Quem vê as fotos dos rios de Brasil Novo, no Pará, não imagina que aqueles pequenos cursos d’água já foram igarapés da floresta amazônica. O desmatamento, somado à criação de gado, está fazendo com que a areia ocupe o leito dos rios, tornando-os rasos e sem vida.
Quem trouxe essa notícia para o Globo Amazônia foi a leitora Agda Magali, moradora de Brasil Novo. Mas junto com o problema a internauta também mostrou o começo da solução: um grupo formado por dois professores e dois alunos de uma escola pública da cidade está tentando convencer os criadores de gado a replantar as florestas na beira dos rios – a chamada mata ciliar.
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"Fazemos esse trabalho há dois anos. Primeiro levantamos o problema em sala de aula. Depois fomos para o campo e estudamos o que estava ocorrendo com dois igarapés”, conta o geógrafo Daimon Aranha, um dos professores responsáveis pelo projeto.
Depois de fazer o diagnóstico dos rios, o grupo percebeu que havia duas saídas: plantar novas árvores, protegendo as margens dos igarapés, ou cercar as áreas e deixar que a vegetação se recompusesse sozinha. “Há lugares que está tão assoreado [cheio de areia] que o processo natural vai demorar muito”, alerta aranha.
Além de mostrar o trabalho para em escolas, ensinando crianças e adolescentes a conservar os igarapés, o grupo também já apresentou o trabalho em duas feiras de ciências, e o sucesso foi tão grande que eles receberam um convite para mostrar o projeto na Tunísia, África, na feira internacional Milset.
Secos e sem peixes
Além de diminuir a quantidade de água, a areia no leito dos rios também impede que peixes maiores possam viver. “O assoreamento reduz as espécies de peixe, em alguns casos quase a zero. Além disso, quando o rio está exposto, o processo de evaporação é muito grande. Na época do período seco, os rios já secam. Estamos vivendo uma situação complicada”, revela Aranha.
Segundo o professor, a principal atividade econômica da região é a pecuária, que foi instalada sem cuidado com os rios. “Quando houve a colonização, o governo orientava que a pessoa teria que desmatar 50%. O que aconteceu é que essas pessoas não foram orientadas a manter a margem dos rios”, conta.
Para Aranha, é possível fazer com que a criação de gado em Brasil Novo conviva pacificamente com a natureza, mas é necessário tomar alguns cuidados. “Não somos contra a pecuária. Queremos que as duas coisas sejam feitas ao mesmo tempo, com sucesso.”