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Terça-feira, 23 de julho de 2024

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Doutor em Comunicação afirma que bolsonarismo destruiu sentimento de unificação nacional na Copa do Mundo

Foto: Arquivo Pessoal

Doutor em Comunicação afirma que bolsonarismo destruiu sentimento de unificação nacional na Copa do Mundo
Com a derrota do Brasil nas quartas de final para a seleção da Croácia, o sentimento do país é de tristeza, no entanto, para alguns a vontade de torcer para a seleção Canarinho ficou de lado por conta da polarização política que o país viveu nas eleições presidenciais. Com o uso das cores verde e amarelo pelo movimento bolsonarista, muitos brasileiros que não concordam com as atitudes do futuro ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pegaram uma certa ojeriza pela camisa da Seleção Brasileira. 


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Em entrevista ao Olhar Direto, o professor da Universidade Federal de Mato Grosso e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Bruno Araújo, explica um pouco sobre a destruição do "sentimento de unificação nacional pelo bolsonarismo”. O docente é Doutor em Comunicação pela Universidade de Brasília e estuda o populismo político de direita.

"Em primeiro lugar, eu considero o bolsonarismo como um movimento social e político de extrema-direita incompatível com as normas e com os procedimentos, com os valores de uma democracia liberal e com um estado democrático de direita. Eu digo isso porque o bolsonarismo representa uma espécie de reação a valores fundamentais das democracias liberais como respeito ao sufrágio universal, como respeito ao voto, como o respeito à separação dos poderes”, explica Bruno.

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Doutor afirma ainda que os movimentos encabeçados pelos bolsonaristas no período pós-eleições são insuflados pela desinformação, que foi patrocinada pelo próprio Estrado, pois o presidente Jair Bolsonaro em diversas ocasiões disseminou a desinformação contra o processo eleitoral. Para Araújo, isso ocorre numa “tentativa de minar a confiança e a legitimidade no processo político eleitoral brasileiro que é motivo de orgulho para o país e que é muito respeitado internacionalmente”.

Com isso, o movimento bolsonarista já deixou e deixará marcas negativas na democracia e sociedade brasileira. Como Bruno afirma, um dos efeitos danosos do bolsonarismo foi o aprofundamento de um antagonismo e de uma divisão social "estabelecida e insuflada pelo Presidente da República entre um grupo que ele entende como sendo cidadãos de bem e um outro grupo que na retórica bolsonarista deveria ser combatido, não no plano da civilidade prática, mas que deveria inclusivamente ser exterminado”.

O professor se refere aos ataques que Jair Bolsonaro promoveu contra o partido do presidente eleito, Lula (PT), como por exemplo, ao dizer que o país deveria “metralhar a ptralhada”, e até mesmo ao Supremo Tribunal Federal e seus ministros. 

“Estes ataques tinham como efeito uma tentativa de destruição do outro, essa é uma lógica própria de funcionamento do populismo de extrema-direita, a divisão da sociedade entre aqueles que são os cidadãos de bem os patriotas e aqueles que seriam na visão da liderança populista os não patriotas ou os inimigos da pátria”, argumenta.

Símbolos nacionais 

Conforme Bruno explica, o bolsonarismo cooptou os símbolos nacionais, incluindo a bandeira do Brasil, como uma tentativa de implantar um sentimento nacionalista no âmbito politico do país. E com isso, a "Copa do Mundo que é um movimento, historicamente, de união dos brasileiros em torno de simbologias que expressam um certo patriotismo de todos em torno da torcida pela seleção brasileira, este sentimento de unificação nacional em torno da Copa foi destruído pelo bolsonarismo na medida em que eles cooptaram os símbolos nacionais”.

Numa sociedade democrática não existe um povo igual e homogêneo como a liderança populista tenta implantar, mas sim, é composta por muitos interesses, grupos diferentes que professam fé, valores, visões de mundo diferentes. “Ninguém está autorizado a usar um símbolo nacional que é de todos para fim de identificação de uma dessas facções, de um desses lados do jogo político, porque quando se faz isso, o que se está fazendo é excluindo do jogo democrático a outra parte da sociedade que não concorda com as visões da liderança populista, no caso Jair Bolsonaro”.

Por conta dessa divisão, a população acaba se dividindo não apenas na corrente política, mas também nas relações sociais mais simples do dia a dia. E isto mostra o efeito do processo de aprofundamento do antagonismo no seio da sociedade brasileira. 

“Como é tudo muito recente, tem efeitos diretos sobre um dos eventos que mais uniu do que separou os brasileiros, que é a Copa do Mundo. A responsabilidade por isso é a lógica populista que foi adotada pela extrema-direita e que visou ao longo dos últimos quatro anos criar inimigos, grupos que não estariam na condição de verdadeiros cidadãos ou de patriotas. E nesse sentido, a bandeira do Brasil, como foi bastante usada por eles, a bandeira e os símbolos nacionais passaram a serem associados aos bolsonaristas, criando na outra parte da população que também é brasileira um sentimento de repulsa a utilização dos símbolos nacionais”, exemplifica Bruno. 

Um exemplo na capital mato-grossense é a falta de ruas pintadas e decoradas para a Copa do Mundo, como ocorreu nas edições anteriores. Segundo o morador do Grande Terceiro, Juliano, que decorava sua rua desde 2010, os vizinhos ficaram desanimados neste ano e ninguém se reuniu para fazer nada.

Para o docente da UFMT, o desafio agora para o Brasil, como país, é fazer o resgate dos símbolos nacionais, "entendendo que eles representam um sentimento de agregação e não um sentimento de divisão da sociedade como foi feito pelo bolsonarismo”.

Finalizando, Bruno explica que o momento que vivemos como nação é “muito trágico” e mostra mais um sintoma da gravidade que é o aprofundamento das divisões sociais como vimos acontecer nos últimos quatro anos no Brasil, com a ascensão do movimento de extrema-direita.

 
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