A diretoria do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de Mato Grosso (Sinpol-MT) emitiu uma nota repudiando a exposição midiática dos nomes dos policiais civis e do delegado, presos na operação "Cruciato", deflagrada na manhã de terça-feira (16), que investiga a prática de crimes de tortura cometidos pelo delegado Edison Pick e investigadores Woshington Kester Vieira e Ricardo Sanches na comarca de Colniza.
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Segundo a nota, a divulgação dos nomes feita pela mídia estadual e nacional é “desrespeitosa”, pois ainda não transitou em julgado, que se baseia apenas em acusações de uma suposta vítima, e que os acusados não exerceram o seu direito de defesa.
“E deixa claro que não admite a exposição de policiais civis nos meios de comunicação, exigindo que, da mesma forma como a mídia preserva a imagem do cidadão comum, com base no respeito aos direitos humanos e ao sigilo da investigação, dê igual tratamento ao policial que responde a uma acusação desse tipo”, diz trecho da nota assinada pela presidente do sindicato, Edleusa Mesquita. O sindicato também afirmou que entrará com o processo cabível para responsabilizar a todos que expuseram os investigadores em questão.
Operação
O delegado Edison Pick e investigadores Woshington Kester Vieira e Ricardo Sanches foram presos pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco). Segundo documento obtido pelo Olhar Direto, os detentos teriam sido agredidos com socos e chutes. Além disto, os investigadores teriam colocado um saco plástico na cabeça de um deles, na tentativa de asfixiá-lo. A denúncia, inclusive, cita o filme ‘Tropa de Elite’ para exemplificar as ações. Um dos homens teria pedido para morrer.
Durante audiência de custódia, o preso Marcelo Wypychovosky relatou que foi vítima de agressões, o que teria sido confirmado pela sua esposa, que também foi detida em flagrante na ocasião. O preso conta que o investigador Kester lhe agrediu com socos, o que teria sido presenciado pelo delegado Edison Pick.
“Me colocou na cadeira e começou a me espancar com murros e joelhadas, causando-me intenso sofrimento físico e psicológico, pois o falava que se eu abrisse a boca, iria morrer”, diz trecho do depoimento. Além disto, o preso ainda comentou que já teria sido agredido em outubro do ano passado, dentro da sua casa e na frente da esposa.
Quando retornou ao presídio, o detento relatou as agressões e o diretor o encaminhou para fazer o exame de corpo de delito. O diretor da cadeia público e dois agentes penitenciários confirmaram o depoimento e também os hematomas presentes em Marcelo.
Conforme a denúncia, as agressões descritas no depoimento do preso e das testemunhas são compatíveis com as lesões apontadas no exame de corpo de delito.
Tortura a adolescente
O outro caso aconteceu com o adolescente V.S.O.. Ele relatou que o investigador Kester e outros policiais civis, com a participação do delegado Edison Pick, desferiram socos, tapas, chutes na costela e “seguraram o ofendido pelo cabelo, além de colocarem uma sacola na cabeça deste, com o fito de asfixiá-lo, tal como retratado no popular filme ‘Tropa de Elite’”.
Pediu para morrer
Em outro caso, o preso Wesley Gama Oliveira contou em audiência de custódia que teria sido asfixiado com uma sacola, nos mesmos moldes do que aconteceu com o adolescente. Wesley teria sido pego nu dentro de sua casa, que teria sido invadida pelos policiais: “Foi o delegado, ele me ameaçou de morte, ele é meio baixo, meio zarolho. Colocou uma sacola sete vezes na minha cabeça e minha esposa presenciou tudo”.
Veja a nota do Sinpol-MT na íntegra:
A diretoria do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de Mato Grosso – Sinpol-MT repudia a ação desrespeitosa da mídia estadual e nacional, por ter divulgado imagens e nomes dos investigadores de Polícia presos ontem (16) em Colniza, sob a acusação de crime de tortura. O Sinpol-MT destaca que o processo ainda não transitou em julgado, que baseia-se apenas na acusação de uma suposta vítima, e que os acusados não exerceram o seu direito de defesa. E deixa claro que não admite a exposição de policiais civis nos meios de comunicação, exigindo que, da mesma forma como a mídia preserva a imagem do cidadão comum, com base no respeito aos direitos humanos e ao sigilo da investigação, dê igual tratamento ao policial que responde a uma acusação desse tipo. O sindicato entrará com o processo cabível para responsabilizar a todos que expuseram os investigadores em questão.
Cuiabá, 17 de outubro de 2018
EDLEUSA MESQUITA
Presidente do Sinpol-MT