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Quinta-feira, 18 de julho de 2024

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Não acredita no atual modelo

Após 31 anos anulando, comunista de Cuiabá decide voltar às urnas para votar em Lula: “escolha entre a civilização e a barbárie”

Foto: Mayara Campos / Olhar Direto

Após 31 anos anulando, comunista de Cuiabá decide voltar às urnas para votar em Lula: “escolha entre a civilização e a barbárie”
Desde que iniciou seus estudos marxistas nos anos 90 e foi ‘marcado profundamente’ por leituras das obras de Karl Marx, Engels, dentre outros autores, o hoje servidor público cuiabano José Roberto Magalhães de Campos, que atualmente tem 50 anos, não acredita no atual modelo democrático. Por consequência, tem anulado seus votos há 31 anos. Neste ano, no entanto, será diferente: apesar de continuar anulando as escolhas para governo, senado e as proporcionais, ele vai votar em Lula (PT) para presidente da República. Para José Roberto, o que está em jogo é uma escolha “entre a civilização e a barbárie”.


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Coincidentemente, a única eleição da qual ele participou ativamente foi a de 1989, quando tinha 17 anos e votou também em Lula, na primeira vez em que os brasileiros puderam votar diretamente para presidente após a ditadura militar. O petista e o modelo democrático, no entanto, o decepcionaram depois disso. “O Lula que foi eleito presidente não é o mesmo que se apresentou como candidato em 1989”, afirma. “Desde esse período, ele e o PT aceitaram administrar um sistema que naturalmente produz distorções econômico-sociais (...) a meu sentir, ambos não podem ser considerados de “esquerda”, chamá-los então de “comunistas” mais revela o grau de ignorância do acusador”, explica ao Olhar Direto.

Sobre o próprio modelo de democracia brasileiro, José Roberto considera um teatro que, no fim das contas, é encenado para “incutir no povo a falsa ideia de que participa efetivamente da condução dos maiores interesses da nação e de que pode eliminar as reais causas da desigualdade econômica e social, via eleições”.

“Não acredito nessa democracia meramente formal, pautada na prática eleitoral a cada dois anos”, explica José Roberto, que é formado em direito pela Universidade Federal de Mato Grosso e atualmente cursa bacharelado em Ciências Sociais pela mesma universidade.

“Como afirma Marx, o modelo democrático atual é a “ditadura da burguesia”; a participação popular limita-se à eleição de representantes políticos que irão governar no interesse da grande burguesia, segundo suas regras legais e institucionais. À grande massa do povo, especialmente à sua classe trabalhadora, cabe produzir a riqueza da “meia dúzia” de afortunados, contentar-se a, como sempre, ser o agente passivo no processo de exploração pelo capital. As reformas necessárias a trazer o bem-estar do conjunto da população não podem ser implementadas num sistema que, como esse, foi criado para perpetuar o processo de exploração de muitos por poucos”, completa.

Apesar dessa percepção ideológica, o servidor afirma que a vida do povo era melhor nos governos lulistas do que no de Temer e, principalmente, no de Bolsonaro, em termos sociais, econômicos, trabalhistas, culturais e respeito a direitos humanos e ambientais. “Bolsonaro é o legítimo representante da chamada extrema-direita. E o que é a extrema-direita senão a radicalização do grande capital, que, em períodos de grave crise social e econômica, por ele causada, impõe seus representantes mais exaltados e violentos no poder?”, questiona.

Segundo José Roberto, não é à toa que regimes como estes sucedem governos pretensamente populares. “A suspensão momentânea da contínua expansão do lucro pelo capital, em razão de concessões salariais e vantagens indiretas, forçam o grande capital a mover-se; a “demonização” do “governo popular”, a destruição de benefícios legais e sociais concedidos e a tomada do poder por agentes políticos radicalizados fazem parte da receita da extrema-direita (a ditadura é ideia sempre possível nesse processo); é o ódio dissimulado ao povo, em especial à classe trabalhadora, e a tudo que invoque a imagem do popular”, dispara.

Diante desta percepção, o servidor reviu sua posição histórica e decidiu votar em Lula. “Vejo no atual período histórico brasileiro a luta entre uma civilização que se ambiciona criar no país e a barbárie que se desenhou no horizonte em 2018. A piora dos índices sociais, econômicos, culturais, trabalhistas e de respeito à vida humana, desde o governo Temer, mas, sobretudo, a partir de Bolsonaro, é um reflexo disso”, completa.

Para o servidor, faz sentido os multimilionários e bilionários apoiarem um governo de extrema-direita como de Bolsonaro, mas pessoas da classe trabalhadora estarem ao lado do atual presidente comprova “o quão alienadas da sua real situação no mundo elas se encontram”.

“O grande capital não tem pátria ou preferência por este ou aquele regime político, contanto que o Estado cumpra com seu papel de submeter a classe trabalhadora ao processo exploratório e o lucro continue numa espiral ascendente; qualquer sistema político é admitido, inclusive, a ditadura, que, em verdade, torna ainda mais fácil os objetivos dos grandes capitalistas”, finaliza.
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