Poder político é algo a que raramente se cede sem uma boa razão. Assim, as sobrancelhas se ergueram na semana passada, quando o Departamento de Comércio dos Estados Unidos decidiu relaxar o controle sobre a Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números (Icann, na sigla em inglês), o corpo responsável pelo sistema de nomenclatura que garante o "caminho" seguido pelo navegador ao digitar um endereço na internet.

No futuro, governo e outras organizações internacionais serão capazes de designar funcionários para um dos três recém-criados comitês de diretores da Icann --algo para o qual o Departamento de Comércio dos EUA resistiu por anos. "O que isso realmente significa", diz o diretor-executivo do Icann, Rod Beckstrom, "é que seremos globais".

Países que não usam caracteres latinos, determinados pela Icann como padrão para escrever endereços na web, também serão acolhidos nas mudanças.

Milhões de usuários da internet são impedidos de usar nomes de domínio em suas próprias linguagens. Beckstrom disse que as mudanças da Icann podem corrigir isto em breve, e prevê que endereços em alfabetos chinês e árabe podem surgir em pouco mais de um ano.

A mudança também agrada a União Europeia, que durante anos se preocupou com a dominação dos EUA sobre a organização. "As decisões do Icann serão mais independentes e mais responsáveis", disse Viviane Reding, comissária europeia para Sociedade de Informação e Mídia.

Tem sido sugerido que há medo dos EUA e de outros países sobre uma possível ruptura e formação de uma internet "alternativa" estaria por trás da decisão. No entanto, as preocupações não são críveis, diz Lesley Cowley, da Nominet, responsável pela regulação dos domínios ".co.uk". "Navegadores atuais não seriam capazes de acessá-la", observa.

As mudanças, então, vão melhorar a internet? Já havia planos para aceitação de linguagens locais em nomes da internet, então é duvidoso que seja muito diferente disso. Além disso, a adição de comitês dificilmente deve agilizar uma organização muito acusada de burocracia e, ainda assim, a internet floresceu com o regime existente.

Os EUA podem simplesmente estarem felizes pelo relaxamento do controle porque se acredita que o sistema atual está suficientemente estabelecido para andar com as próprias pernas.