Uma Policial Penal, que atua na Penitenciária Central do Estado (PCE), denunciou ter sofrido tortuta, na madrugada deste sábado (4), durante o Curso de Intervenção em Recinto Carcerário (CIRRC). O crime teria como autores cinco membros do Grupo de Intervenção Rápida (GIR), responsáveis pela mediação do curso. A vítima alega que o caso também foi motivado como forma de retaliação após ter denunciado um caso de importunação sexual que sofreu em novembro de 2022, enquanto trabalhava na PCE.
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Segundo informações da Polícia Civil, a vítima afirma ter sido submetida a uma série de violências durante a realização do curso, como: ter as mão pisadas durante um exercício de flexão e tentativa de asfixia utilizando uma balaclava invertida. No relato, a policial afirma ainda que recebeu gás lacrimogêneo e espuma de pimenta diretamente em seu rosto em diferentes momentos.
No relato, a vítima declarou que durante a realização do curso foi incentivada diversas vezes a desistir. Entre um exercício e outro, os membros do GIR chegaram a dizer que aquele não era o lugar da policial e que ela deveria "voltar para casa e ir lavar vasilhas".
Em uma das passagens de violência, a policial relata que um dos membros do curso utilizou o fato dela ter denunciado um caso de importunação sexual, em novembro de 2022, como justificativa pelas torturas. Segundo a vítima, o mediador afirmou que a mulher queria "prender um irmão de farda" e exigiu que ela contasse o que registrou no Boletim de Ocorrência na época em que denunciou o caso.
Durante o curso, os organizadores chegaram a oferecer comida azeda misturada com refrigerante para os participantes. Antes de obrigar os alunos a comerem a comida no chão, um dos mediadores do curso passou parte do alimento no rosto da vítima. A policial comentou ainda que os que se recusaram a comer eram desligados do curso.
A policial afirmou que só conseguiu desistir do curso no momento em que os membros do GIR levaram o grupo para uma rodovia na saída para Rondonópolis (212 km de Cuiabá). Na ocasião, a vítima conseguiu pular de uma viatura com membros do curso, que pretendiam levá-la para uma agrovila.
Após fugir do local, a vítima buscou ajuda em uma casa próxima a rodovia, mas precisou enfrentar ainda a abordagem da equipe que estava na viatura. Ao chegarem na casa em que a policial buscou ajuda, uma das pessoas chegou a afirmar que ela estava em um "surto psicótico". Após conseguir uma carona, a vítima localizou seus familiares e retornou para casa.
Importunação Sexual
Em novembro de 2022, a policial penal registrou um Boletim de Ocorrência narrando um crime de importunação sexual que sofreu durante o plantão, dentro da PCE. Na ocasião, a vítima estava trocando de roupa em um alojamento quando percebeu um rosto pela janela do local.
Ao identificar que estava sendo assediada, a vítima chegou a pedir ajuda de outros colegas, mas nenhum suspeito foi identificado. No registro do crime, a policial chegou a solicitar a verificação das imagens das câmeras de segurança do presídio, com o objetivo de localizar o autor da ação criminosa.
Cancelamento do curso
Após tomar conhecimento das denúncias, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT) solicitou, ainda na noite deste sábado (4), a suspensão imediata do curso. Em nota, a pasta informou que irá instaurar procedimento administrativo para apurar os fatos narrados pela vítima.
"A Polícia Judiciária Civil já abriu inquérito para investigar o ocorrido, sendo que até o momento duas pessoas já foram interrogadas. O Governo de Mato Grosso reforça que não coaduna com nenhum tipo de abuso de autoridade ou assédio de qualquer natureza", finalizou a nota.