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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

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Agro de MT investiu milhões em candidaturas bolsonaristas e deve ser carrasco de ministro escolhido por Lula

Foto: Ricardo Stuckert

Agro de MT investiu milhões em candidaturas bolsonaristas e deve ser carrasco de ministro escolhido por Lula
O agronegócio de Mato Grosso foi o principal financiador de candidaturas locais nas eleições deste ano, mas marcou forte presença também a nível nacional, apoiando principalmente candidatos alinhados ao bolsonarismo. O setor, que mantém o apoio ao presidente derrotado Jair Bolsonaro (PL), foi crucial, ainda, nas mobilizações antidemocráticas que tentavam impedir a diplomação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e deve ser uma pedra no sapato do ministro escolhido pelo petista para comandar a Agricultura, o mato-grossense Carlos Fávaro (PSD).


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Engana-se, no entanto, quem atribui a Lula o revés na relação entre o agronegócio e o PT. Foi em suas gestões, de 2002 a 2010, que o setor recebeu os maiores créditos e incentivos. Também é incorreto atribuir a simpatia de parte do setor a Bolsonaro exclusivamente à agenda de costumes.

Essa história, na verdade, começou a ser desenhada em 2014, logo após a reeleição de Dilma Roussef (PT). Liderado, naquela ocasião, pela União Democrática Ruralista (UDR) – uma entidade conhecida por posições extremistas – parte do agronegócio começou a espalhar criticas à lisura do processo eleitoral e a utilizar o ataque à corrupção como mote, na linha da Operação Lava Jato, além de radicalizar a aversão dos produtores ao PT.

Até então, os governos petistas mantinham proximidade com a elite do agronegócio no País, mas alimentavam a marginalização de produtores contrários à carga tributária aplicada ao setor e penalizados por multas relacionadas a ilícitos ambientais. Além disso, o movimento capitaneado pela UDR reclamava das ações voltadas aos povos indígenas e de movimentos sociais como o MST.

Em 2016, a chamada “bancada ruralista” foi crucial no processo de impeachment de Dilma. Mas o presidente empossado, Michel Temer (MDB), manteve o elo com os barões do agronegócio com a indicação de Blairo Maggi (PP) para o comando do Ministério da Agricultura.

Um ano depois a situação voltou a degringolar quando o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou constitucional que a União cobrasse dos empregadores rurais pessoa física a contribuição para o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), um tributo usado pelo governo para custear parte da aposentadoria de trabalhadores do campo.

Jair Bolsonaro na época era considerado um deputado federal de baixo clero, mas já ambicionava a Presidência da República. O então parlamentar viu na situação uma chance de se favorecer e surfou na onda, foi quando passou a frequentar eventos da UDR e incorporou em seu discurso de campanha pautas que agradavam fazendeiros com papel subalterno na cena política e econômica.

Bolsonaro se elegeu defendendo a redução de impostos para a agropecuária e a possibilidade de supressão das dívidas do Funrural, posicionando-se contra os movimentos sociais e contra os direitos territoriais de povos e populações tradicionais, e fazendo críticas à fiscalização e à punição a ilícitos ambientais, além de propor a facilitação do uso de armas de fogo por proprietários rurais.

Em Mato Grosso, outro político radical decidiu adotar a estratégia de Bolsonaro. De olho no comando da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), o produtor rural Antonio Galvan (PTB) buscou cooptar pequenos e médios sojicultores ao adotar um tom combativo com as transnacionais ligadas à soja e com os governos estadual e federal.

A aproximação entre Bolsonaro e a Aprosoja de Mato Grosso deu impulso ao avanço de posições radicalizadas nas Aprosojas de outros estados e, consequentemente, na Aprosoja Brasil, que passou a ser presidida por Galvan.

Dias atuais

Até pouco tempo, o PT era um dos partidos que mais governavam as cidades do Brasil. Atualmente, não está nem entre os dez primeiros. Mas esse não é o único partido tradicional assolado pelo bolsonarismo, que além de uma oposição mais radical à esquerda, também abalou fortemente a centro-direita.

Amplificado por meio de grupos cívicos respeitados como Lions International, o Rotary Club e os maçons, e com a ajuda das igrejas evangélicas para alcançar a classe trabalhadora, Bolsonaro teve a maior parte de sua campanha este ano financiada por líderes do agronegócio e conquistou o maior número de votos em seis dos sete estados agrícolas que mais produzem no Brasil.

Conforme divulgou Olhar Direto, no primeiro turno, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre os dez maiores doadores da campanha de Bolsonaro à reeleição, seis eram empresários do agronegócio de Mato Grosso. Os outros dois também eram do agro, mas de Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul.

Os recursos também foram destinados ao PL, que em Mato Grosso elegeu sozinho metade da bancada de deputados federais.

Influenciado sobretudo por fatores externos, como o preço no mercado internacional que favoreceu as commodities que o Brasil exporta, o agronegócio contribuiu com 27,6% do PIB do País no ano passado, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo, o maior percentual desde 2003, e acima dos 20% em 2018, quando Bolsonaro foi eleito.

Não à toa, este ano o ranking dos 100 municípios mais ricos do Brasil na produção do agronegócio elencou 35 municípios de Mato Grosso. Sorriso é a cidade mais rica em produção. Dos R$ 470 bilhões comercializados em 2020 pelo País, a cidade do médio-norte mato-grossense foi responsável por R$ 5,3 bilhões, conforme os dados apresentados pelo Ministério da Agricultura.

Além do protagonismo no agro, a cidade passou a ser chamada nacionalmente de “capital do golpe”, uma vez que que mais da metade das contas bancárias bloqueadas por determinação do STF, por suspeita de financiamento de atos antidemocráticos, são de lá.

Calo no sapato de Fávaro

Escalado por Lula para tentar “furar a bolha” bolsonarista do agronegócio de Mato Grosso, o senador Carlos Fávaro foi o escolhido para comandar o Ministério da Agricultura a partir de 2023. Mas para ser efetivado na Pasta, o agora ministro percorreu um verdadeiro calvário.

O parlamentar vinha sendo condenado pelo setor desde que assumiu a aliança com Lula, inclusive por meio do aparato sindical. Pesava contra ele, ainda, o fato de sua suplente, Margareth Buzetti, ser assumidamente bolsonarista. Para garantir sua indicação ao Mapa, ela deixou seu partido, o PP, e está de malas prontas para se filiar ao PSD, garantindo assim o apoio ao petista no Senado.

O mato-grossense, porém, não deverá ter vida fácil no Ministério. Ainda rejeitado por diversas entidades, Fávaro terá não só a missão de restabelecer a interlocução internacional do agro, mas principalmente com o mercado interno. A atual gestão da Aprosoja-MT, por exemplo, chegou a encaminhar nota à imprensa afirmando que não referenda seu nome como representante do setor em Brasília.
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