Relatório da Operação Gravatas, deflagrada nesta semana pela Polícia Civil para apurar um grupo de advogados e um policial militar que se associaram a presos em ações criminosas, revelou que uma advogada levantava ficha de criminosos que seriam rivais de faccionados do Comando Vermelho no Estado de Mato Grosso.  

Leia também
Mendes cobra rigor nas investigações e diz que viu tristeza profunda nos olhos de familiares de aluno morto

Ao todo, a polícia prendeu quatro advogados e um policial militar. A investigação apontou a existência de uma organização criminosa liderada por três presos.

Os relatórios de investigação policial, que reúnem mais de 1.300 páginas, detalham a conduta dos investigados e que cada advogado tinha uma tarefa bem definida em benefício da organização criminosa.

De acordo com o relatório, a advogada Jéssica Daiane Maróstica levantava fichas criminais de integrantes da facção.  Em um áudio interceptado pela polícia, um homem identificado como  Robson, mas salvo como “Red”, solicita que Jéssica faça uma pesquisa para a Organização Criminosa. 

O criminoso então envia a identificação de pessoas para que a advogada consulte se elas possuem passagem criminal ou respondem por algum processo na Bahia. Para a polícia, fica demonstrado que não se trata de uma consulta “normal” entre cliente e advogado.

“Oi, doutora! Tudo bom?. Desculpa te incomodar. Doutora, precisava que você puxasse quatro nomes para mim aí de uns rapazes que são lá da Bahia só para mim saber se tem alguma passagem, tem algum processo, alguma coisa assim. Você não consegue caçar pra mim não?”, pede o criminoso em uma mensagem de áudio. 

Antes da resposta da advogada, Robson envia 3 fotos que aparecem o RG de duas pessoas. Jéssica o responde e afirma que irá fazer a checagem quando chegar em casa: “Tô chegando em casa. Já vejo você”. 

Robson também encaminha para Jéssica o nome de outra pessoa a ser pesquisada por meio de um Boletim de Ocorrência. Sem questionar o bandido, a profissional inicia pesquisa pelos sites da Justiça de Mato Grosso. Ela comenta em cima da foto em que consta os documentos de identificação de duas pessoas. 

A advogada informa à liderança do “CV” que estas duas pessoas não têm passagem no Estado do Mato Grosso. Mas ela se oferece para pesquisar em outros estados e, então, Robson responde para averiguar na Justiça baiana.

“Doutora, eles são da Bahia, se você puder puxar de lá, né?”, disse. A advogada inicia a busca por passagens ou processos criminais no Estado da Bahia, vez que as pessoas citadas são do nordeste.

Robson, em tempo real, confirma para a profissional sobre a situação das pessoas que ela está pesquisando: “Eu estou com esses 3 sequestrando amarrado mato” (sic). Logo depois, ele afirma que encontrou várias fotos dos sequestrados fazendo apologia à outra facção. A advogada, mesmo ciente do crime em andamento, responde: “Já vejo”.

Jessica chega a brincar com a situação e encaminha ao criminoso uma figurinha com o sinal da cruz. Naquele momento, diz a polícia, um “Tribunal do Crime”  estava em andamento e a jurista atuando como “consultora jurídica” da organização criminosa, diz a Polícia.

Após brincar com a situação, Jéssica ainda comenta: “Pesado kk”. “Tais letras indicam que ela está dando risada do fato de 03 pessoas estarem amarradas e sequestradas pela facção criminosa Comando Vermelho”, afirma a polícia. 

Conforme a polícia, mesmo ciente do crime de sequestro em andamento, isto é, que três pessoas estão amarradas e subjugadas por integrantes do “CV”, ela envia o resultado das pesquisas feitas em nome das vítimas.