Enquanto o setor de saúde agoniza em Mato Grosso e clama pela ampliação da rede de atendimento, o Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM) corre o risco de fechar as portas, já tendo encerrado em sua totalidade o funcionamento dos prontos-atendimentos adulto e pediátrico nos primeiros dias do ano. O problema é decorrente da portaria 918 do governo federal que limita o pagamento de plantões em 6.132 horas/mês, sendo que a instituição fazia uso de cerca de 20 mil horas no mesmo período.

Com a brusca diminuição das horas de plantão, a unidade de saúde viu-se forçada a cessar ou diminuir o atendimento em alguns setores. Quatro leitos na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal, dois leitos na UTI Adulto, uma sala de cirurgia eletiva e pequenas cirurgias no período matutino também deixaram de funcionar.

As unidades de internação Clínica Médica e Pediátrica já reduziram sua capacidade em 30%. A previsão da direção do hospital é um comprometimento cada vez maior dos serviços a cada dia que passa. “A partir de 19 de janeiro, se ainda não tiver solução, entramos em uma rota muito crítica”, anuncia Olga Takano, diretora do HUJM.

A dependência do hospital dos recursos destinados ao pagamento das horas de plantão é resultado da maneira como a instituição funciona desde sua fundação, em junho de 1984. Apenas um grande concurso foi realizado quando da abertura do hospital. Com o passar dos anos, a unidade foi crescendo, ampliando os serviços e expandindo o corpo técnico, tudo sem a realização de nenhum outro concurso, mas utilizando o pagamento de plantões.
 
“Um concurso público poderia ser uma boa solução, mas não temos autonomia pra realizar um. Não recebemos nem vagas, nem recursos para terceirizar”, ressalta Francisco Souto, vice-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Como a diminuição das horas é uma ferramenta legítima do governo federal, o HUJM tenta mostrar os prejuízos que a sociedade mato-grossense sofrerá caso a situação não seja revertida e comprometa a atuação do hospital.

As entidades médicas do Estado, como Conselho Regional de Medicina, Associação Médica do Estado e Academia Mato-grossense de Medicina reuniram-se com a administração superior da UFMT na tarde desta segunda-feira (11) para firmar uma união em prol de procurar uma solução. Eles anunciaram que estão reunindo documentos e informações para ingressar com ação no Ministério Público Federal (MPF), na tentativa de reverter a perda dos recursos de plantão.

O Hospital

Por mês, o HUJM realiza em média 30 mil atendimentos ambulatoriais e de pronto-atendimento; 130 cirurgias; 320 pequenas cirurgias; mais de 60 partos de gestantes de alto risco; mais de 800 exames de imagem; mais de 20 mil exames laboratoriais e diversos outros procedimentos de alta complexidade. O Júlio Muller é o único hospital federal em Mato Grosso.