Um dia após ser eleito para comandar o Conselho de Ética do Senado, o senador Paulo Duque (PMDB-RJ), voltou a sinalizar pretende blindar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Duque disse que não teme ser cobrado para que atue com isenção porque a opinião pública é volúvel.
"A opinião publica é muito volúvel. Ela flutua e coloca até 100 mil pessoas no Maracanã para ver a Madona e outras 50 mil para assistir o Roberto Carlos. Quem faz a opinião pública são os jornais e eles estão acabando", disse.
Duque que é segundo suplente do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB) --chegou ao Senado sem um único voto-- tentou minimizar as acusações contra Sarney afirmando que elas fazem parte do cotidiano da política. "Nomeação política, por exemplo, existe desde que Brasil é Brasil. Pero Vaz de caminha pediu emprego para o primo", afirmou.
Como presidente do conselho, ele pode arquivar sumariamente as três denúncias e a representação do PSOL que pedem a cassação do mandato de Sarney.
Questionado sobre as denúncias contra o presidente do Senado, Duque disse que vai analisar, mas atacou o PSOL. "É um partido pequeno que ainda não existe, como o PT já foi um dia. Talvez cresça", disse.
Em entrevista para a Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL), Duque disse que para julgar Sarney por quebra de decoro é preciso uma acusação "seriíssima". Não é o caso, disse ele, dos atos secretos que considera uma "grande bobagem", algo "inventado por alguém".
Para Duque, também não é o caso de haver julgamento por causa da contratação de parentes. "[Sarney] prestou muitos serviços ao país. Ficarem vasculhando a vida dele porque nomeou um neto é bobagem." Como presidente do conselho, ele pode arquivar sumariamente as três denúncias e a representação que pedem a cassação do mandato de Sarney.
A oposição já se movimenta para pedir a saída de Duque do comando do Conselho de Ética. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), disse hoje que o peemedebista desrespeitou o regimento do colegiado ao minimizar as denúncias por quebra de decoro parlamentar contra o presidente do Senado.
Para o tucano, Duque antecipou seu voto. "O presidente Paulo Duque tem que se acostumar a não dizer bobagens. É o caso de pedir a substituição dele, alguém que está dizendo, como juiz, que antes de ler já julga que é tolice o que vai ser julgado não é talvez o juiz mais isento."
Ao todo, Sarney enfrenta três denúncias e uma representação no Conselho de Ética. Ele foi denunciado por causa da edição dos atos secretos e também pela suspeita de ter usado o cargo para interferir a favor da fundação que leva seu nome e por favorecer um neto que mantinha negócios com Senado. Virgílio prometeu nesta quinta-feira apresentar mais uma denúncia contra o peemedebista pela acusação de que teve participação direta na edição dos atos secretos.
Duque foi escolhido pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), para ser o nome governista na disputa pelo comando do colegiado. Renan rejeitou a indicação do senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), nome defendido pelo PT. Após a eleição, o líder petista, Aloizio Mercadante (SP), disse que o PMDB assumia a responsabilidade pela indicação de Duque.
Para os aliados de Sarney, com Duque no comando do conselho fica mais fácil controlar as ações contra o presidente do Senado que só devem ser analisadas em agosto, após a volta do recesso parlamentar.
"Se lixa"
Ao ironizar o impacto a possível cobrança da opinião pública, Duque segue a linha do deputado Sérgio Moraes (PTB-RS). No início do ano, Moraes ficou conhecido ao dizer que "se lixava" para a opinião pública.
Ele foi o primeiro relator do processo de cassação aberto contra o deputado Edmar Moreira (sem partido-MG), conhecido pelo castelo de R$ 25 milhões.
Moraes foi afastado do cargo depois de antecipar a intenção de sugerir a absolvição de Edmar em seu parecer. Questionado sobre o episódio, na época, ele disse que se lixava para a opinião pública.