Olhar Direto

Quinta-feira, 02 de maio de 2024

Notícias | Política BR

SETOR DOMINADO PELO BOLSONARISMO

Retomada da narrativa política e assepsia do agro: os desafios de Fávaro no Ministério da Agricultura

13 Fev 2023 - 11:37

Da Redação - Érika Oliveira / Airton Marques

Foto: Rogério Florentino/ Olhar Direto

Retomada da narrativa política e assepsia do agro: os desafios de Fávaro no Ministério da Agricultura
Um mês depois de assumir um dos ministérios que, em sua avaliação, estava mais bem estruturado desde os governos anteriores, o ministro Carlos Fávaro (PSD), da Agricultura, ainda se vê em meio à guerra de comunicação imposta pelo bolsonarismo no País. O setor que ele representa é um dos considerados mais alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ainda vive o bombardeio de informações falsas e o desgaste de uma imagem arranhada perante o mercado internacional.


Leia mais:
Bolsonaristas tumultuam reunião da bancada e são advertidos por Jayme Campos: ‘aqui não funciona assim’
 
Fávaro recebeu a reportagem do Olhar Direto em seu escritório, na sede do PSD de Cuiabá, com o celular na mão e uma orientação para sua assessoria: desmentir uma fake news que circulava nos grupos de WhatsApp a respeito da liberação de linhas de crédito para programas agropecuários.

“O BNDES reabriu essas linhas de crédito, que haviam sido suspensas pelo governo anterior. A procura foi tão grande, porque os produtores estavam desesperados, que o dinheiro acabou muito rápido. Nós já estamos trabalhando pela liberação de mais crédito, mas eles colocaram lá que o governo cancelou o programa. Toda hora temos que dedicar tempo para desmentir alguma coisa”, comentou o ministro.

A dificuldade em retomar a narrativa política é praticamente consenso no “Lula III” e vem sendo motivo de crítica inclusive de aliados. Fávaro reconhece, mas busca evitar o revanchismo.

“A eleição acabou e podem ter certeza que, tanto da minha parte como da parte do presidente Lula, nós estamos prontos para construir pontes e não muros”, garantiu.  

Há um mês no comando do Ministério da Agricultura, mas por dentro do problema desde a transição governamental, o ministro conta o cenário que encontrou e a expectativa pela reconstrução de um setor que ainda permanece dividido. Veja abaixo a reportagem completa:

OD – O presidente Lula assumiu o país com a promessa de executar diversos projetos que exigem tempo e articulação para ser implementados. No entanto, muitos analisam que até agora o Governo não conseguiu tomar as rédeas da narrativa política, ocupando a maior parte do tempo para apagar incêndios. O senhor concorda?

Fávaro – Eu concordo plenamente. Nós precisamos dar o mérito as pessoas e o mérito do Bolsonaro é que ele é muito competente para criar mentira e fazer as pessoas acreditarem. Como pode um grupo conseguir inventar fake news e esparramar com tanta eficiência? Eu confesso a você que temos tido dificuldades. Estou com uma campanha no agro para que as pessoas plantem a verdade, não é só soja e milho.

Há uma descontinuidade muito grande de políticas públicas. O pessoal falava muito do Tarcísio, foi eleito lá em São Paulo com essa história de tocador de obras, mas me diga onde tem obra do Tarcísio, porque eu não consegui achar nenhum quilometro de asfalto que ele licitou e executou aqui em Mato Grosso. O governador Mauro Mendes tinha razão quando falava disso. Era apenas a retorica de tocador de obras.

O ministro Renan Filho, em 30 dias, já liberou R$ 2,7 bilhões só para a manutenção de rodovias e pontes, obra nova aqui em Cuiabá inclusive – do Rodoanel, os R$ 126 milhões dessa obra já estão na conta.

É a partir dessa capacidade e eficiência  que eu acredito que a gente vá ganhar força nas bases. Qual parlamentar não quer voltar para o seu Estado hoje e anunciar recursos? Na medida que essas coisas começarem a acontecer, o humor do mundo vira para o Brasil e nós vamos conseguir implementar as medidas estruturantes, que muitas vezes podem ser difíceis, mas para que o Brasil não seja um país que só paga juros para banqueiros e não investe nas pessoas.



OD – Quando o senhor passou a ser cotado para o Ministério, o setor apresentou certa resistência ao seu nome. O senhor acredita que dentro desse primeiro mês desde a posse, conseguiu diminuir um pouco dessa resistência?
 
Fávaro – Todos aqueles que pensam com racionalidade e com consciência entendem a força da democracia. Eu já recebi mais de 40 entidades de classe. A eleição acabou e podem ter certeza que, tanto da minha parte como da parte do presidente Lula, nós estamos prontos para construir pontes e não muros. Aqueles que não querem reconhecer a legitimidade das urnas, aí têm que se entender com a Justiça. Mas a imensa maioria já se manifesta consciente. E todos têm direito de se manifestar contra o presidente Lula, apoiar ou não, votar junto ou não, ou em 2026 votar em quem quiser, mas dentro do período eleitoral. Eu levo a mensagem do diálogo. Já melhorou muito e eu tenho certeza que vai melhorar ainda mais. Não quero convencer ninguém de que o Lula é melhor que o Bolsonaro, os fatos é que vão provar isso.
 
OD – O senhor acompanha a situação da Agricultura brasileira desde a transição. Depois que tomou posse, qual foi a realidade encontrada?

Fávaro – Eu tenho dito com muita humildade que recebi o Ministério da Agricultura de uma sucessão excelente de ex-ministros. Faço aqui os elogios ao Marcos Montes, Tereza Cristina, Blairo Maggi, Kátia Abreu, Neri Geller, Roberto Rodrigues, Guedes Pinto, Reinhold Stephanes, enfim, pessoas vocacionadas e que tiveram um bom quadro de colaboradores e técnicos no Ministério. Tiraram o agronegócio brasileiro de um lugar de importador de alimentos na década de 70 para esse grande produtor mundial.

O meu desafio tem sido a imagem. Encontrei sim uma imagem dos produtores brasileiros muito arranhada, tanto internamente como externamente. O modelo de gestão com relação ao Meio Ambiente no governo passado foi muito maléfico aos produtores, porque os associou a crimes ambientais. E são poucos que os cometem, mas todos estão pagando o preço. O desafio é levar essa comunicação de que nossos produtores têm boas práticas e que respeitam o Código Florestal. Tenho feito isso com muita determinação.

E se eu puder deixar algum legado nessa minha passagem pelo Ministério, é de ser um ministro contemporâneo. Trabalhar para pensar a agricultura do futuro. Quero dar esse start junto das cabeças pensantes, junto da ministra Marina Silva, preparar um conjunto de ideias e obras pensando na agricultura de baixo carbono.

OD – Ainda sobre a imagem do setor. O senhor foi presidente da Aprosoja e nos últimos anos nós vimos a entidade muito associada ao bolsonarismo, uma politização até de certa forma enviesada. Como o senhor acompanha tudo isso?

Fávaro – Eu, quando presidente da Aprosoja, também tinha minhas convicções político-partidárias que foram respeitadas. Portanto, os membro-diretores, associados têm todo o direito de, no período eleitoral, manifestarem suas preferências. Mas a entidade, a meu ver, tem que ser apolítica, tem que ficar fora.
Na medida em que a entidade passa a ser politizada, isso causa prejuízos. Mas estou aqui para dizer mais uma vez, inclusive para a Aprosoja: a eleição acabou. As portas estão abertas para que possamos reconstruir o futuro.
 
 
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 

Comentários no Facebook

xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet