Apesar de ter servido como desvantagem para o país num primeiro momento, a falta de agilidade do governo diante da crise internacional agora representa uma oportunidade para o Brasil tomar medidas mais agressivas e estimular a economia, enquanto o resto do mundo está sem munição.
A avaliação é da economista Maria da Conceição Tavares, uma das criadoras do Plano Cruzado, nos anos 80.
Para Maria da Conceição, o Brasil foi pouco afetado pela crise e está em posição mais confortável que a maioria dos países em meio à deterioração da economia internacional. Professora da Universidade de Campinas (Unicamp), a economista, no entanto, cobrou mais ousadia das autoridades econômicas.
“A economia está reagindo, mas o Estado está rígido”, disse, em palestra do seminário promovido, em Brasília, pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social para analisar a crise. Embora considere tímida a reação do governo nas primeiras semanas após o agravamento da crise, ela disse que essa demora pode ser benéfica para o país.
“Se as autoridades tivessem agido com vigor desde setembro, quando a crise se agravou, agora teríamos pouco espaço para enfrentar a crise”, destacou a economista.
Crítica das políticas econômicas ortodoxas, que pregam que o governo aumente impostos e economize gastos para pagar os juros da dívida pública, Maria da Conceição admitiu que a política de superávit primário dos últimos anos passou a representar uma vantagem em situações de crise.
“Não fosse a política ortodoxa, teríamos crescido mais no passado, mas agora estaríamos mais vulneráveis”, afirmou. Ela, porém, disse ser contrária a qualquer tentativa do governo em economizar mais recursos neste momento.
“Diante do cenário atual, a situação das contas públicas brasileiras está muito boa e não vejo necessidade de elevar ainda mais o esforço fiscal”, concluiu.