Desenvolver a economia florestal é uma possível solução apontada por ambientalistas para viabilizar a manutenção de 80% das áreas de vegetação nativa nas fazendas da Amazônia, como determina o Código Florestal.
Mas na região mais desmatada da Amazônia – o sudeste e o sul do Pará – produtores e autoridades veem com ceticismo a possibilidade de desenvolver as atividades florestais a ponto de contrabalancear o peso das atividades tradicionais.
"Se hoje um fazendeiro vai ao banco com uma proposta de usar apenas 20% da área de uma fazenda, o projeto é considerado inviável. Para que isso funcione teríamos que desenvolver toda uma cultura de produção florestal, o que é muito difícil", diz o secretário de Meio Ambiente do município de Rondon do Pará, Welinton Porto.
"Temos programas de reflorestamento e queremos chegar a 50% de cobertura vegetal, mas mais do que isso vai ser muito dif ícil. Acredito que deveria haver um zoneamento para permitir que áreas como a nossa, onde já há muita pecuária e agricultura, possam ter um índice menor de cobertura florestal", diz.
Opções
Entre as exceções está o fazendeiro John Weaver Davis Junior – um americano estabelecido com a família na região de Dom Eliseu (sudeste do Pará) desde o início dos anos 60. Ele espera que plantações de caruá impulsionem sua grande propriedade, que não vem produzindo muito.
O caruá é uma planta que fornece fibras tradicionalmente usadas na confecção de tecidos grossos na Amazônia, mas que nos últimos anos se revelou um importante material para a indústria, como um substituto da fibra de vidro.
As opções da família Davis, na verdade, são limitadas porque durante muitos anos eles extraíram madeira da propriedade para vender e para fazer carvão. Hoje, ele diz que só tem preservados os 50% que a lei exige e precisa encontrar atividades sustentáveis para tocar a fazenda.
O caruá pareceu ao americano uma boa opção porque é uma planta cultivada no meio da floresta, exatamente por precisar de muita sombra para se desenvolver bem.
"Se conseguir recursos para esse projeto tenho certeza que vai dar certo porque é um material que tem demanda cada vez maior", diz.
O pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia), Paulo Barreto, ressalta que as opções de exploração racional das florestas são muitas, a começar pela extração sustentável de madeira.
"Há uma demanda grande por madeira tanto aqui no Brasil como no exterior e com um bom manejo é possível tirar da floresta uma quantidade de árvores que permita que a natureza se recupere", diz o especialista.
"Mas ainda mais importante do que isso é agregar valor à produção. Fazer móveis, por exemplo, ao invés de apenas exportar toras de madeira bruta para o mundo."