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Pacientes esperam por mais de 10 horas para conseguir atendimento e dormem em fila de clínica odontológica

04 Mar 2017 - 08:14

Da Redação - Lázaro Thor Borges/Colaborou Rogério Florentino Pereira

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

Pacientes esperam por mais de 10 horas para conseguir atendimento e dormem em fila de clínica odontológica
Um colchonete no chão frio e um pouco de água e comida para passar a noite. É assim que os moradores da região do bairro Jardim Vitória se acomodam quando se veem obrigados a procurar atendimento odontológico.


A reportagem do Olhar Direto foi até o local nesta sexta-feira (03) e descobriu que os pacientes passaram mais de dez horas aguardando para conseguir atendimento.

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Quem mora por lá já sabe de cor a história: o postinho foi inaugurado em 2004 e desde então a fila se tornou uma constante na unidade. A auxiliar de cozinha Franciele Neves conta que espera no local sem almoçar, sem tomar café, mas segura firme a 14ª senha distribuída pelas atendentes da clínica.

“Isso aqui sempre foi assim. Funciona por ordem de chegada. Mas se você vier na hora em que eles abrem pode ter certeza que já vai ter gente esperando e você vai perder vaga”, afirma ela.

A corrida pelo atendimento é cruel. Os dezesseis primeiros que chegam ganham direito a atendimento. Os demais voltam para casa. As vagas são abertas todas as sextas-feiras e, nestes dias, a vigília dos pacientes se repete.

Para a dona de casa Flávia Lopes Ribeiro o postinho poderia ser considerado “excelente” se não fosse o problema da triagem. Ela conta que antes o atendimento começava às 7h da manhã. Mas por conta da fila a diretora da unidade decidiu abrir somente às 13h acreditando que as pessoas chegariam somente no horário. O resultado, no entanto, foi ainda pior: os pacientes continuaram a chegar e o tempo de espera tornou-se ainda maior.

“Isso acontece sempre. Sou moradora desde 2002 e eu sempre precisei dos serviços daqui. Não falta dentista. Os dentistas são excelentes, os aparelhos são bons, a limpeza é ótima, o único problema que tem é esse negócio do agendamento”, conta.

Além de atender ao Jardim Vitória a clínica também recebe pacientes dos bairros Jardim União, Novo Paraíso, Alvorada, Barreiro Branco, CPA I. O problema é de Cuiabá, mas também atinge o país todo. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pelo Conselho Federal de Odontologia, 20% dos brasileiros não vão ao dentista por falta de condições financeiras. Aqueles que vão, no entanto, procuram a rede pública, que é considerada por 45% das pessoas como de difícil acesso.

Os números ilustram uma realidade que Roseli de Souza, de 33 anos, conhece em profundidade. Roseli tem renda familiar de aproximadamente R$ 1 mil e diz ser impossível conseguir pagar por um dentista particular. A dona de casa precisa fazer um tratamento de canal, cujo custo é de pelo menos R$ 700.

“Dizem que o pessoal não pode pernoitar, mas se não for pernoitar como que vai conseguir vaga? Se chega cedo demais diz que não pode chegar cedo, mas se vem no horário não tem vaga. Eu ainda vou conseguir ser atendida, mas e as outras pessoas?” questiona.

Solução no atendimento básico

A pergunta de Roseli é respondida pela coordenadora de saúde bucal do município, Cristhiane Almeida Leite. De acordo com ela, Cuiabá tem hoje 10 Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) que atuam com uma média de 580 servidores, dos quais cerca de 250 são dentistas. O problema das filas nas clínicas, segundo Cristhiane, é resultado de uma quantidade de pessoal deficitária para trabalhar na atenção básica da população.

Como o município tem apenas 10 equipes de saúde bucal nem todos são atendidos e os pacientes acabaram por procurar as clínicas especializadas, que atendem a casos menos comuns de problemas dentários. Cristhiane explica que com o aumento da atenção básica as filas diminuíriam. Para isso, a SMS prevê que até o fim do mandado do prefeito Emanuel Pinheiro (PMDB) mais 40 equipes sejam montadas.

Pelas equipes o paciente é encaminhado conforme o tipo de atendimento adequado: se precisar de atendimento especializado ele dever ir até as clínicas, mas se o atendimento for básico ele é encaminhado a algum Posto de Saúde da Família.


 
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