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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

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Ambientalista traça cinco séculos de exploração da Amazônia

Foto: Jorge Araújo-29.out.09/Folha Imagem

Ambientalista traça cinco séculos de exploração da Amazônia
Não há nada melhor que ser explorador de poltrona, especialmente quando se trata da Amazônia. Não ter de enfrentar aquele calor insuportável, o risco de leishmaniose, de malária ou de febre amarela.


Chuva o tempo todo; "floresta pluvial", é como se diz em inglês. Mosquitos e aranhas e cobras e uma quantidade inesgotável de besouros. Onças. Piranhas e jacarés. E, tempos atrás, índios com variados graus de atitudes violentas em relação a exploradores.

Sentar-se na poltrona com o livro "Grandes Expedições à Amazônia Brasileira 1500-1930", de João Meirelles Filho, deixa você arrepiado quando começa a pensar nos riscos que os europeus e seus descendentes passaram nos cinco séculos de exploração da região. Mas obviamente o principal objeto da obra não é assustar os exploradores de poltrona. Trata-se de, através da descrição de 42 viagens de exploração, montar um representativo painel da história dessa região.

A lista de exploradores inclui um pouco de tudo. Há navegadores, militares, jesuítas, pastores protestantes, artistas, naturalistas, plebeus e aristocratas --e até um ex-presidente americano. Espanhóis, portugueses, luso-brasileiros, franceses, alemães, austríacos, britânicos, russos; parece que cada pedaço da Europa em dado momento esteve bisbilhotando a maior floresta tropical do planeta e seu rio mais caudaloso.

O autor é um ambientalista paulista, atualmente radicado em Belém. O que impressiona no livro é a variedade da pesquisa que ele teve de fazer para produzir os relatos. Não é o mero caso de "quantidade" na bibliografia; para narrar viagens de pessoas tão diferentes foi necessário consultar obras em praticamente todo o campo do conhecimento humano.

É preciso entender a geografia do rio e da floresta, a história da colonização, a arqueologia, a etnografia, a zoologia e a botânica da maior biodiversidade do planeta. Meirelles Filho teve de ir atrás de obras bem diversas para explicar as 42 expedições.

Mas o que impressiona ainda mais é descobrir que essa é apenas a ponta do iceberg -ou, em uma comparação mais adequada, apenas a copa da árvore. No final do livro, há uma "breve lista de 567 viagens à Amazônia continental" entre 1500 e 1930!

O autor é de um didatismo louvável ao descrever cada viagem, ou cada série de viagens. Ele sempre mostra o "contexto" da exploração, assim como descreve quem era seu líder; diz qual foi o percurso e cita quais obras constituem narrativas da expedição; e termina, corajosamente, dando sua interpretação sobre quais foram as "principais contribuições".

De um autor ambientalista e que trabalha na criação de projetos de sustentabilidade na Amazônia, seria de se esperar que abusasse do politicamente correto. Este "pré-conceito" não é válido, felizmente. Meirelles Filho tem interpretações sensatas de fenômenos, como o bandeirismo, que costumam provocar polêmica e dividem as opiniões --os bandeirantes ou eram heróis que alargaram as fronteiras da pátria, ou eram bárbaros matadores de índios. Ele obviamente deplora a devastação causada pelos europeus, mas explica o ocorrido sem anacronismos.

Por exemplo, quando fala das contribuições da bandeira de Raposo Tavares, ele primeiro lembra que a primeira delas foi alargar o território português na América. "Destarte, importa avaliar adequadamente o legado de um Raposo Tavares ou de um André Fernandes, que não deixam de constituir-se em bandos de mercenários, que, no entanto, servirão ao propósito da coroa portuguesa de expansão e domínio territorial assim como os piratas-espiões ingleses, como Walter Raleigh, o fizeram nos albores da colonização da América", escreveu.

Rondon e Roosevelt

Há gente bem menos polêmica. Um deles é Cândido Mariano da Silva Rondon, o único brasileiro homenageado no nome de um Estado, Rondônia. O marechal Rondon fez tantas viagens à Amazônia e a Mato Grosso que o autor não teria como descrever todas, mas sim os "ciclos" de expedições. Em uma delas acompanhou o ex-presidente americano Theodore Roosevelt, cujo nome foi dado por Rondon ao então "rio da Dúvida", pois era pouco conhecido. Defensor dos índios e construtor de linhas telegráficas, foi um dos que mais fizeram para iniciar a integração da região amazônica ao país.

Rondon merece admiração por procurar trabalhar para melhorar a vida de índios e ribeirinhos. Não fosse por essa dedicação, "creio que não me teria entregue, de corpo e alma, à ingente luta para vencer o cansaço de longuíssimas viagens a pé, a cavalo, em canoa, debaixo de aguaceiros diluvianos", declarou o marechal, que também fala de estar "mal alimentado e, às vezes, sem alimento, com sede, tremendo de frio e de febre, a palmilhar léguas e léguas, carregando minha bagagem, dormindo mal, ao relento e às intempéries. E pior do que tudo isso, sofrendo a ausência do lar".

Realmente, nada melhor que ser explorador de poltrona.
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