Olhar Direto

Quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Notícias | Meio Ambiente

USADOS PARA COMPRA DE GADO E AVIÃO

Fazendeiro que fez desmate químico de 81 mil hectares no Pantanal recebeu R$ 10 milhões em créditos rurais

Foto: Reprodução

Fazendeiro que fez desmate químico de 81 mil hectares no Pantanal recebeu R$ 10 milhões em créditos rurais
O Greenpeace Brasil identificou que o fazendeiro Claudecy Oliveira Lemes, acusado por desmate químico em áreas que totalizam 81 mil hectares no Pantanal mato-grossense, recebeu mais de R$ 10 milhões em crédito rural, concedido pelo Banco do Brasil. Além disso, o levantamento de dados públicos realizado pela organização também constatou que o fazendeiro forneceu gado para o frigorífico JBS entre os anos de 2020 e 2023.


Leia mais
MPF investiga se suposto desmate químico de 81 mil hectares no pantanal atingiu terra indígena

Claudecy foi multado em mais de R$ 2,8 milhões, a maior sanção administrativa já registrada pela Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema-MT). 

A investigação contra o pecuarista foi iniciada em 2022, após denúncia de que uma propriedade rural, localizada no município de Barão de Melgaço (a 109 km de Cuiabá), estava utilizando agrotóxico na região do Pantanal com a finalidade de promover a limpeza de vegetação nativa, denominado “desmate químico”. 

O desmate químico resultou na mortandade de espécies arbóreas mediante o uso irregular e reiterado de 25 tipos de agrotóxicos em área de vegetação nativa, promovendo o desmatamento ilegal em 11 propriedades rurais. A aplicação dos produtos tóxicos se deu por via aérea, o que agravou ainda mais a situação.

O caso tomou conta da mídia à época, em abril deste ano, e o Greenpeace passou a investigar os recursos financeiros de Claudecy. Uma das fazendas do pecuarista, a ‘Fazenda Soberana’ levantou um alerta na organização, pelos seguintes dados:

- Auto de infração por desmatamento ilegal em uma área equivalente a 1.370 hectares aplicado pelo órgão SEMA/MT e lavrado em 2020, com uma multa de R$ 6.853.650,00;

- Quatro financiamentos, que juntos somam mais R$10 milhões, concedidos pelo Banco do Brasil entre março de 2021 e março de 2022, ainda vigentes;

- Venda de gado para a JBS em 2021, mesmo após a fazenda ser embargada por desmatamento;

- Indícios de uso ilegal do fogo em 2023, com registro de uma área queimada estimada em 2.500 hectares dentro dos limites da fazenda.

“Em um dos autos de infração emitidos em 2023 pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente/MT (Auto de Infração nº 1369000223), a “Fazenda Soberana” também aparece como receptora dos agrotóxicos possivelmente utilizados para a prática de desmate químico realizado nas fazendas vizinhas, todas de Claudecy”, diz o Greenpeace.

Créditos rurais

Os créditos rurais somam R$ 10.017.840,00, com vencimentos entre 2027 e 2029. Todos eles foram concedidos à fazenda multada por desmatamento ilegal, entre 2021 e 2022.

No ano de 2021, o Banco do Brasil concedeu os empréstimos para a aquisição de três mil cabeças de gado. Já em 2022, o crédito foi destinado para a aquisição de um avião.

Em 2021, o BB concedeu três empréstimos a Claudecy para aquisição de 3 mil cabeças de gado. Em 2022, um novo empréstimo do BB foi concedido para a aquisição de um avião. 

“Diante do tamanho dos danos ambientais causados por Claudecy, seja com o suposto uso dos agrotóxicos para o desmate químico, seja pelas demais irregularidades socioambientais em suas fazendas, o Banco do Brasil deve cancelar as operações de crédito vigentes e liquidar o empréstimo antecipadamente, tanto para se alinhar as regras atuais do Manual do Crédito Rural, como para evitar a continuidade dos prejuízos causados pelo fazendeiro”, recomenda a porta-voz da campanha de florestas do Greenpeace Brasil, Thais Bannwart.    

Venda de gado

Em relação à venda de gado ao frigorífico JBS, o Greenpeace constatou que o fato ocorreu em 2021, para a unidade da empresa no município de Pedra Preta. Além disso, a venda foi feita um ano após a fazenda ser embargada por desmatamento ilegal.

“Antes de realizar a compra, a JBS tinha como saber que a fazenda estava embargada. Mais que isso, a empresa deveria buscar essa informação para cumprir com a sua própria política de compra, que afirma que o frigorífico não adquire animal de imóveis rurais com desmatamento não autorizado em todos os biomas a partir de 01/08/2019”, explica a coordenadora da campanha de florestas do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti.
Claudecy vendeu outros 106 lotes de gado para a JBS entre março de 2020 e maio de 2023 de uma outra fazenda.
 
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 

Comentários no Facebook

Sitevip Internet