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Domingo, 12 de maio de 2024

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Tordesilhas

Saiba como foi o jantar dos chefs do Semana Mesa SP

Nesta quarta-feira, já no final do dia, quando o estômago já começa a se pronunciar de fome e os olhos procuram por alguma coisa comestível na mesa da redação - uma bolacha velha é dia de sorte -, o telefone toca. A assessora de imprensa do evento Semana Mesa SP convida o Terra para acompanhar o jantar que foi especialmente preparado para 20 chefs franceses...

Nesta quarta-feira, já no final do dia, quando o estômago já começa a se pronunciar de fome e os olhos procuram por alguma coisa comestível na mesa da redação - uma bolacha velha é dia de sorte -, o telefone toca. A assessora de imprensa do evento Semana Mesa SP convida o Terra para acompanhar o jantar que foi especialmente preparado para 20 chefs franceses (e seus assistentes) que estão no Brasil. Oui, vamos nessa.



O restaurante escolhido foi o Tordesilhas, em São Paulo, comandado pela chef Mara Salles, que montou um espetáculo de quatro horas. Vimos os franceses virarem crianças curiosas, cheirando, tocando, perguntando e descobrindo os sabores do Brasil.

A primeira surpresa foi o tacacá, um caldo a base do jambu, verdura amazônica que os franceses classificaram como "perturbador". Espesso, o caldo continha algumas folhas e o miolo da flor de jambu, onde estava o segredo. Mordendo o miolo, a sensação era de muitos e delicados explosivos na boca, que a deixou dormente. "Me sinto o Ronaldinho, na fase jovem!", "A língua é um elemento muito importante, por meio segundo pensei 'e agora?'", "Vou ficar bem?", perguntavam chocados com o efeito. Enquanto isso, um deles, segundo soube pela chef Mara Salles, colocou um miolo no bolso, e outro "pediu enlouquecidamente o contato de quem me fornece o jambu".

A sensação de dormência acabou em alguns minutos, o tempo certo de servirem a tradicional caipirinha, feita com cachaça Espírito de Minas e limão. Na mesa, bolinho de mandioca e torresmo, além de vários potinhos com diferentes tipos de pimenta que eles cheiravam, experimentavam e passavam uns aos outros, como se fosse uma descoberta secreta. Logo os copos estavam vazios. Foram servidas taças do espumante Cave Geisse Nature Terroir, produzido no Rio Grande do Sul.

Nessa altura não tinha mais ninguém na mesa. Curiosos, uns foram para a cozinha enquanto outro grupo foi fisgado por uma cesta de frutas decorativa que estava na entrada do restaurante. Uma funcionária do Tordesilhas explicava num português sorridente o que era uma fruta que acharam estranha, a graviola. Atentos e trocando comentários entre si, duas das maiores estrelas da noite: Philippe Gobet, chef e diretor do instituto Lenôtre em Paris, e Christophe Michalak, o premiado chef pâtisserie do Plaza Athénée, em Paris. Inacreditavelmente, eles pareciam entender o que provariam mais tarde.

O que os atraiu de volta à mesa foram as porções individuais de abobrinha brasileira marinada que estavam sendo servidas. Os chefs pegavam as finas rodelas, levavam ao nariz, tocavam na comida como crianças interagindo com o desconhecido.

Entre um prato e outro, uma espera de meia hora fez um dos chefs comentar: "Legal que ela está explicando tudo, mas não deveria estar lá na cozinha?". Gentilmente, Michalak lembrou que "a cozinha francesa é quase militar, nos chamamos pelo cargo, não pelo nome. Existe muita ordem".

Justificando a demora, foi servido outro típico prato brasileiro: caruru com dois camarões e farofa.

Depois de uma nova e longa pausa, Mara chamou a atenção de todos para o fundo do restaurante, especialmente para uma panela de barro com a tampa vedada com farinha de mandioca. "Este prato que vou apresentar agora é um prato típico do sul do país, de cultura açoriana. Aqui, ele foi feito no fogo, mas o tradicional é enterrar a panela vedada e deixar que ela cozinhe na temperatura da terra por 14 horas. Dentro vai carne bovina (cochão mole) e cebolinha. É feito pelas mulheres no carnaval, pois elas podem preparar o prato e ir pra festa", disse Mara, com o auxílio de um tradutor. "Vamos abrir!" foi o coro geral.

Para abrir a panela, Mara improvisou um "dig dun" carnavalesco que foi timidamente acompanhado pelos chefs. Quando a tampa foi retirada, todos se inclinaram e repetiram o gesto que ficou famoso na animação do rato que queria ser chef de cozinha, Ratatouille.

Cada um se serviu, num prato que tinha fundo de farinha de mandioca e finalizaram com uma banana assada, cortada em lascas. Harmonizando o prato foi servido um o vinho Merlot Salton Desejo 2006, também produzido no Rio Grande do Sul.

De acordo com o tradutor, na mesa falavam entre si como críticos: "Eu teria feito deste jeito...", "esse ingrediente não combina com esse", "toda vez que serve esse prato ela faz isso?", "todos dividiram o mesmo prato, é uma cozinha generosa", "é um prato de avó".

Após o que foi considerado "o prato de assinatura da chef", chegaram ao mesmo tempo dois tipos de sobremesa: graviola com merengue de jatobá e sementes de cacau, e a cocada de tabuleiro com sorvete de tapioca. Outro grande momento, principalmente para Jerome de Oliveira, assistente de Christopher e atual campeão do mundo de pâtisserie. Para ele, a graviola foi a grande descoberta: "Fresca e natural, uma textura consistente e um sabor autêntico, exótico e agradável que eu não conhecia". Para ele, o grande triunfo da segunda sobremesa, foi a montagem e combinação de sabores: "Consigo experimentar todos os sabores numa colherada só". Com apenas 24 anos e o peso de melhor chef pâtisserie do mundo, Jerome decidiu permanecer ao lado do chef Christophe, como assistente, no Plaza Athénée. Entre um gole e outro da cachaça Santa Terezinha, servida depois da refeição, reconhece que foi um ato de gratidão ao mestre. E lembra de um ditado francês: "Você sabe o que perde, mas não sabe o que vai encontrar".

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