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Segunda-feira, 13 de maio de 2024

Notícias | Economia

Mercado europeu de ilustrações resiste à crise econômica

Há uma década, o galerista Daniel Maghen vendia por ano cerca de 200 ilustrações originais. Agora, vende 2.000 desenhos em sua galeria de Paris no mesmo período, prova de vitalidade de um setor que desconhece a crise econômica.


"Este ano não foi tão bom quanto o anterior, mas não podemos falar de crise", afirmou Maghen à Lusa, na galeria e editora que tem o seu nome, no centro da capital francesa. "Se fizermos uma exposição de um autor consagrado, vende-se tudo em dois dias."

O mercado de ilustrações e histórias em quadrinhos (HQ) na França "movimenta talvez uns 30 a 40 milhões de euros em transações anuais", de acordo com estimativa de Maghen. "É bom, mas não são números vertiginosos", ressalva o galerista.

"Descobrimos recentemente que o desenhista de HQ também é um artista. Os ilustradores têm carteira profissional há mais de vinte anos na França. Mas, ainda há cinco ou seis anos, não eram tão conhecidos como hoje", nota Francis Slomka, que há dois anos abriu a galeria-museu que leva seu nome.

"Antes havia colecionadores, mas era uma coisa confidencial. O mercado evoluiu enormemente e, de há cinco anos para cá, notou-se um aumento de preços a cifras incríveis", constata o galerista Jean-Baptiste Barbier, da BDArtist(e).

"Há uma geração de 35-40 anos que cresceu com a HQ, que não lê às escondidas e para quem a BD é como o cinema ou a literatura clássica", diz Barbier.

O galerista da BDArtist(e) acrescenta que "esta geração já tem idade para trabalhar e ganhar dinheiro e poder comprar originais. Tem prazer nisso. E há também o aspecto do poder evocativo, tipo "madalena de Proust": comprar um original de uma HQ que se leu em criança e que desencadeia pequenas paixões".

Novos clientes

Maghen, que reclama ter "criado uma clientela que não existia", relaciona a vitalidade do mercado com uma questão "geracional".

"Eu tenho 39 anos. A minha clientela tem entre 25 e 55 anos, sobretudo. Os clientes que, há 15 anos, não podiam comprar originais, agora ganham um pouco de dinheiro e podem oferecer-se o prazer de comprar uma prancha de que gostam", afirma Maghen.

"É o dinheiro que é o motor, desde que se percebeu que isto tinha valor comercial", segundo Francis Slomka, que cita um "movimento internacional" que abrange Genebra, Bruxelas, Nova York e Tóquio.

Um sinal óbvio do valor dos originais é a porta dupla de alta segurança da galeria Slomka, com circuito de vigilância, "como numa joalharia, porque as seguradoras fazem certas exigências para cobrir as peças que temos expostas", diz o galerista.

Um original pode atingir 15, 20 mil euros ou mais. "É muito, mas não é grande coisa em relação aos mestres de arte tout-court", constata.

"Os maiores artistas figurativos atuais estão na HQ. A maior parte da arte contemporânea é abstracta e a BD é o último refúgio para os artistas figurativos", acrescenta Maghen.

"Os grandes mestres do desenho estão hoje na HQ ou na ilustração. São os dignos descendentes de Miguel Ângelo e de Da Vinci, dos grandes mestres. É apenas uma questão de justiça que se pague esses preços pelos originais, se Jeff Koons faz milhões de euros" com as suas obras, salienta.

A expansão do mercado também se apoia na renovação da clientela, segundo Maghen, porque uma nova geração de apaixonados de BD sucedeu à geração que, como ele, cresceu com Enki Bilal, Hugo Pratt, Tardi, François Bourgeon ou Moebius.

Estes nomes contam-se entre as vedetes do mercado de originais de HQ, onde Hergé, criador de Tintin, é o "deus" incontestado, segundo Francis Slomka.

"Apaixonados da HQ, que pagam um original em seis prestações mensais, e uma categoria sócio-profissional de médicos, advogados e quadros superiores que alimenta o crescimento do mercado", resume Jean-Baptiste Barbier.

O risco, segundo este galerista, "é chegarmos a um momento de saturação. Só este ano, realizaram-se trinta vendas especializadas de HQ em França e na Bélgica. É preciso ter atenção a que a carteira dos clientes não é elástica".
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