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Terça-feira, 16 de julho de 2024

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cobrou posicionamento

"Senti medo por mim e pelas pessoas que estavam na mesa", diz advogado orientado a tirar boné do MST no Casarão 154

Foto: Reprodução

Depois da prova do concurso público da Defensoria Civil, o advogado Heber Mariano, de 29 anos, decidiu almoçar com a família de um amigo no Casarão 154, em Cuiabá. Ele conta que não viu problema em ir ao restaurante de carnes nobres usando um boné do Movimento Sem-Terra (MST), mas não demorou para que o simples objeto fizesse com que ele e o restante da mesa sentissem medo do que poderia acontecer. 


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Quando estendeu a mão para cumprimentar um dos garçons, Heber ouviu dele: "sou Bolsonaro". Uma das mulheres que estavam na mesa contou ao advogado que viu quando um homem fez menção de tirar o boné da cabeça dele.

Quando foi ao banheiro, o amigo de Heber foi questionado por outro cliente sobre "quem era o cara com boné do MST". Algum tempo depois, a advogado foi orientado por uma das funcionárias do local a tirar o adereço, mas se negou. 

"Quando sentamos, uma gerente ou uma funcionária, não sei, colocou um boné do estabelecimento, sentou do meu lado... não falou de forma agressiva, sentou do meu lado: E ai? O que você acha de trocar esse boné? Falei: vou ter que tirar o boné? E ela disse: vai". 

De acordo com Heber, a funcionária recuou quando ele explicou que era advogado e sabia que não poderia ser orientado a tirar o boné. Ele conta que o dono do restaurante estava perto da mesa, assim como outros homens, que não sabe dizer quem eram. Para Heber, o clima no restaurante era de hostilidade.

"Quando falei que era advogado, o negócio mudou, pediu desculpa e disse que eu estava certo. Ela desistiu e foi falar com o dono. O dono ficou meio perto da mesa, tinham alguns caras também, era um ambiente muito hostil. A mãe do meu amigo começou a ficar muito assustada, ficou um clima pesado, começamos a querer ir embora". 

Medo de agressões 

Por medo do que poderia acontecer, Heber chegou a cogitar ir embora do local. Depois que a situação pareceu ter se acalmado, ele decidiu ficar e almoçar com o amigo. Na saída, o proprietário do restaurante conversou com Heber, disse que não tinha ideologia e que todos eram bem-vindos no Casarão 154. 

"Acabamos comendo lá, a conta deu mais de R$ 1 mil. Quando estava saindo um cara disse: 'vai embora, vagabundo'. O dono me acompanhou, disse que não tinha ideologia, que era comerciante, que todos eram bem-vindos e que ficava preocupado da minha segurança. O lugar que você paga R$ 15 em um chopp as pessoas não conseguirem entender?". 

No entanto, Heber questiona se o posicionamento do proprietário aconteceu apenas por saber que ele era advogado. Ele afirma que o restaurante deveria se posicionar sobre o ocorrido e que a situação poderia ter sido conduzida de outra forma, no sentido de inibir o comportamento de opressão política.

"Podiam ter tranquilizado, desejado uma boa refeição, falar que colocariam um segurança mais perto para ficarmos mais confortáveis. Até mesmo dizer aos outros clientes que o ambiente era plural. Em momento algum fizeram isso. A mãe do meu amigo ficou muito nervosa epreocupada. Se eu soubesse, se tivesse feito o cálculo que as coisas estavam nessa proporção...". 

Depois que saiu do restaurante, Heber decidiu não usar mais o boné do MST nos passeios que fez na cidade. No mesmo dia, ele ainda foi ao shopping e ao teatro, mas teve medo de manifestar sua opinião política. 

"Estamos vivendo uma polarização muito grande. Estava muito cheio. Foi uma coisa muito tensa, deu uma relaxada no final, conseguimos comer... mas fiquei até com medo de estarem seguindo a gente. Depois parei para analisar, acho que foi loucura, se alguém me batesse ou enfiasse a faca em mim, todo mundo ia se voltar contra mim".

Advogado diz não ser petista 

Heber conta que o posicionamento de votar e manifestar apoio ao ex-presidente Lula vem da necessidade de que Bolsonaro não consiga se reeleger. Ele explica que não é militante do PT e não possui vínculos partidários, mas se preocupa com questões sociais. 

"Em 2018 votei no Amoêdo, no segundo turno anulei. Culturalmente, principalmente no interior, o PT é muito atacado, mas sempre tive um vínculo com a parte social. Estudei em escola particular no segundo ano do Ensino Médio, foi quando conheci amigos mais elitizados, que têm fazenda... Se você vive no meio, ele sempre te faz, você não vai atrás de informações diferentes". 

Quando se mudou para Curitiba (PR), o advogado lembra de ter buscado mais informações sobre a política brasileira. Atualmente, ele busca engajar outras pessoas a saírem da bolha como ele fez. Nas Eleições de 2022, Heber votou em Lula pela primeira vez. 

"Não me tornei petista, existem as críticas ao Lula. O Bolsonaro só é um mal infinitamente maior que o Lula. Penso que nessas eleições é Lula e pronto e acabou. Estou engajado em fazer as pessoas saírem da bolha, verem o que está rolando. Se for para fazer campanha do Lula fazemos, depois criticamos. Luto para tirar o Bolsonaro". 

Outro lado 

Por meio de nota, o Casarão 154 afirmou que o uso do boné do MST gerou "indignação" por parte dos outros clientes que não simpatizam com o movimento. Para o restaurante, o fato foi "distorcido para alimentar narrativa partidária e discriminatória".

" A fim de manter a ordem, e sobretudo, manter a integridade física do cliente que utilizava o referido adereço, decidimos intervir de forma educada e sugerir gentilmente que o boné fosse retirado, o que não foi atendido durante todo tempo em que esteve presente na casa", diz trecho. 

Leia a nota na íntegra:

Considerando as reportagens veiculadas em alguns órgãos de imprensa dando conta de que um de nossos clientes, por estar usando um boné do Movimento dos Sem Terra, teria sido obrigado a retirá-lo por um de nossos gerentes, o Casarão 154 vem à público restabelecer a verdade.

No dia 08 de outubro de 2022, um de nossos clientes adentrou em nosso estabelecimento usando um boné do MST. Tal fato gerou certa indignação por parte de outros clientes não simpatizantes do referido movimento.

A fim de manter a ordem, e sobretudo, manter a integridade física do cliente que utilizava o referido adereço, decidimos intervir de forma educada e sugerir gentilmente que o boné fosse retirado, o que não foi atendido durante todo tempo em que esteve presente na casa.

É lamentável que tal fato tenha sido distorcido para alimentar uma narrativa discriminatória e partidária, que jamais ocorreu.

Nós do Casarão 154 continuaremos com nosso propósito maior, que é de fazer do churrasco uma experiência única. Porém, sem jamais esquecer do valor que o respeito e a verdade possuem na sociedade.
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