Olhar Direto

Quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Notícias | Meio Ambiente

preservação

Índios ajudam a preservar variedades de mandioca em aldeias da Amazônia

As edições diárias do Globo Rural completam 13 anos. Para comemorar, o programa mostra uma série especial de reportagens sobre a domesticação de plantas e animais da Amazônia. Os índios baniwas preservaram e melhoraram diversas variedades de mandioca.

As edições diárias do Globo Rural completam 13 anos. Para comemorar, o programa mostra uma série especial de reportagens sobre a domesticação de plantas e animais da Amazônia. Os índios baniwas preservaram e melhoraram diversas variedades de mandioca.


A viagem partiu de Santa Isabel do Rio Negro, no norte do Amazonas. Do município de 18 mil habitantes, no meio da selva amazônica, a equipe de reportagem saiu cedo para aprender sobre o cultivo da mandioca. De voadeira, um barco rápido, foi necessário percorrer uma hora até a tribo Acariquara, que tem 20 famílias dos povos Baniwa e Baré.

A placa na entrada da aldeia deixa os visitantes à vontade: puranga pesika significa seja bem-vindo, em nhengatú, a língua comum de várias nações indígenas. O ritual de boas vindas inclui discursos e apresentações. As mulheres e a meninas oferecem pratos preparados em cada casa, que são colocados no centro do barracão comunitário.

O Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, catalogou mais de 140 variedades de mandioca na Amazônia. Só as roças dessa aldeia têm 21 tipos que garantem uma vasta produção de alimentos. Entre elas são a mandioca amarela, a gigante, a paca, a arraia e a castanha, todas devidamente identificados e anotados pelo tucháua, o chefe da tribo.
Cuidar da roça é um trabalho duro. Cada família usa um pedaço de terra por três ou quatro anos. Depois, é preciso deixar o terreno descansar. Então, é escolhida outra área, sempre um pouco mais longe da aldeia.

A índia Lúcia da Silva cultiva 11 tipos de manivas, nome dado ao caule da planta. Ela reconhece todas pelas folhas. Quando arranca uma raiz, que é a mandioca, a índia já corta um pedaço do talo para outra crescer.
Os índios mantiveram essa forma de trabalhar as manivas diferentes ao longo de gerações e dos séculos. Dessa forma, eles ajudaram a preservar variedades de mandiocas que não se perderam até os dias de hoje. Todas são cultivadas juntas. Mas para a farinha ficar boa e para conseguir fazer todos os pratos da culinária da tribo, nenhuma mulher abre mão de acrescentar uma muda diferente.
A mandioca é carregada no cesto pendurado na cabeça e é processada na aldeia. Uma parte da raiz colhida vai para a água. Depois de dois ou três dias submersa, até mãos mais inexperientes conseguem tirar a casca. Na casa de farinha, as mulheres descascam mais mandioca para ralar. Tudo vai para o ralador. A massa que cai na canoa é colocada na peneira para ser espremida.

"Isso aqui se chama maniquera. Depois que a maniquera se concentra, ela se transforma na goma. Nesse estado não é comestível. Para se utilizar ela como maniquera, que é a nossa bebida tradicional também, ela tem que ser muito bem fervida. Antes disso, é venenosa”, explica a índia baniwa Hilma Neri.

O tucupi é um líquido de sabor forte, resultado da maniquera fervida e reduzida. A mandioca brava é venenosa porque tem ácido cianídrico, uma substância muito tóxico, mas extremamente volátil. Começa a se evaporar quando a mandioca é ralada e manuseada, que desaparece completamente com o calor da fervura e do forno. A massa que ficou na peneira também precisa secar.

O processo começa no tipiti, um tubo de palha trançado pelos homens da aldeia. A massa, quase seca, volta para a casa de farinha, passa pela peneira para tirar as fibras maiores e vai para a torra num forno de barro. Mas torrar é só uma parte. A farinha boa é feita de vários tipos de mandioca.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
Sitevip Internet