Apesar de curta, com pouco menos de 10s de duração, a prova de 100 m pode ser dividida em vários trechos. O segredo de Usain Bolt, de acordo com o seu treinador, Glen Mills, pode ser a mistura da aceleração de um corpo quase perfeito para a modalidade com o trabalho psicológico.
Logo na largada, as medidas do jamaicano (1,96 m e 86 kg), incomuns para um velocista, que normalmente são baixos e "troncudos", têm um duplo efeito. Por um lado, Bolt consegue se destacar dos adversários por sua envergadura ser maior, mas, por outro, demora um pouco mais para começar a desenvolver a velocidade.
"Ele assusta um pouco os adversários quando a pistola é acionada [momento da largada] e não parece estar atrás mesmo quando reage depois, por ser muito grande. Mas, com o peso, fica mais difícil imprimir o ritmo tão rápido", explicou o treinador à Folha de S.Paulo.
Como comprovação da tese de Mills, o tempo de reação de Bolt na largada de domingo (0s146) foi o terceiro pior. No entanto, no final, o velocista baixou em 11 centésimos o recorde mundial que estabeleceu nos Jogos de Pequim-2008. Essa foi a maior diferença registrada desde 1968, quando os centésimos começaram a ser registrados.
Curiosamente, o atleta jamaicano, apelidado de Relâmpago, considerou bom o seu desempenho na partida.
A incrível velocidade de Bolt, que pode chegar aos 41,8 km/h, começa a ser notada a partir dos 30 metros de prova. Sua velocidade média na prova foi de 37,6 km/h.
"Todos conhecem a sua explosão. Parece um raio quando chega nesse instante. Até por isso, os adversários tentam fazer o possível para abrir vantagem nos primeiros metros", disse Mills.
"Um bom exemplo é a prova da Liga de Ouro de Paris [quando Bolt venceu, com pista molhada, com o tempo de 9s79]. Ele largou mal e conseguiu deixar todos para trás a partir dos 30 m. Depois, foi só manter a diferença."
Com uma passada de até 2,90 m nos instantes finais da prova, Bolt completou o percurso com 41 passos.
Ele sobra tanto que, em algumas provas, depois de abrir vantagem, nos últimos 20 m até se dá ao luxo de desacelerar. "Ficou muito famosa a chegada dele em Pequim, com aquela comemoração. Foi algo inesperado", declarou Mills.
Na semifinal, Bolt se atrapalhou e queimou a largada, que foi repetida. O próprio recordista reconhece a sua dificuldade em largar e acredita que o trabalho feito nos últimos anos o ajudou a alcançar o patamar de campeão mundial e olímpico.
"Há dois anos, não imaginava que poderia estar aqui. Tive de treinar demais. Hoje, não sei qual é o meu limite, mas ainda tenho pontos para melhorar na carreira", declarou o campeão.