O economista Antonio Barros de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que o Brasil deve se preparar para enfrentar uma "enxurrada" de produtos fabricados na China, o que ele considera como uma das consequências "inevitáveis" da crise financeira global. Para Barros de Castro, o investimento no país asiático estava na casa dos 40% do PIB antes do agravamento da turbulência internacional e a redução da demanda global tornará mais acirrada a disputa por mercados para os produtos decorrentes da maturação desses investimentos.

"Com esse tombo da demanda internacional, o que ela (China) faz com as fábricas que inaugura? Há um hiato em formação que deve durar dois ou três anos para ser digerido e que se traduz em intensificação brutal da competição", apontou Barros de Castro, que participou do Fórum Especial 2009, organizado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae).

O economista também questionou a visão do governo de considerar estratégico agregar valor ao petróleo do pré-sal no país. Segundo ele, o principal fator estratégico não passa pela construção de refinarias para processar o óleo, mas pelo uso que será dado à renda gerada pela produção de óleo.

"O critério não pode ser agregar valor, tem que ser desenvolver espaços no mercado internacional e proteger o mercado interno competindo melhor. Petróleo usado estrategicamente faz o maior sentido", disse.

Para Barros de Castro, uma das vantagens do pré-sal é a dificuldade de se chegar ao petróleo. Na visão do economista, se os reservatórios fossem de fácil acesso, o Brasil correria o risco de ser um mero exportador, sem agregar tecnologia ao processo.

"O petróleo sendo difícil exige que o Brasil salte para a fronteira das técnicas. Esse é que seria o uso mais estratégico do petróleo, concentrar para criar, no Brasil, uma fronteira própria", afirmou.