Pode até parecer irônico, mas uma das pessoas que mais faz pela comunidade quilombola de Mata cavalo é um branco. Apaixonado pela "questão negra", Aguinaldo Borges é uma espécie de 'super-artista', que escreve livros, toca viola de coxo e compõe músicas entoando o quilombo como tema.
O fato é que ele descobriu ajudar a comunidade fazendo isso. Para entender, é preciso conhecer um pouco da geografia local: O quilombo de Mata Cavalo é dividido em pequenos agrupamentos, sendo eles o Mata Cavalo de Baixo, o Mata Cavalo de Cima, Mutuca e alguns outros.
A comunidade de Mata Cavalo de cima possui um grupo de Siriri, no qual Aguinaldo foi o violeiro por dois anos, chamado 'Os Quilombolas". Os siririeiros já se apresentaram em diversos locais e cidade. Inclusive em Cuiabá.
"Essa comunidade se tornou mais conhecida, chamou a atenção das pessoas para cá", explicou Aguinaldo, enquanto segurava um exemplar do livro que escreveu sobre a comunidade. Segundo ele, a cultura dos quilombolas encanta as pessoas que convivem com ela.
Vendo como o ministro e toda comitiva do governo ficaram estáticos e boquiabertos com a apresentação de Aguinaldo tocando o hino do Brasil na viola de coxo, para abrir o encontro da comunidade com a autoridade, não é difícil acreditar no artista.
Mais gratificante ainda foi ver o sorriso do ministro durante a apresentação dançante de siriri, organizada pela comunidade para a recepção das autoridades.
Percebendo reações como essas o artista resolveu escrever um livro sobre Mata Cavalo, mais especificamente o Mata cavalo de Cima. No livro ele explora a cultura e os problemas vividos por aquela população. Aguinaldo ainda aproveita para abordar as outras comunidades e, também, os principais quilombos do país.
"A idéia é usar a cultura como proposta e poder de transformação. O livro apresenta algumas propostas e serve para as pessoas conhecerem Mata cavalo", concluiu o artista, ainda com o livro em mãos, um sorriso no rosto e aquele quilombo no coração.