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Quinta-feira, 18 de julho de 2024

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De Roma à bomba atômica: conheça 5 cientistas que mudaram a guerra

Nem sempre a ciência se dedica à cura de doenças fatais e à busca de soluções para problemas sociais. Em diferentes conflitos da história, algumas das mentes mais brilhantes do planeta voltaram-se ao desenvolvimento do arsenal bélico de seu país. Armas, tanques, explosivos, bombas e experimentos bizarros fazem parte desse capítulo peculiar e sangrento da ciência universal.


Os cientistas responsáveis pela ciência da guerra não eram movidos apenas pelo patriotismo, lembra o jornalista Thomas Craughwell, autor do livro The War Scientists: The Brains Behind Military Technologies of Destruction and Defence (“Os cientistas de guerra: os cérebros por trás das tecnologias militares de destruição e defesa”, em tradução livre). Um exemplo é o do físico teórico americano Robert Oppenheimer (1904-1967), chefe do Projeto Manhattan, que produziu as primeiras bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial. Em contraste com seus colegas - muitos deles refugiados judeus -, que queriam o extermínio dos nazistas, Oppenheimer mantinha uma visão mais cerebral e teórica sobre as pesquisas de sua equipe.


Após os testes bem-sucedidos das bombas atômicas, diante do aparato devastador que havia criado, Oppenheimer começou a se arrepender. Chegou a citar um trecho do Bhagavad-Gita, texto religioso hindu: “Eu me tornei a morte, a destruidora de mundos”. Mais tarde, por se verter a favor de um maior controle no desenvolvimento e na proliferação de armas nucleares, foi acusado de ser um espião soviético.

Por outro lado, aponta Craughwell: “Fritz Haber, o químico alemão que inventou os gases tóxicos, tinha muito orgulho de ter produzido uma arma que poderia levar a Alemanha, seu país natal, à vitória”. Em 1918, Haber foi laureado com o Prêmio Nobel de química - honraria instituída por Alfred Nobel, criador da dinamite, em parte para apagar os rastros explosivos de sua própria biografia.​

Na década de 1940, a Alemanha de Hitler arregimentou um exército de cientistas. Além de Josef Mengele, que realizava experimentos horrendos no campo de concentração de Auschwitz, um tipo específico de cientista foi bastante cobiçado por dois lados vencedores da guerra, os Estados Unidos e a União Soviética. Bem distante das experiências genéticas perpetradas por Mengele - que incluíam estudos de gêmeos e anões, injeção de líquidos para mudança da cor dos olhos em crianças, amputações de membros e sua realocação em outras partes do corpo -, o time de pesquisadores de foguetes de Hitler tinha uma atenção especial de seus inimigos no conflito.

Corrida espacial
Os mísseis nazistas eram tão avançados que EUA e USSR disputaram seus cientistas no fim da Segunda Guerra. Em 1945, a Operação Paperclip (“clipe de papel”, em português) levou a uma cidadezinha do Alabama, Huntsville, uma centena de cientistas nazistas envolvidos na pesquisa de mísseis e foguetes. Entre eles, estava Wernher von Braun, pai do foguete V-2. Nos Estados Unidos, ele foi o responsável pela equipe que criou o foguete Saturn V, que levou a missão Apollo 11 à Lua em 1969.

Os soviéticos chegaram tarde demais. Os melhores cientistas alemães já haviam sido levados para os Estados Unidos, além de todos os foguetes V-2 disponíveis. Coube aos soviéticos rascunhos do V-2 e cientistas que foram convencidos a trabalhar para a USSR, com o argumento de que poderiam permanecer na Alemanha. A promessa, porém, não durou muito. Um ano e meio depois da guerra, os cientistas alemães foram obrigados a se mudar para Moscou. No fim, o programa espacial soviético também foi muito influenciado pela engenharia alemã, já que seus primeiros foguetes eram cópias do nazista.



Conheça a história de 5 cientistas de guerra:

General Aníbal - Arma biológica
Para o jornalista Thomas Craughwell, autor do livro “Os cientistas de guerra: os cérebros por trás das tecnologias militares de destruição e defesa”, a história mais interessante sobre a ciência de guerra é a de Aníbal, general cartaginês considerado um dos maiores estrategistas militares. Em meados do século III A.C., o general inventou a primeira arma biológica do planeta. Em uma batalha naval com uma frota romana, as catapultas de Aníbal arremessaram potes de barro cheios de cobras venenosas no convés romano. Quando os potes atingiram a superfície do barco, despedaçaram-se e soltaram as cobras, que atacaram todos a seu alcance. "Ninguém faz isso hoje, claro, mas, para mim, é um momento interessante na história militar”, explica Craughwell. Mais tarde, as armas biológicas evoluíram: na Idade Média, exércitos usaram corpos em decomposição para contaminar o abastecimento de água de cidades sitiadas; na Guerra Fria, EUA e USSR desenvolveram pesquisas para produzir bactérias, vírus e fungos em laboratório. Em 1972, por fim, uma convenção assinada por 160 nações proibiu a criação e o armazenamento de armas biológicas.

Alfred Nobel - Dinamite
Responsável por 350 patentes em diferentes países, Alfred Nobel é mais conhecido pelo prêmio que leva o seu nome. Poucos sabem, porém, que essa honraria pode ter sido inventada para apagar um rastro explosivo em sua biografia. Inventor da dinamite, Nobel dedicou sua vida a fabricar e criar explosivos. Em 1888, a morte de um de seus irmãos, Ludvig, na França, acarretou a publicação de um obituário errôneo nos jornais. Diários franceses informaram que era Alfred Nobel quem havia falecido. Assim, Alfred leu um obituário de si mesmo com o seguinte título: “O mercador da morte está morto”. Mas ele estava vivo. E ainda não tinha redigido seu testamento. Oito anos depois, em 1896, em San Remo, seu falecimento decretou a instituição do Prêmio Nobel, que reconheceria as maiores contribuições à humanidade – inclusive em prol da paz.

Wernher Von Braun - Míssil V-2 e Saturn V
Poucos cientistas ajudaram tanto seu país em uma guerra quanto Wernher von Braun. Menos ainda desenvolveram invenções fundamentais para lados tão distintos da história: a Alemanha da Segunda Guerra e os Estados Unidos da Guerra Fria. Muito jovem, alistado ao Partido Nacional Socialista alemão, o engenheiro Wernher von Braun, nascido em 1912, na cidade de Wirsitz (na época parte do Império Alemão, hoje Polônia), foi o pai do revolucionário míssil V-2, que tanto incomodou os ingleses durante a Segunda Guerra Mundial. Cinco anos depois, von Braun já comandava projetos no outro lado do Atlântico. Trabalhando para a Nasa, o alemão foi o responsável pelo desenvolvimento do foguete Saturn V, o mesmo que impulsionou o homem à Lua, nas missões Apollo.



Robert Oppenheimer - Bomba atômica
Na Segunda Guerra, a notícia de que os nazistas estavam construindo uma bomba atômica pôs os EUA em alerta. E acelerou uma missão secreta e assombrosa, que logo passou a empregar mais de 130 mil pessoas em mais de 30 fábricas e laboratórios nos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra. Quem chefiou a empreitada foi Robert Oppenheimer, físico americano que coordenou as mentes mais brilhantes entre os aliados, com o intuito de trabalhar no refinamento do urânio e na construção de uma bomba atômica funcional. Quando o sonho de fato explodiu, nos primeiros testes, Oppenheimer sentiu o baque de sua criação. Mais tarde, confessou o que lhe passou pela cabeça na hora: “Eu me tornei a morte, a destruidora de mundos” (trecho do texto hindu Bhagavad-Gita). Em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em agosto de 1945, as bombas atômicas tiraram a vida de mais de 200 mil pessoas. Diante do impacto, Oppenheimer tornou-se favorável a um maior controle do desenvolvimento e da proliferação de armas nucleares. Mas a mudança de postura lhe custou caro: foi julgado por uma comissão e até acusado de espionagem para os soviéticos. Entre seus acusadores, estava Edward Teller, físico contratado por Oppenheimer para o Projeto Manhattan.

Edward Teller - Bomba de hidrogênio
Aluno de Werner Heisenberg, um dos pais da mecânica quântica, na Alemanha, Edward Teller, de origem húngara, fugiu para escapar da perseguição religiosa aos judeus. Mudou-se para os EUA em 1935 e, seis anos depois, chamado para participar do Projeto Manhattan, tornou-se cidadão americano. No primeiro teste da bomba atômica, no Novo México, Teller, aos 37 anos, foi o único cientista a observar a explosão. Todos os outros fizeram o recomendado, por segurança: deitaram-se no chão e deram as costas à bomba. Depois de Hiroshima e Nagasaki, a maioria dos cientistas do projeto moveram-se na direção de Oppenheimer, que buscava se distanciar de armas de tão grande impacto. Teller, não: partiu da fissão para a fusão nuclear e, com isso, criou a bomba de hidrogênio, até 750 vezes mais potente do que a que vitimou mais de 200 mil pessoas no Japão. Nas décadas de 1960 e 1970, recrutou jovens físicos para projetos de novas armas nucleares. Um de seus recrutas foi Michio Kaku, um dos mais conceituados físicos teóricos atuais, coautor da teoria de campos de corda, que, por sorte, seguiu outra direção em seu trabalho.
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