já tem trazido bons resultados para seu dia-a-dia. Em vez de fumar um maço de cigarros (20 unidades) por dia, dependência que a acompanhou por 20 anos, ela encontrou a chave para o bem-estar nos exercícios físicos e em hábitos de vida mais saudáveis.

Logo que parou de fumar, há três meses, Gercilaine decidiu praticar corrida para evitar o ganho de peso e controlar a ansiedade – problema que a fazia recorrer à nicotina. O que havia surgido como complemento para a terapia em grupo do qual participava tornou-se rotina. Hoje, é o que garante a qualidade de vida da empresária. “Raramente sinto vontade de fumar. E quando surge uma ansiedade maior, tomo uma xícara de chá”, diz. “Com esses novos hábitos, sinto que me tornei uma pessoa mais tranquila, mais divertida. Enfim, mais feliz.”

A solução encontrada pela curitibana é uma das mais recomendadas por especialistas para o combate ao tabagismo. “Praticar atividades físicas estimula os hormônios psicoativos. Isso implica na diminuição de distúrbios, como estresse e ansiedade, além de gerar uma sensação agradável, de prazer”, afirma o médico Jayme Zlotnik, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e participante do comitê antitabagista do Hospital das Clínicas.

GRUPO DE AJUDA

Mudança de pensamento

Às vésperas de inaugurar um restaurante em Curitiba, a chef de cozinha Débora Bassoli, 40 anos, se define uma melhor profissional do que no ano passado. Livre do cigarro há um ano e quatro meses, ela melhorou seu paladar e olfato, sentidos imprescindíveis para a sua profissão. Hoje sente melhor os gostos e os aromas dos alimentos que cozinha.

Mas ela não venceu essa batalha sozinha. Durante uma semana, Débora frequentou um curso de programação neurolinguística para parar de fumar – espécie de grupo de ajuda para fumantes, que foca nos benefícios em se abandonar a dependência. Nas reuniões, bate-papos com especialistas em neurolinguística, psicólogos e fisioterapeutas.

O resultado foi positivo. Débora conseguiu abandonar o vício que a acompanhou por 23 anos em apenas três dias. “Nas vezes em que tentei parar sozinha, tinha uma vontade incontrolável e acabava voltando a fumar. Dessa forma deu certo”, conta. Da tão temida síndrome da abstinência, ficaram apenas poucas lembranças dos primeiros dias. “Cheguei a sonhar que estava fumando.”

Hoje, a chef nem consegue se imaginar fumando os dois maços de cigarro (40 unidades), como fazia diariamente nos últimos anos de vício. “Mudei totalmente os meus hábitos. Fui ensinada a beber água quando sentisse a vontade de fumar. Agora tenho esse bom costume de me hidratar com frequência”, diz.


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