como plumas. Assim são os movimentos dos bailarinos do ex-projeto Dancem que agora passa a se chamar Cia Dancem. Mesmo com a mudança o grupo continua a demonstrar que, de comum, não tem nada. Composto inicialmente por deficientes intelectuais, cadeirantes e bailarinos com síndrome de Down numa imensa sintonia com bailarinos-alunos da escola de Ballet Denise França, o trabalho, desenvolvido agora só com alunos especiais e com existência independente da escola, demonstra que a arte ultrapassa qualquer barreira.

Assim, apostando na força da dança apresentada por estes indivíduos, cuja coordenação é da bailarina Denise França e gestão do Instituto Cultural América (Inca), é que o projeto deu mais um passo no caminho de seu fortalecimento: a finalização do documentário Videodancem, dirigido por Luiz Marchetti. O vídeo poderá ser conferido pelo público na próxima quarta-feira (29), às 20h, no Cine-Teatro Cuiabá. A entrada é franca.

O Dancem, conforme sua idealizadora, a professora de balé, Denise França, nasceu há nove anos quando ela foi convidada pela ex-coordenadora de artes da Apae para ser coreógrafa dos alunos da instituição no Festival Nossa Arte, promovido a cada dois anos pela Federação das Apaes. França aceitou o convite e o grupo foi o vencedor do concurso, que ocorreu em São Paulo. Mas a iniciativa não parou por aí. Na volta a Cuiabá houve a adesão dos bailarinos da escola e em 2000 começaram os trabalhos para a criação de um grupo “diferente” tornando-se o pioneiro na capital mato-grossense que usa a arte como instrumento de manifestação legítima de inserção social.

“Com o projeto pôde ser comprovado que a dança propicia ao deficiente uma melhora do tônus muscular, audição, visualização e coordenação motora. Além disso, sendo ‘artista’ o deficiente torna-se um agente de mudanças em sua família e na comunidade que o cerca”, disse França.

De lá para cá foram mais de cinco espetáculos montados e diversas apresentações: “Pantanal no reino das águas”; “Do ouro ao algodão”; “Voos...pelo caminho de Mato Grosso”; “Fios de Algodão”, participação na Semana do Deficiente em 2005 e “Desejos da Alma” em 2007 e 2008, além de várias participações em eventos por todo o Estado. A proposta de “Desejos...” é que cada um veja o outro abertamente para, assim, será possível ver as diferenças e aceitar cada um como é, desprovido de qualquer preconceito. Outro produto fruto do projeto foi “Limites”, trabalho de motivação pessoal apresentado em empresas.

Esses variados caminhos demonstram que não há limites para o grupo. Assim, mesmo depois de muitos aplausos pelos palcos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, guardados na memória, o grupo viu que era hora de deixar esses primeiros passos para a história e guardar o trabalho em vídeo.

O diretor Marchetti explica que, com uma câmera na mão e muitas ideias na cabeça, registrou as coreografias e, para a câmera, gravou momentos em paisagens do percurso do ônibus com a equipe, criando um vídeo-diário. “Como videomaker meu papel foi o de registrar as performances nas cidades e gravar alguns depoimentos da equipe de crianças que, pela primeira vez na vida, assistiram a um espetáculo de dança com cadeirantes”, comentou. Dessa forma, é possível ver como o trabalho também atinge o público e que mudanças essa receptividade traz aos bailarinos do projeto.

Aos que forem assistir ao vídeo no Cine Teatro um aviso: haverá um bônus, a apresentação, ao vivo, dos bailarinos da Cia Dancem mostrando parte do novo espetáculo. Ainda sem nome o trabalho tem previsão de estreia em outubro com quatro apresentações no interior e quatro na capital apoiados pelo Fundo Estadual de Cultura.