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Quinta-feira, 18 de julho de 2024

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Pastor critica Bolsonaro em Cuiabá: "se tivesse vindo encontrar familiares de vítimas da Covid receberia meu apoio"

Foto: Reprodução

Imagem de Bolsonaro discursando na Assembleia de Deus; No detalhe, foto do pastor Teobaldo

Imagem de Bolsonaro discursando na Assembleia de Deus; No detalhe, foto do pastor Teobaldo

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL), acompanhado de grandes líderes religiosos e políticos de todos os cargos, participava de eventos pomposos em igrejas de Cuiabá na última terça-feira (19), o pastor Teobaldo Witter, 71, foi orar. Não se encontrava no “Grande Templo” e nem no auditório da “Comunidade das Nações”, mas sim em uma igreja Luterana em um bairro pobre da capital. Ali, pediu que Deus “continuasse misericordioso” e perdoasse quem havia sido levado pela “emoção, pelo vento e pelas ondas do momento” e se envolvido em um “ato duvidoso”. Para ele, que é pastor há 45 anos, a visita do presidente não soou bem.


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Witter é também mestre em Teologia, pela Escola Superior de Teologia (RS), pedagogo e Doutor em Educação, pela Universidade Federal de Mato Grosso, e usa seu tempo para ajudar os aflitos, fazendo atividade pastoral no Hospital de Câncer. Em sua opinião, a visita de Bolsonaro poderia ter tido também o mesmo sentido e o presidente poderia, por exemplo, ter ido visitar os familiares de milhares de vítimas da Covid-19, ou mesmo dos tantos despejos causados pela inflação galopante.
 
“Se o presidente tivesse vindo para Cuiabá para se encontrar com familiares das vítimas da Covid-19 e das vítimas de despejos, aí ele iria reunir muito mais gente do que essa turma de puxa-sacos que o recepcionou.  E receberia meu apoio. Mas, como ele fez o contrário, eu fui orar”, contou o pastor ao Olhar Direto.
 
Bolsonaro visitou Cuiabá na terça-feira (19) a convite do pastor Silas, da Assembleia de Deus. Na capital, desfilou em carro aberto seguido de motociata, participou do lançamento da ‘Marcha para Jesus’ na igreja Comunidade das Nações, foi até a formatura de cerca de 500 policiais militares no Comando Geral – onde defendeu o excludente de ilicitude – e, por fim, participou da 45ª Convenção das Assembleias de Deus no Brasil.
 
No último compromisso, Bolsonaro chegou ao lado de um “pelotão” político: governador Mauro Mendes, o Ministro-chefe da secretaria geral da presidência da república General Luis Eduardo Ramos, o General Braga Neto, os senadores Wellington Fagundes, Marco Rogério, Carlos Viana, Zequinha Marinho; os deputados federais Carla Dickson, Dr. Leonardo, Dr. Jaziel, Geovana de Sá, Jorielson, José Medeiros, Léo Mota, Nelson Barbudo, Neri Geller, Antônio de Paula, pastor Eurico, pastor Gil, pastor Marcos Feliciano, pastor Paulo Freire Costa, pastor Sócere Cavalvante; os deputados estaduais Gilberto Cattani e Thiago Silva, além de Cidinho Santos e Silas Malafaia.

Bolsonaro, acompanhado de políticos, na chegada a Cuiabá (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)
 
O evento teve ares de campanha eleitoral. Em discurso, o pastor da Assembleia de Deus José Wellington Bezerra Da Costa, por exemplo, falou Jesus Cristo dará a vitória a Bolsonaro no primeiro turno nas eleições de outubro para “envergonhar o diabo”. E seguiu: “O senhor é nosso pré-candidato, mas esperamos que no mês de outubro, amados, para envergonhar o diabo, para dizer àquela gente que não gosta dos crentes, que Jesus Cristo dará a este homem a vitória no primeiro turno se Deus assim permitir”. 
 

 
Para pastor Teobaldo, a fala não condiz com o que defende a Bíblia. “Eu sempre me refiro à argumentação teológico-bíblica. Jesus já venceu todos os poderes: o pecado, o diabo, o mal, o mundo (que são as relações que enganam a gente), nossas  inclinações para o mal. Venceu todos. A nós cabe aceitar. Atribuir a derrota do diabo à eleição de quem quer que seja é o escárnio contra Deus”, lamentou.
 
Na visão do pastor luterano, o vinda do presidente teria sentido se ele reunisse representantes de todas as igrejas e movimentos religiosos, que pudessem expor suas realidades boas e más. No entanto, segundo ele, a “turma do barulho” organizou uma ovação e proibiu qualquer manifestação contrária.
 
A realidade do que aconteceu o deixou desconfortável tanto como pastor, quanto como cristão. O que ele enxerga a partir disso – e de outros acontecimentos – é que Bolsonaro tenta construir uma base nestes grupos religiosos, muitas vezes se utilizando de práticas obscuras:

“Ele oferece cargos, privilegia com recursos, com decretos (...) É vergonhoso para evangélicos e católicos a suspeita do desvio de recursos público como estratégia para criar adesão ao presidente. Eu tenho compaixão dos fiéis das igrejas que não concordam com a atual processo de governar. E são muitas pessoas que sofrem com  isso. Em parte, as lideranças sufocam e ameaçam com diabo e outras coisas. Isso não pode”, lamenta.
 
Dentre as críticas do pastor ao atual governo, as principais são acerca dos posicionamentos do presidente perante a pandemia. Explica: “Tenho muita compaixão das pessoas que faleceram por conta de comportamentos sanitários negligentes. E são muitas as famílias que sofrem estas dores. E tem que aguentar pregações suspeitas”, lamenta. “Lembrando que, segundo a Bíblia, se expor desnecessariamente ao perigo de morte é pecado”.
 
Além disso, critica também as estratégias enganosas ou violentas, como as chamadas 'Fake News' e as armas, para sobrepor um tipo de pensamento. Para Teobaldo, Bolsonaro afronta o evangelho quando tenta justificar seus atos em nome de Deus. “Atos seus que não estão de acordo com o ensino e a obra de Deus, conforme expressam as palavras e atitudes de Jesus e da comunidade apostólica do primeiro século. Fé em Deus, misericórdia, amor, justiça e perdão para quem está arrependido e não quer mais repetir seus atos de enganação ou maldosos. Necessariamente contra a tortura, contra o armamento  contra a violência, respeito, dignidade humana e da natureza”, afirma.
 
Apesar do apoio maciço de lideranças evangélicas ao governo Bolsonaro, por todo o Brasil há grupos (como “Cristãos contra o Fascismo” e “Esperançar”, este último liderado pelo pastor Henrique Vieira) de pessoas que entendem que as ações do presidente vão contra o que prega o cristianismo. Para pastor Teobaldo, para avaliar um governo é preciso ver se suas políticas deixam as pessoas à mercê da miséria.
 
“Se tem, então a voz profética faz denúncia e propõe mudanças. Sempre assim, desde os tempos bíblicos com profetas, com Jesus, ao longo da história com mártires aos dias atuais. Se tiver dúvida, vai com as vítimas. Já escreveu o teólogo Dietrich Bonhoeffer: "O nosso grande aprendizado é ler a história a partir de quem está em baixo, de quem sofre, de quem não tem as oportunidade de se dar bem na vida, como foi a realidade de Jesus Cristo". Eu creio na ressurreição, pois essa é realidade de Deus expressa na ressurreição. Então Jesus, como num tribunal, vai colocar diante das autoridades enganadoras e perguntar: O você fez com estes todos aqui?”, finaliza.
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