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Terça-feira, 16 de julho de 2024

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Maiores clássicos do planeta têm peculiaridades em divisões

Após a polêmica no último São Paulo x Corinthians, realizado no último dia 15 de fevereiro, no Estádio do Morumbi, reportagem do Terra fez um levantamento de como é a divisão dos estádios em dez dos maiores clássicos do planeta.


Celtic x Rangers, Escócia
Nenhuma rivalidade no mundo parece conseguir superar a que existe entre Celtic e Rangers. Para especialistas, trata-se da mãe de todas as rivalidades. A polarização encontra explicação em motivos religiosos. Enquanto a torcida do Celtic é majoritariamente de imigrantes irlandeses católicos, os fãs dos Rangers têm raízes protestantes da monarquia inglesa. E quando a discussão coloca futebol e religião na mesa, ela passa a ser quase incontrolável. Por isso, em dias de clássico, a cidade fica em estado de alerta e os encontros têm apenas uma torcida, segundo o ex-meio-campista Juninho Paulista, que atuou por oito meses no futebol escocês. "É uma rivalidade que ultrapassa o esporte. Os torcedores encaram esse jogo como possibilidade de ¿tirar satisfação¿ em nome da religião", diz.

Perguntado se existe alguma coisa parecida no Brasil, Juninho, que já defendeu os rivais São Paulo e Palmeiras, além do Flamengo, encontra algum paralelo em uma rivalidade interiorana. "Guarani e Ponte Preta é mais ou menos assim, sem o peso da divisão religiosa. Lá, tem torcedor que nem passa na avenida do estádio rival", diz Juninho, que conhece bem a cidade porque passou algum tempo em Campinas durante o período de recuperação de uma lesão.

Boca Juniors x River Plate, Argentina
Principal clássico argentino, o dérbi de Buenos Aires tem na divisão de ingressos uma particularidade. Com um grande quadro de associados, o Boca Juniors reserva, dos quase 58 mil lugares de La Bombonera, um espaço de apenas 5 mil cadeiras para o visitante ¿ menos de 10% portanto. E a recíproca vale para quem joga contra o Boca - os rivais deixam para os xenenses não mais do que 5 mil ingressos.

O atacante Iarley, campeão argentino e mundial pelo Boca Juniors em 2003, conhece bem o duelo. "Foi o maior clássico que já vi, é algo muito forte, tanto para torcida como para jogadores e imprensa. A semana que antecede a partida muda, é como se fosse o mundo acabar ali", diz o jogador, agora no Goiás.

Mas, em 2004, Iarley viveu no Campeonato Argentino a experiência de jogar no Monumental de Nuñez com apenas torcedores do River. "Foi muito estranho. Não acho legal ter apenas uma torcida. Tem que conscientizar o torcedor, preparar mais a polícia. Se na Europa dá certo, porque não daria fora também?", questiona.

Boca e River detêm também uma triste marca: em 1966, uma briga entre as duas torcidas deixou 74 mortos e 113 feridos.

Olympiacos x Panathinaikos, Grécia
Os dois gigantes do futebol grego dividem as paixões na cidade de Atenas no futebol e no basquete. No estádio, entra apenas uma das torcidas. A rivalidade tem raízes sociais e históricas. Os torcedores do Olympiacos eram representados pela classe trabalhadora, enquanto os fãs do Panathinaikos eram do subúrbio da capital.

O atacante Diogo, principal destaque da Portuguesa nos últimos anos e que se transferiu em 2008 para o Olympiacos, comenta a rivalidade. "Quando cheguei, ouvi que se marcasse gol contra o Panathinaikos eu não precisaria marcar contra mais ninguém", diz.

A sonoridade e a força dos gritos de guerra gregos inspiram até mesmo as torcidas brasileiras. Um deles, o "Horto Magiko", recebeu versões dos fanáticos de Atlético-PR, Fluminense e da própria Portuguesa.

Fenerbahce x Galatasaray, Turquia
Os dois times ficam na cidade mais populosa do país, Istambul. Mas divididos pelo estreito de Bósforo: o Galatasaray fica do lado europeu; o Fenerbahce, na parte asiática. Uma rivalidade ilustrada geograficamente.

"Na Turquia, como em muitos países da Europa, são dados 5% aos torcedores do time oponente, que é o que determina o regulamento da Uefa. Então, na casa do Galatasaray, os visitantes têm 1.150 ingressos. No estádio do Fenerbahce, 2.250", diz o assessor de imprensa do Galatasaray, Yako Igual.

O zagueiro Edu Dracena, campeão brasileiro com o Cruzeiro em 2003, diz que o clássico turco é incomparável com os do Brasil. "Não envolve apenas a cidade, mas todo o país, o fanatismo é imenso. Tenho como base o jogo entre Cruzeiro e Atlético-MG, e nunca tinha visto nada igual ao daqui", afirma o defensor.

Mas parece que, por lá, as palavras rivalidade e inimizade não são mais facilmente confundidas. A violência, disse Deacena, é passado na Turquia. Segundo ele, a população e o governo turco se conscientizaram sobre a necessidade de segurança no futebol. "As leis passaram a ser bem rígidas: se for pego, o torcedor é punido, assim como o clube pelo qual ele torce", diz.

O meia e compatriota Lincoln, do Galatasaray, faz eco. "Quando há confronto, o policiamento é super-reforçado. No ano passado, no nosso estádio, a média foi de um policial para cada cinco torcedores. Se formos considerar o número total de policiais dentro e ao redor do estádio, ele supera a quantidade de torcedores rivais".

Olympique de Lyon x Saint-Étienne, França
Nem uma hora de carro separa as duas cidades. Segundo a intérprete do Lyon, Isabele Dias, trata-se de um clássico de muita rivalidade, mas sem quebra-quebra. "Não há violência física, é mais na base da provocação, das palavras", afirma a portuguesa, responsável por facilitar a comunicação dos brasileiros do time.

"Aqui na França, a placa do carro indica sua cidade. No caso de Lyon, ela tem o número 69. Em Saint-Étienne é 42. Na chegada ao estádio, os torcedores ficam batendo em cima dos carros da cidade rival. A gente sente que é perigoso, mas é o máximo que acontece", explica Isabele.

Só que, para controlar o torcedor, medidas preventivas são tomadas. Há dois anos, ela foi ao clássico com o primo do atacante Fred. No final da partida, ainda comemorando o triunfo do Lyon, foi empurrada por um torcedor do Saint-Étienne. "Estranhei essa reação. Na chegada, os seguranças também te fazem tirar a camisa, o cachecol do Lyon. Eles pedem para pôr na bolsa", conclui.

"A paixão do torcedor é fascinante e nos motiva ainda mais, pois não tem nada melhor que vencer um clássico e sair pelas ruas da cidade e receber o carinho dos nossos fãs", diz o meio-campista Ederson, também do Lyon. "Vencer um jogo desse nível é algo que 'lava a alma' de toda a torcida".

Barcelona x Real Madrid, Espanha
O sistema de venda de ingressos na Espanha prioriza os sócios. O bilhete fica disponível ao "torcedor público", como informa o site do Barcelona, só a partir do momento em que é declarada a não intenção de compra antecipada. Do que sobra, uma pequena porcentagem é destinada ao torcedor do time adversário.

A rivalidade tem explicação histórica e social. O clube de Madri, do Santiago Bernabéu, é considerado da realeza espanhola. Já o Barcelona representa o povo e a cultura catalã. Mas talvez esse seja o clássico com menos registros de violência entre os relacionados aqui. Muito porque os dois times estão separados por uma distância de 600 quilômetros, o que inibe o confronto físico.

"É um grande jogo, uma rivalidade que você sente muito antes de entrar em campo. Mas isso mexe com você até o começo da partida. Dentro de campo, é tudo a mesma coisa", diz Daniel Alves, lateral-direito brasileiro, que fez sucesso no Sevilla antes de assinar com o Barcelona, em 2008.

Milan x Inter de Milão, Itália
Os dois times de Milão não têm casa própria e dividem o principal estádio italiano. A peculiaridade está no nome transitório da estrutura. Quando o Milan é mandante, o estádio é chamado de San Siro, distrito em que fica localizado. Em jogos cujo mando de campo pertence a Inter, é denominado Giuseppe Meazza.

Por se tratar de um clássico local, o jogo tem regras atípicas para a divisão de ingressos entre as torcidas - que, de forma geral, reserva somente 5% para o visitante. Mas no caso de Inter e Milan, o mandante fica com cerca de 60% das entradas e o restante é disponibilizado à torcida da equipe adversária.

Outra curiosidade é que as lojas oficiais dos dois clubes estão lado a lado no local, e abrem inclusive durante os jogos. O clima é de paz e tolerância. Uma pequena lição de desenvolvimento.

Schalke 04 x Borussia Dortmund, Alemanha
"É o pior e mais perigoso jogo da Alemanha". Assim o lateral-direito Rafinha, do Schalke 04, resume o clássico. "Sempre há confusão e empurra-empurra fora do estádio, mas não como no Brasil", diz o jogador, ao lembrar que dentro do estádio a torcida rival recebe apenas uma pequena proporção dos ingressos, que beira os 5%.

Mas, sobre provocações verbais antes do jogo, existe uma regra. "Somos vacinados. Não falamos nada. Nossa resposta é dentro de campo".

Quando perguntamos sobre o tipo de violência que recentemente testemunhamos entre São Paulo e Corinthians, Rafinha mostra que já vive em outra realidade: "é difícil ver esse tipo de coisa aqui. É abominável, isso dá prisão. Aqui, uma briga no estádio, agressão, é como se tivesse matado uma pessoa. O clima fica do mesmo jeito".

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