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Sábado, 27 de julho de 2024

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Automedicação eleva riscos relacionados à cistite

Nem a morte da modelo Mariana Bridi, no começo do ano, causada por uma cistite que evoluiu para uma sepse (infecção generalizada), fez com que a estudante Fernanda Strelow Fernandes, 25, interrompesse sua rotina de automedicação.


Havia ao menos cinco anos, Fernanda usava, por conta própria, um antibiótico sempre que sentia dor e ardência ao urinar. Assim como a mãe, a estudante tem cistite recorrente (mais de dois episódios por ano) e procurou um especialista só nas primeiras crises. Depois, acostumou-se a tomar remédio só pelo tempo necessário para aliviar o incômodo.

Repetiu a dose em janeiro, quando percebeu a chegada de uma nova infecção. Em março, estava na praia com amigos quando acordou com febre e dor no corpo, principalmente na altura dos rins. "Achei que era gripe. Como não melhorei e cheguei a vomitar de tanta dor, voltei para São Paulo e fui direto ao hospital", conta.

Os exames provaram que as bactérias que haviam causado a cistite -e que, com o diagnóstico e tratamento corretos, poderiam ter sido eliminadas em até cinco dias- resistiram e atingiram os rins. O problema evoluiu para uma pielonefrite, infecção urinária mais grave. No caso da cistite, a inflamação é só na bexiga. Daí para o micro-organismo cair na corrente sanguínea e provocar uma sepse seria uma questão de tempo.

"Lembrei-me do sofrimento da modelo e tive muito medo", diz ela, que só melhorou depois de uma semana no hospital e outra em casa, de repouso.

Há boas razões para a estudante ter ficado preocupada. Segundo a médica Flávia Machado, especialista em terapia intensiva e presidente do Ilas (Instituto Latinoamericano de Sepse), essa resposta inflamatória exacerbada à presença de uma infecção no organismo pode levar a disfunções orgânicas, à queda da pressão arterial (choque séptico) e à morte. "No Brasil, a sepse grave e o choque séptico matam 60% dos pacientes, o dobro do registrado em todo o mundo", alerta.

Há várias explicações para essa diferença. "Pode ser o atraso no diagnóstico, a má condução do tratamento e a escassez de vagas nas unidades de terapia intensiva", diz Machado.

A infecção urinária é a causa de 12% das sepses, segundo o Ilas. "Em se tratando de um problema de fácil solução, esse índice é alto", diz Flávia Machado, que orienta que o paciente com cistite fique atento a sinais de complicação, como persistência da febre e da redução da quantidade da urina, tontura e sonolência.

Mitos

A frequência com que a infecção urinária afeta as mulheres -50% delas terão ao menos um episódio ao longo da vida- deixou-a muito conhecida e também exposta a mitos, como o de acreditar que o mesmo remédio pode funcionar sempre.

Não há apenas um tipo de bactéria capaz de causar a cistite, apesar de mais de 80% dos casos estarem associados à Escherichia coli. Existem cistites mais raras, causadas inclusive por fungos, e até as assépticas, que não envolvem a presença de micro-organismos.

É por isso que toda infecção urinária deve ser avaliada pelo médico o quanto antes. "Por meio de dois exames, a urocultura e o antibiograma, é possível identificar que tipo de micro-organismo causou a infecção e a qual antibiótico ele é mais sensível", explica o urologista José Roberto Colombo Jr., do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

Outro erro é achar que a cistite é um problema só feminino. De fato, a anatomia das mulheres e questões hormonais favorecem tanto a entrada de agentes nocivos quanto a sua proliferação. Mas há fatores de risco que independem do gênero, pois estão associados a maus hábitos, como não beber água ou adiar a ida ao banheiro quando a bexiga está cheia.

Certos problemas de saúde, como prisão de ventre, também podem predispor a essas infecções, observa José Carlos de Almeida, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia.

Nos homens, o canal da uretra está menos exposto à ação de micro-organismos, mas nem por isso fica livre de uma invasão. Segundo Colombo Jr., os episódios no sexo masculino ocorrem mais nos extremos da vida, quando são recém-nascidos e idosos -nesse caso, o aumento natural da próstata pode interferir na bexiga, fazendo com que não se elimine toda a urina, o que facilita o crescimento de bactérias.

Relação sexual

Mulheres devem prestar atenção especial à higiene íntima, por diversos motivos. Em primeiro lugar, a vagina é úmida, quente e, por isso, aconchegante para fungos e bactérias. Além disso, a região fica bem próxima ao ânus, e um descuido pode fazer com que um micro-organismo vá para a vagina via papel higiênico.

A relação sexual também contribui para o vaivém de micro-organismos. Não é à toa que há muitos casos de cistite na lua de mel. "Para evitar a infecção, recomendo que as mulheres tentem urinar antes e, principalmente, depois do ato sexual", ensina o urologista Colombo Jr., do HC.

A alteração do pH (o nível de acidez) ou da flora vaginal, que pode ocorrer tanto com o uso de espermicida quanto com a queda natural do estrogênio na menopausa, afeta a proteção natural das mulheres e também favorece a invasão de bactérias na região genital.

Até a gravidez é um fator de risco para a cistite: o crescimento do feto comprime a bexiga, o que reduz a capacidade de armazenar a urina. É por isso que a gestante precisa ir mais vezes ao banheiro.

Para completar, o aumento da circulação sanguínea na região pélvica da mulher grávida também deixa a vagina ainda mais úmida.
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