Olhar Direto

Terça-feira, 28 de maio de 2024

Notícias | Cultura

"O Livro dos Mandarins" mostra absurdos da rotina e da política mundial

Paulo é diretor em um grande banco, chefiado por Paul, e tem como secretária Paula, que não sai de casa sem a foto do sobrinho Paulinho na bolsa.


Paulo sofre de uma dor nas costas que nunca está no mesmo lugar. Ainda não sabe que, ao chegar na China, conhecerá a cama Ceragem, que fará passar a sua dor nas costas. Ou não.

O escritor Ricardo Lísias, 34, explicará melhor essa história ao longo das 344 páginas de "O Livro dos Mandarins". Não significa que ela fará muito mais sentido que nos dois parágrafos acima -- e, no entanto, será perfeitamente compreensível.

Habituado a encontrar nas situações absurdas o pano de fundo para seu invulgar universo ficcional, Lísias não precisou ir longe para construir seu terceiro romance, embora a narrativa chegue até a China.

O autor buscou no mundo corporativo a base para escrever sobre Paulo, Paul, Paula, Paulinho, "essa gente" que, como ele define, "é toda igual". Não que fosse um ambiente com o qual tivesse intimidade. Nos agradecimentos do livro, ele conta que teve de recorrer a "executivos e funcionários de vários bancos", que "aceitaram descrever o seu dia a dia" (e achou melhor, "por razões evidentes", não nomeá-los).

As pesquisas duraram quatro anos e incluíram a "torturante" leitura diária de um jornal econômico. "Queria entender como funciona a cabeça deles, a linguagem, esse universo cheio de obsessões", descreve o paulistano, um dos mais elogiados jovens autores nesta década, finalista dos prêmios Portugal Telecom ("Duas Praças", em 2006) e Jabuti ("Anna O. e Outras Novelas", em 2008).

Paulo _o protagonista, bem entendido -- passará um terço do livro ambicionando uma vaga na China, país em que o banco quer investir. Estudará mandarim e se tornará especialista em tudo o que diz respeito aos chineses. Nos outros dois terços da história, descobrirá que nada será como ele pensa. Mas é preciso manter as aparências. Ou, pior, acreditar nelas.

A história começa em 2003, quando no jornal econômico "só se falava na China". "O que achei curioso foi que várias questões sobre a China ficaram enviesadas. A ligação deles com o Sudão, o apoio a um país que faz um massacre, a questão dos direitos humanos, tudo isso fica de lado quando a China aparece como 'o' país." O Sudão, cenário do genocídio que desde 2003 deixou mais de 300 mil mortos, também aparecerá -- e lá os "Paulos" serão homônimos do presidente acusado de crime contra a humanidade, Omar Hasan Ahmad al-Bashir.

Se é absurdo? "Sim, é", avalia o autor, "mas, ao mesmo, tempo ninguém pode falar que aquelas coisas não acontecem."
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet