As araras Canindé e os papagaios, apesar de asas próprias, precisaram das imensas asas de uma aeronave para retornar ao lugar de onde foram criminosamente retiradas. Desafio logístico vencido: por ''bandidos'' na ida e por ''gente boa'' na volta. A bióloga Marcela Marques, setor de fauna do IBAMA, chamou a atenção sem querer. Pelo inusitado. ''Rosinha'' insistia em ficar agarrada à bióloga. Os braços de Marcela já exibiam marcas e arranhões. A bióloga é ''mãe substituta'' e explicou que a filhotinha de tamanduá foi encontrada agarrada aos ossos da mãe, morta por atropelamento na estrada. Fadada a morrer, foi levada ao IBAMA. A bióloga reviu os alfarrábios, leva uma toalha para que o filhote possa se agarrar sem machucar ainda mais e já deu o nome à filhotinha. Vai tentar ensiná-la a descobrir cupinzeiros e formigueiros, mas, adianta, será difícil ensiná-la truques para se manter viva diante de tantos predadores. Fiquei torcendo para que a orfandade da tamanduá-fêmea, suprida por uma mãe provisória, não lhe subtraia, precocemente, a vida no futuro. Volto às araras e aos papagaios. Vão para uma pousada no Km 31 da Transpantaneira para se readaptarem ao habitat. Voltam à natureza. Observação de alguém que assistiu à cena: ''Será que algum dia o ''bicho-homem'' conseguirá admitir que o Planeta não foi feito exclusivamente para ele? E, mais: será que a humanidade vai conseguir perceber, a tempo, que esse modelo de consumo e predação de recursos naturais é, claramente, insustentável?''