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Domingo, 05 de maio de 2024

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Rei das poltronas vira noites por causa de "Avatar"

Quem vai ao escritório de Francisco Severino da Silva, 51, de uma coisa não pode se queixar: da falta de conforto.


Grandes cadeiras reclináveis, com encosto para a cabeça e largos apoios para o braço oferecem-se ao visitante. Quase todas são vermelhas. E têm porta-copos. Os pôsteres de "Rambo IV" e "Uma Noite no Museu" arrematam o ambiente.

Em poucos minutos, descobre-se que há cadeiras como aquelas espalhadas por todo o Brasil. Em salas de cinema, é claro. "A primeira poltrona que fabriquei foi para um cinema em Porto Velho, Rondônia." Hoje, tem mais de 65% do mercado. "É mais fácil falar para quem eu não trabalhei do que para quem trabalhei", diz. Todas as redes nacionais, como Unibanco, Cinesystem, Playarte, Araújo, Roxy, compram suas poltronas. Com o Cinemark, ainda não fechou negócio, mas já foi chamado a Dallas para uma reunião.

Efeito 'Avatar'

De feitio discreto, Silva pensou duas vezes antes de receber a Folha. Disse estar apurado. E a semana passada foi, de fato, caótica. "Até sexta-feira, temos 18 salas para montar por causa do 'Avatar'. É uma loucura. Tenho gente em Santos, Praia Grande, Catanduva, Ilha do Governador e Itu", contabilizou, na terça-feira.

"É sempre uma agitação quando chega perto da inauguração", diz. "Nosso lema é não fazer nada errado e não atrasar. Mas não adianta ficar nervoso. Isso eu aprendi na vida."

Nascido em Belo Jardim, a 80 quilômetros de Recife, Silva resolveu tentar a sorte em São Paulo em 1972. Tinha 14 anos e veio sozinho, de caminhão. Levou oito dias. Ao chegar, hospedou-se na casa da irmã, numa travessa da avenida Sapopemba. Nesta mesma rua, fica o sobrado onde tem o escritório.

Conseguiu o primeiro emprego na feira, com um carrinho de rolimã. Depois, trabalhou numa fábrica de bijuterias e numa metalúrgica, onde fazia torneiras. "De nada disso eu gostei", confessa. Apareceu, por fim, uma vaga numa indústria que fabricava cadeiras para cinema. E, enfim, a vida que idealizou para si começou a tomar forma. "Foi uma época muito boa. Saí montando poltrona pelo Brasil todo."

Em 1979, achou que era hora de ter um negócio próprio. De início, apenas reformava sofás e cadeiras, mas, em 1985, arriscou outra curva no caminho e passou a fabricar poltronas para cinema. "No começo foi difícil. Até o cliente acreditar em você, leva um tempo", diz. Hoje, não há dono de cinema que não conheça o "Chiquinho da Santa Clara."

Das poltronas, partiu para carpete, cortinas, iluminação, porta-copos e até projetores. "Se me entregarem o prédio, deixo o cinema pronto", garante. Ele tem também sete salas em cidades do interior e uma participação em empreendimentos maiores, como o do Shopping Bourbon, fruto dos equipamentos fornecidos. Quando para um segundo a refletir sobre o que fez da vida, Silva esboça um leve sorriso. "Às vezes, a gente pensa que tem alguma força. Mas nunca sabe a força que tem", diz, num raro momento em que larga a objetividade. "Como muitos brasileiros, saí de uma família pobre e queria fazer alguma coisa que desse certo."

Seu filme predileto é "Dois Filhos de Francisco". Seu hobby é jogar bocha. Seu maior prazer? "Ah, é montar um cinema e ver prontinho, funcionando. Não tem nada como entrar e ver a sala lotada, todo mundo ali sentado."
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