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Terça-feira, 16 de julho de 2024

Notícias | Meio Ambiente

'Achei que ia ficar por lá', diz brasileiro sobrevivente de erupção no Japão

Brasileiro, que estava no topo do Monte Ontake, registrou o momento que o vulcão entrou em erupção e falou sobre os momentos de tensão no local.


Um passeio de fim de semana com amigos se transformou em um pesadelo. Semana passada, um brasileiro estava no topo do Monte Ontake, no Japão, quando o vulcão entrou em erupção.

As autoridades ainda não encerraram as buscas. Até agora, são pelo menos 50 mortes confirmadas. O brasileiro Eduardo Adate contou com exclusividade ao Fantástico os detalhes dessa fuga desesperada.

Era para ser um fim de semana alegre, o brasileiro Eduardo Adate, de 39 anos havia combinado de fazer um passeio "nas montanhas" com um grupo de amigos. 

Fantástico: Você sabia que era um vulcão?
Eduardo Adate, soldador: Fiquei sabendo no caminho. A gente comentando lá: ‘esse vulcão ainda está ativo’. E eu falei: ‘sério?!’

O passeio reservava mais algumas surpresas para Eduardo. É um dos mais belos espetáculos da natureza, mas se revelou mortal. Depois de 35 anos de relativa calmaria, o Monte Ontake, no Japão, despertou. A nuvem de fumaça alcançou mais de três quilômetros de altitude, provocando o desvio de rotas de aviões. O vulcão fica a cerca de 200 quilômetros de Tóquio. O Japão tem 110 vulcões considerados ativos. O Ontake é monitorado de perto, mas não havia qualquer sinal de que poderia entrar em erupção, até o último dia 27.

No momento da erupção, no alto do Monte Ontake havia cerca de 250 pessoas, entre elas, um grupo de brasileiros. Gente que queria aproveitar o começo de outono no Hemisfério Norte para ficar mais perto da natureza. Eles nunca imaginaram que iriam ficar tão perto. O Fantástico foi até a cidade de Obu para contar a história.

“É meio cansativo para subir, mas a paisagem é muito bonita. É muita gente tirando foto, pessoa de meia idade, e gostam muito, japonês, principalmente”, lembra Eduardo Adate, soldador.

Eduardo acabou se separando do grupo, e chegou primeiro ao topo do Ontake. Na foto, o registro, o dia começava a ficar mais encoberto.

Até que às 11h53... “Eu vi pessoas gritando: ‘o que é aquilo?’ Depois veio o estrondo, a hora que eu olhei, aí já estava a nuvem lá de cinza já estava bem próxima”, lembra Eduardo.

Na imagem feita por montanhistas, no momento em que a erupção começa, vê-se uma nuvem ganhando volume e se movendo na direção deles. Essa nuvem é composta por vapor d'água, gás, e sedimentos e pode ultrapassar os 100ºC. Também avança rapidamente. Rente ao solo, alcança mais de 100 km/h. É difícil escapar dela.

“Muita gente ficou paralisada na hora, não correu, ficou olhando, parou. A hora que escureceu, já não tem para onde correr, não enxerga mais nada. Escuro absoluto, não vê nada. Só deu tempo de eu arrumar um lugar para eu esconder”, conta Eduardo.

Primeiro, Eduardo tentou se proteger em um dos abrigos que existem na montanha. Na imagem aérea, depois da erupção, dá ver como eles ficaram destruídos. Mas o brasileiro não conseguiu entrar. A nuvem já o envolvia.

“Era muita cinza, muito pó. Não conseguia respirar. Coloquei a camisa, mas não dava certo. Dobrei em várias partes, coloquei no nariz, mas assim mesmo, estava me sufocando. Foi quando eu deitei no chão. Tinha um pouquinho de terra, uma terra úmida. Eu cavei um buraquinho e enfiei meu rosto, meu nariz. Aí deu para respirar um pouco”, disse Eduardo.

Quando estava no chão, Eduardo foi atingido por pedras que vinham da cratera do vulcão. As menores deixaram vários ferimentos nas costas. Mas teve uma outra, maior.

Eduardo: Pensei que tinha fraturado a costela. Eu estava deitado, não sei de onde veio, se bateu no telhado ou veio direto, mas veio forte.
Fantástico: Mas tá meio roxo ainda.
Eduardo: Tá. Ainda dói.

“Começou a chover um pouco, ficar úmido. Foi aí que levantei a cabeça. Deu para respirar e clareou, deu para enxergar”, lembra Eduardo.

Eduardo recomeçou a gravar. Na imagem, do vídeo feito pelo soldador, vê-se uma nuvem que sai do vulcão cada vez mais alta e todo o terreno, coberto de cinzas. Com medo de novas erupções, ele desceu a montanha. “Estava no paraíso, depois virou o inferno. Tudo cinza, não tinha cor nenhuma, escuro”, destaca ele.

E em quê, ou em quem, Eduardo pensava?

"Na hora, pensando nas filhas. Achei que ia ficar por lá mesmo, por mim eu não ia voltar para casa", lembra o soldador.

A camada de cinzas chegava a quase um metro de espessura.

Fantástico: E como vocês sabiam qual o caminho seguir? Porque as cinzas cobriram tudo, inclusive as trilhas.
Eduardo: A trilha tinha uma corda. Deve ter um metro mais ou menos de altura, a corda ainda era visível.

Eduardo respirava com dificuldade, estava machucado e preocupado com os amigos. Mas encontrou forças para ser solidário.

“Nessa hora tinha dois feridos ali, andando, quase caindo. Eu parei para poder ajudar. Acho que ela tinha quebrado, estava feio, sangrando muito. Ela não estava aguentando andar. Eu carreguei, até aonde eu aguentei e depois a gente revezou”, disse ele.

A mochila ainda tem as marcas do sangue da moça, que ele até hoje não sabe quem é. Foram mais de cinco horas de caminhada até chegar à base da montanha.

Eduardo reencontrou os amigos, está se recuperando dos ferimentos. E mal consegue esperar a hora de rever a família, que está no Brasil.

“Você está ali, sossegado, de repente, ninguém espera. Para morrer, basta estar vivo, você não sabe a hora que vai acontecer”, diz Eduardo.

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