A oposição conseguiu aprovar nesta quarta-feira requerimento que convida os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Edison Lobão (Minas e Energia) para explicar as causas do apagão na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, mas estende o convite a um representante de uma entidade esotérica para falar do blecaute. A audiência, que ainda não tem data para acontecer, vai reunir os ministros, o representante da entidade esotérica Cobra Coral e outros 18 técnicos do setor elétrico.

A oposição pediu a presença do representante da Fundação Cobra Coral na audiência porque ficou irritada com o fato dos governistas incluírem 18 técnicos do setor para debater o blecaute.

"Dizem que foi raio, que foi tempestade. Ninguém sabe. Já que ninguém sabe, vamos chamar a fundação para dar uma opinião de vidência já que a ciência e a administração pública não respondem às nossas dúvidas", ironizou o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).

Com a audiência conjunta com os técnicos, os governistas têm como objetivo "blindar" Dilma e Lobão para evitar que sejam bombardeados pela oposição com perguntas sobre o apagão. Os dois ministros podem recusar o convite, já que outros 18 representantes do setor elétrico estarão presentes. Outra estratégia dos governistas também é permitir que Dilma e Lobão compareçam, mas terão as atenções divididas com os 18 técnicos o que dificulta o trabalho da oposição.

Senadores do governo e da oposição partiram para o enfrentamento durante a reunião da Comissão de Ciência e Tecnologia depois que o senador Roberto Cavalcantti (PRB-PB) tentou estender o convite aos ministros para os técnicos. As comissões de Infraestrutura e de Assuntos Econômicos do Senado também já aprovaram audiência que pedem que a ministra seja convidada para tratar do apagão ao lado de Lobão e dos 18 técnicos.

A participação do "vidente" foi a maneira encontrada pela oposição para protestar contra a audiência conjunta. O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), presidente da comissão, considerou o requerimento incluindo a participação da Fundação Cobra Coral como aprovado mas os governistas reagiram.

O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) e o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) reagiram e disseram que o documento não foi votado. Os governistas pediram para ouvir o áudio da reunião, o que interrompeu a sessão. À tarde, a comissão considerou como válida a aprovação do pedido de audiência, com a participação do "vidente".

Cavalcanti prometeu, na semana que vem, apresentar outro requerimento para retirar da audiência a participação do representante da Fundação Cobra Coral.

Na opinião de Raupp, o embate político em torno do apagão está prejudicando a credibilidade do Congresso. "O Senado está perdendo o bom senso. Não faz sentido discutir esse problema em todas as comissões. O Senado não pode se prestar a esse papel", disse.

Fundação

Em seu site na internet, a Fundação Cacique Cobra Coral se apresenta como uma entidade criada para "intervir nos desequilíbrios provocados pelo homem na natureza". No site, a fundação diz ter uma médium que incorpora o "espírito e mentor Cacique Cobra Coral" que já teria sido de Galileu Galilei e Abraham Lincoln.

A fundação já firmou, no passado, convênio com a prefeitura do Rio de Janeiro para monitorar a meteorologia em meio a enchentes que atingiram o Estado nos últimos anos.